A escolha é vasta e abre portas para experiências internacionais, para quem, desde criança, sonha com um mundo melhor e gostaria de conhecer outros horizontes.

A Alliance of European Voluntary Service Organisations oferece campos de trabalho internacional em seu circuito, para quem se dispõe a participar da construção de uma nova escola, promover o direito das crianças, cuidar de patrimônios culturais ou ajudar a limpar rios poluídos e a replantar árvores em florestas devastadas. São múltiplos campos de atuação, no trabalho que representa uma experiência de vida intensa, em contato com povos e realidades diferentes do seu próprio dia-a-dia.

Da África ao Peru, do Japão a Madagascar, em todos os cantos há campos de trabalho, que custam muito pouco e permitem rodar o mundo. Um programa perfeito para jovens receptivos e independentes, de cabeça aberta para os problemas do mundo, na procura de soluções que possam ajudar ao próximo. Viajar e conhecer ao semelhante, aprender um ofício diferente, sentir-se cidadão global, é o objetivo maior.

Fotos: Dayse Regina Ferreira

Ajudar a quem precisa, um universo à espera de voluntários

PROGRAMAS DIFERENCIADOS
Ser aprendiz na agricultura biológica, um programa no Japão, na Maki Farm de Kyodo Gakush, onde o aluno aprende a retirar ervas daninhas nas plantações de arroz, a formar um quintal de verduras, a cuidar de cabras e galinhas. Entre 18 e 26 de julho, uma bela experiência de trabalho, no outro lado do globo. Importante é ter consciência de que não se trata de uma viagem de férias, mas de verdadeiro trabalho, com alvorada às 5 da manhã e labuta até as 18 horas.

A Youth Action for Peace – www.yap.com – é associação laica, não governamental e sem fins lucrativos, com mais de 2 mil campos de trabalho em 60 países diferentes. Há uma taxa de 30 euros, não reembolsável, obrigatória. A viagem fica por conta do participante, a alimentação e alojamento é gratuito, mas durante toda duração do projeto é necessário participar de tudo, em todos os aspectos, da atividade de trabalho à vida coletiva. Tempo livre incluído.


Brasileiro na Jordânia também põe a mão na massa, voluntário por um dia

ENSINAR E APRENDER
Lunaria – www.lunaria.org – promove o voluntariado internacional em todo o mundo, uma rede que oferece 35 projetos de trabalho só na Itália e mais de 2 mil projetos em 65 países. É para pessoas de todas as idades, a partir dos 14 anos. Há inclusive projetos para idosos, e até com acompanhante. Africa em Grupo são campos de trabalho no Togo, Quenia, Tanzania e Uganda, que permite pais e filhos viajarem juntos na experiência.

Os objetivos são múltiplos: em Uganda, durante seis horas ao dia, os inscritos no programa devem ensinar aos pescadores a importância da higiene, participando ativamente da construção de poços e canais de drenagem. Na Tanzania, entre 21 de julho e 3 de agosto, os participantes darão aulas de inglês, francês e espanhol, em troca de lições de música e arte africanas.

Uma das opções especiais é o campo de Togo, em Koutammouko, Batammariba, convivendo com o povo agrícola e caçador, célebre pelas suas casas-fortalezas construídas em barro, as Tékyèté. Aparentemente a cultura ocidental não conseguiu atingir as tradições locais, o que garante um estilo de vida invariável, há séculos.

Para promover e garantir a sobrevivência da sua cultura, o povo se dedica às atividades artísticas, realizando mostra nos mercados com produtos artesanais em cerâmica, jóias feitas com ervas e pedras, cestaria em vime, palestras e animações teatralizadas de histórias e lendas que marcaram tradições. Mas não faltam trabalhos mais pesados, como a limpeza dos mercados e cuidados de pastagens em torno das margens dos rios.

Quem preferir outro tipo de cultura, pode escolher voluntariado em uma fabrica tradicional da Estonia, o campo de verão dedicado à jardinagem, criação de cabras e produção de queijos e tratamento de lã. Programa entre 17 de julho até 3 de outubro.A Lituania ofereceu participação na 14ª. edição do Festival das antigas tradições bálticas, com os participantes dedicando-se à pesquisa dos materiais, aspectos logísticos e de organização.

