O PT perdeu a paciência com o deputado federal paranaense André Vargas e decidiu ontem abrir processo contra ele na comissão de ética, ameaçando expulsá-lo do partido. A cúpula da legenda ficou irritada com a indecisão de Vargas, que no início da semana chegou a anunciar que renunciaria ao mandato e depois voltou atrás. A direção da sigla teme o prejuízo que as denúncias de envolvimento dele com o doleiro Alberto Youssef – preso por lavagem de dinheiro – possa causar às campanhas de reeleição da presidente Dilma Roussef e da pré-candidata petista ao governo do Paraná, Gleisi Hoffmann, e decidiu endurecer o discurso contra o parlamentar.

Ontem, o grupo composto por três integrantes do partido que ouviu as alegações de Vargasrecomendou à Executiva do partido o envio do caso à comissão de ética da sigla. A recomendação foi feita em breve relatório que narra as explicações de Vargas sobre seu envolvimento com o doleiro.

Na terça-feira, o presidente do PT, Rui Falcão, enviará o relatório com a sugestão dos três integrantes – Alberto Cantalice, Florisvaldo de Souza e Carlos Henrique Árabe – aos demais membros da Executiva, que decidirá sobre o encaminhamento à comissão de ética. Na própria terça, Falcão deverá decidir a data em que convocará o próximo encontro do colegiado.

O PT pressiona Vargas a renunciar. Líderes petistas, como o próprio Falcão e o líder do partido na Câmara, deputado Vicentinho (PT/SP), têm defendido publicamente que o deputado paranaense abra mão do mandato para estancar a sangria pública a que o partido tem sido submetido. Acho que ele já deveria ter renunciado, disse Falcão. O dirigente ressalvou que a renúncia é uma decisão pessoal, mas deixou clara a opinião do partido. Seria bom para ele se o fizesse. E agora. Vicentinho foi na mesma linha. Nossa expectativa é que ele renuncie ao mandato. Esperamos isso até para ele não ficar sangrando permanentemente, defendeu.

Ameaça – Vargas chegou a anunciar, no início da semana, que renunciaria ao mandato, mas recuou depois de ser informado de que a renúncia não interromperia o trâmite do processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, que pode culminar com sua cassação. Na quarta-feira, o conselho deve deliberar sobre a admissão do processo contra o petista. Segundo aliados do petista, a tendência é que o deputado permaneça no cargo pelo menos até a próxima sessão do colegiado.

Dirigentes do PT chegaram a sinalizar que, caso renuncie, Vargas evitará o processo contra ele na comissão de ética do partido. Se ele ficar sem mandato, o caso não caberia mais à Executiva Nacional, e poderia ser extinto ou enviado à Londrina (PR), onde Vargas é filiado e onde controla parte do partido.

Vicentinho  afirmou que acredita na criação de uma comissão de ética para avaliar a conduta de Vargas que incomodou o partido. Acho que será criada a comissão de ética. Não é uma condenação prévia, mas é para ouvir e decidir penalidades. Porque de qualquer maneira, mesmo que tenha essa relação de amizade com o doleiro, é doleiro conhecido, teve a passagem de avião, depois essa história das ligações. Tudo isso são fatores que incomodam, disse o parlamentar.

Vargas admitiu ter usadoum jatinho fretado por Youssef – preso pela PF – para uma viagem ao Nordeste em janeiro. Mensagens interceptadas pela polícia revelaram ainda indícios de que ele teria feito lobby junto ao governo em favor de uma empresa fantasma usada pelo doleiro para movimentar US$ 37 milhões.