SÃO PAULO, SP, 17 de abril (Folhapress) – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, negou hoje que o país tenha forças no leste da Ucrânia e condenou o uso da força pelas autoridades do vizinho para reprimir os movimentos separatistas que afetam três Províncias.

O líder russo chamou de “bobagem” as acusações ucranianas, dos Estados Unidos e da União Europeia sobre a participação de militares e espiões russos na revolta no vizinho. “São todos gente do lugar. E a melhor prova do fato é que, literalmente, as pessoas estão com a cara descoberta.”

Durante o programa “Linha Direta”, em que responde a perguntas da população, Putin classificou como um “grave crime” o uso da força contra os militantes pró-Rússia, na Província de Donetsk. “Enviaram tanques e aviação contra a população civil. Isto é outro grave crime dos que hoje governam em Kiev.”

Na última terça foram retomados um aeroporto em Kramatorsk e uma pista de pouso em Slaviansk, com informações da imprensa local de que houve um confronto entre militares e milicianos que deixou pelo menos quatro mortos.

Mais cedo, outros três manifestantes foram mortos por forças ucranianas em Mariupol, na mesma Província. Para Putin, as autoridades de Kiev redobraram suas ameaças ao leste do país, “ao invés de tomar consciência de que “algo anda mal no Estado ucraniano e de tentar dialogar”.

Ele ainda deu apoio às negociações que começaram nesta quinta sobre a crise ucraniana, com participação de Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Ucrânia. “Espero que consigamos compreender o abismo para o qual se dirige o poder de Kiev e que arrasta com ele o país.”

Crimeia

Na mesma entrevista, Putin admitiu pela primeira vez ter enviado tropas russas à Crimeia durante a consulta pública que determinou a anexação da região autônoma ucraniana à Rússia, em março. Para ele, a anexação foi em parte influenciada pelo avanço da Otan no leste da Europa.

“Nossa decisão sobre a Crimeia foi em parte devido a avaliações de que se nós não fizéssemos nada, em algum momento, guiada pelos mesmos princípios, a Otan vai arrastar a Ucrânia e dizer: ‘Não tem nada a ver com vocês’.”

O líder russo ameaçou Kiev com corte de gás em um mês caso o vizinho não pague as suas dívidas e afirmou ser impossível que a União Europeia pare de comprar o combustível de seu país. “De 30% a 35% das fontes de gás de alguns países europeus vêm da Rússia. Eles podem parar de comprar o gás russo? Impossível.”

No final, ele ainda respondeu uma pergunta sobre espionagem de Edward Snowden, ex-prestador de serviços da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos. “Não temos nenhum programa de espionagem em massa como os americanos”, disse.