Os que gostam de animais podem seguir para a pequena Mugla, na Turquia, onde entre 12 e 27 de julho todos trabalham na limpeza de todas instalações do campo. A cidade é uma das mais turísticas da região.

Fotos: Reprodução

Não há país, por rico que seja, que não necessite de voluntariado

DENTRO DAS LENDAS
Na lendária Mongólia, dormir nas tendas típicas dos mongóis, a Yurta, é básico. Na região a agricultura é pouco desenvolvida, daí que o campo dos Volunteers for Peace – www.vfp.org– procura ensinar a população do rio Buhug, no meio de uma planície no fim do mundo, os métodos de cultivo ecológico, básico nos fundamentos para a sustentabilidade da comunidade. O objetivo é obter uma grande colheita cultivando a pouca terra fértil disponível.

O melhor do trabalho é que as verduras produzidas no campo são distribuídas para as famílias pobres e aos órfãos que ocupam uma estrutura vizinha. Nos tempos livres os participantes têm a chance de conhecer a capital da Mongolia, Ulan Bator, distante 45 quilômetros do rio Buhug.

O interesse pela arqueologia pode levar aos viajantes trabalhadores até Lima, no Peru, para ajudar na preservação do centro histórico da capital peruana, ou na maior cidade pré-colombiana da América meridional, Chan Chan, sítio arqueológico Patrimônio Unesco, que se prolonga por 20 quilômetros, até perto do Oceano Pacífico e que hoje está ameaçado pela erosão, provocada pelo El Niño. A participação custa 210 euros para ajudar nas despesas de alimentação e alojamento.


Conviver com povos e culturas diferentes, o ponto alto do trabalho voluntário

PEQUENOS TAMBÉM PARTICIPAM
Não são apenas adolescentes e adultos que podem ser voluntários. Na Índia, na vila de Madhyamgram, parte ocidental de Bengala, vinte quilômetros de Calcutá, até crianças maiores de seis anos (naturalmente com autorização de um dos pais) podem participar da construção de uma Green House para recolher água da chuva, destinada a fazer crescerem frutas e hortaliças, utilizando técnicas de vanguarda no setor da horticultura e floricultura.

Essas hortas serão depois utilizadas na alimentação de crianças sem lar, que vivem nas ruas e estradas de Seldhah e Calcuta. Programa para 20 de julho até 4 de agosto, mas que será válido até o final do ano, quando os voluntários serão acolhidos em casas de famílias da região, podendo seguir aulas de pintura com a comunidade local e as crianças do posto. Uma das organizações é a Oikos – www.oikos.org – internacional, sempre ativa na problemática do legado ambiental.


Voluntariado é troca de experiências, onde todos ganham

PROGRAMAS ITALIANOS
Legambiente – www.legambiente.it – é uma associação sem fins lucrativos, dedicada ao ambientalismo. Os campos, na Itália e no exterior, se dedicam à reciclagem, recuperação e proteção de territórios. Da montanha aos mares, dos bosques à pequenas propriedades. Campos são trabalhados, trilhas são refeitas, uma possibilidade, mesmo aos pequenos, de sentir a natureza de maneira diferente. Programa perfeito para os jovens que fazem sua primeira experiência de trabalho e para os pais, que ainda não têm a coragem de deixarem os filhos partirem para lugares distantes sozinhos.

O campo de verão em Alicudi, uma das menores ilhas ( tem apenas 5 quilômetros) do arquipélago Eoliano, entre o céu e o mar, junto das pedras das muradas a seco – mannare e pagghiari – testemunham o difícil equilíbrio entre o homem e o ambiente. Lá não existem estradas, apenas caminhos geralmente abandonados e infestados de ervas, que sobem as encostas das montanhas. O trabalho consiste na limpeza das trilhas, mas apenas nas primeiras horas do dia, das 6 às 11 horas da manhã, para evitar o calor de agosto. O campo funciona de 10 a 21 de agosto.

