Pesquisas de diversas partes do mundo têm indicado o o oposto do que os educadores mais conservadores temiam. Ao invés de afastar, a tecnologia tem aproximado crianças, jovens e até adultos da leitura. É, sim, uma nova forma de ler, mas é uma leitura.

O estudo Reading in the Mobile Era, divulgado na semana passada pela Unesco, aponta que pessoas que não têm acesso fácil a livros estão lendo mais utilizando seus celulares. Foram 5.000 pessoas entrevistadas na Etiópia, Gana, Quênia, Nigéria, Paquistão e Índia. Segundo a pesquisa, 62% dos participantes leram mais com os celulares do que por meio de livros físicos.

O estudo foi feito por meio de uma parceria da Unesco com a Worldreader, uma organização global sem fins lucrativos que investe no alcance de livros digitais para países em que a população não possui o hábito de leitura, e a Nokia, empresa de telefonia celular.

Além do aumento considerável de pessoas que adquiriram o hábito de ler, o estudo também mostra que a leitura por meio de celulares é mais agradável e fácil. Alem disso, foi comprovado que os pais possuem o costume de ler livros para os seus filhos utilizando o celular.

Um dos motivos para o aumento do nível de leitura é que as pessoas perceberam a quantidade de possibilidades que o seu telefone oferece. Ao invés de utilizar o aparelho somente para falar com outras pessoas e mandar mensagens, elas podem transformá-lo em uma biblioteca móvel e compacta.

A outra razão para este fenômeno é o preço dos livros físicos em comparação aos digitais. No Zimbábue, por exemplo, o custo de um livro digital é de 5 a 6 centavos, enquanto o de um livro físico é de 13 dólares. Os valores altos dos livros, que antigamente era um impedimento para cultivar o hábito de leitura, atualmente são facilmente contornados pelos baixos preços dos livros digitais.

Um professor em Zimbábue, Charles, disse que ele passou a utilizar o seu celular como fonte primária de leitura por conta da falta de papel no país, que encarece a produção de livros. Ele tem passado essa ideia para os seus alunos que, agora, podem ler facilmente as obras indicadas por ele.

O estudo também mostra que das 7 bilhões de pessoas no mundo, 6 bilhões já têm acesso fácil a um celular. Ou seja: a tendência é que a porcentagem de pessoas que utilizam o aparelho para a realizarem suas leituras só aumente, em todos os continentes do mundo.

A administradora Leila Silva, 40 anos, sempre deixou o celular com o filho Lucas, de 3 anos quando precisava, no carro, na fila do banco e até sentia culpa por isso. Foi quando percebeu que mesmo com apenas 3 anos, o garoto já entendia algumas letrase justamente graças ao celular. Ele aprendeu sozinho por associação as letras ao lidar como celular. São de uma geração diferente, ágil, conta ela.

TABLETS E TELEFONES MELHORAM NOTAS
Outra pesquisa realizada pelo Fundo Nacional de Alfabetização da Inglaterra apontou que crianças que usam tablets e smartphones para ver histórias e ler livros tem um melhor desempenho que aquelas que o fazem apenas na imprensa. O resultado da pesquisa, realizada em parceria com a empresa educacional Pearson, destaca o papel importante da tecnologia na comunicação e linguagem das crianças. Isto ocorre principalmente nos primeiros cinco anos de vida dos pequenos.

De acordo com o relatório, há mais benefícios em interações digitais e impressas do que apenas as impressas. Aqueles que usaram os dois meios para se informar tiveram um desempenho melhor do que aquelas que liam apenas no papel.
A pesquisa, feita com 1.028 pais de jovens entre três e cinco anos. Constatou-se que 75% deles tinham acesso a tablets ou smartphones em casa.

Um quarto das crianças pesquisadas usaram as telas interativas para ler ou olhar para histórias. Já 95% usou histórias impressas em casa para fazer o mesmo. No final do levantamento, todos aqueles que liam tanto nas telas quanto nas mídias impressas apresentou um melhor desempenho que as demais.

Junto a isso, o relatório ainda mostrou que a maioria dos entrevistados gostaria de aumentar o acesso a este tipo de tecnologias em seus lares.


OS QUATRO NÍVEIS DE ENVOLVIMENTO COM A LEITURALARGURA
Você sabia que a leitura não é uma atividade linear em que o leitor somente absorve o conteúdo do livro? Uma boa leitura contém 4 diferentes níveis de envolvimento. Quanto mais você souber lidar com eles, melhor poderá aproveitar o hábito de ler. Essa teoria foi lançada no livro How to Read a Book: the classic guide to intelligent reading, escrito pelos norte-americanos Mortimer J. Adler e Charles Von Doren. O livro foi publicado primeiramente em 1940 e, em 1972, passou por alterações dos próprios autores.

Leitura elementar
Nela, há pouco envolvimento intelectual e emocional. Por isso, geralmente são leituras rápidas e de fácil entendimento, como propagandas e banners. Nessa fase, o leitor é capaz de responder qual é o conteúdo do texto, mas sem se aprofundar mais.

Leitura de inspeção
Nesse patamar, o leitor age como um detetive: lê mais de uma vez, analisa as frases, entende o contexto, etc. A pessoa ainda não está totalmente envolvida com a leitura, mas já de aproxima mais do conteúdo do texto.

Leitura analítica
Neste nível, o leitor já está completamente envolvido com a leitura. Além de conhecer a história, ele entende o que o escritor quer dizer, compreende a estrutura do texto e consegue conectar esse conhecimento com outras informações já conhecidas por ele. Dessa forma, já é possível ter uma opinião formada sobre a leitura.

Leitura sintópica
Nela, o leitor consegue, além de ler o livro, comparar a obra com outras que ele já leu e, com isso, visualizar o assunto por diversos ângulos. Dessa forma, o leitor pode chegar a novas conclusões que, muitas vezes, não se encontram nem nos próprios livros.