O participante paga 250 euros como contribuição. Um projeto que movimenta 115 mil sócios e patrocinadores e mais de 3 mil jovens, que a cada ano participam do campo de voluntariado. A experiência pode durar de duas a três ou quatro semanas, com atividades de construção, restauro, animação e educação. Iriko Ny Mijery Ianitra é uma casa de família em Madagascar, que abriga 19 crianças entre 3 a 14 anos. Além de trabalhos manuais, como construção de galinheiros e cultivo de hortaliças, os jovens devem também participar de animação, portanto é indispensável a vontade de brincar com crianças, ajudar no laboratório de recitação, música e dança, utilizando inclusive material de reciclagem.

Divertido pode ser o programa em Ferrara, entre 22 a 31 de agosto, o Ferrara Buskers Festival, a maior manifestação no mundo dedicada à arte de rua. Músicos, malabares, contadores de histórias e leitores de poesias, humoristas, todos trabalham sem receberem dinheiro. As ofertas podem chegar diretamente do público.


América Latina, um campo fértil para novas experiências

O PARAISO DA ILHA DO DIABO
A Ilha do Diabo, em Caiena, hoje é ilha da saúde. Na realidade, sua fama está ligada à morte, já que era uma das piores e mais famosas prisões no mundo. O bagno di Cayenna significava e extrema punição. Para chegar até lá é preciso viajar uma hora em catamarã, que parte de Kourou, na costa da Guiana francesa, junto do farol que servia para comunicar, em alfabeto morse, com os penitenciários, como o oficial Alfred Dreyfus, antes de ser encarcerado como espião.

São poucos os turistas que fazem os caminhos até a ilha mítica. No entanto, neste pedaço do Equador, está um minúsculo paraíso natural, cheio de sugestões, onde Steve McQueen e Dustin Hoffman, contam a fuga impossível do terrível cárcere, no filme Papillon.História verdadeira, escrita por Henri Charrière, inteligente detento que conseguiu fugir dos grilhões da ilha.

Quem inventou a prisão na ilha foi o imperador Napoleão III, em 1848, para resolver os problemas da economia da Guiana, devido à abolição da escravatura. Usou o remoto pedacinho de terra para deportar os elementos indesejáveis da sociedade francesa. A Guiana foi visitada pela primeira vez por Cristovão Colombo em uma de suas viagens. Em 1600, como território francês, era o lugar perfeito para acolher aos punidos e esquecidos do mundo.

Na época a Ilha do Diabo era deserta de plantas, sem nem um ramo de erva. Os prisioneiros mais agitados eram fechados em buracos escavados na terra escaldante, debaixo do sol equatorial. Tudo permaneceu assim, até fins de 1946, quando o cárcere foi fechado.


No deserto do país rico, também existe fim de mundo

A natureza retomou o território e hoje a ilha ostenta uma vegetação abundante, colorida e perfumada, que invade a estrutura da penitenciária, testemunha do passado. Ainda existem os ferros que prendiam os condenados. As águas dos grandes rios amazônicos deixam o mar com uma cor marrom escura, junto do antigo presídio.

Apenas uma pequena faixa da costa da Guiana é habitada por 250 mil pessoas. O resto é o pulmão verde da Terra e o oceano verde com sua biodiversidade. Os habitantes deste departamento ultramar de Paris são crioulos, haitianos e antilhanos. Mas os europeus estão em número crescente, por causa da base da agência espacial europeia Esa, de onde são lançados os satélites de telecomunicação de meio mundo.

Motivo pelo qual as estradas em torno ao polígono vão sendo habitadas, principalmente pelos legionários. Em Kourou são os homens do terceiro regimento da Legião Estrangeira os responsáveis pela segurança da região tão importante aos interesses da França, e também dos estrangeiros.

O contraste hoje entre o futuro no cosmos, uma natureza preponderante e uma vida primitiva, fácil de encontrar logo na borda da floresta, faz da Ilha do Diabo um lugar onde reapareceram as borboletas únicas, na região agora sedutora.

Caiena, a capital, na sua atmosfera quente, sonolenta e abandonada, com hotel barato e mesmo sua sinistra memória, com sua praça e suas palmeiras, resquícios de arquitetura colonial e mestiços de várias origens, parece estar esperando o futuro. Começa o turismo. Até no fim do mundo.