JOÃO PEDRO PITOMBO
SALVADOR, BA – O início da campanha eleitoral foi a senha. Após um ano e meio de boa convivência, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), trocaram a diplomacia pelas críticas mútuas.
O mote para a guerra de farpas são temas de gestão. Empréstimos, licitação do transporte, reajuste do IPTU e violência em postos de saúde viraram munição.
Aliados do prefeito acusam Wagner de “perseguir” a gestão de ACM Neto. Petistas dizem que o prefeito “joga para a plateia” ao politizar a relação com a gestão estadual. Embora fora da disputa por cargos neste ano, Wagner e ACM Neto são protagonistas da campanha na Bahia.
O governador tenta emplacar seu ex-secretário da Casa Civil Rui Costa (PT) como sucessor. O prefeito é fiador da aliança da oposição, que tem o ex-governador Paulo Souto (DEM) como candidato.
A eleição nacional também está no foco. Wagner é um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff e quer dar uma vantagem de 3,5 milhões de votos para a presidente na Bahia.
Com popularidade em alta, ACM Neto busca minar os votos da presidente no Estado, dando impulso ao aliado Aécio Neves (PSDB). Para isso, tem participado com frequência de campanha no interior.
BATEU, LEVOU
A mudança de tom começou há cerca de um mês, quando o prefeito criou uma agência para fiscalizar a concessionária de água, comandada pelo Estado, o que gerou críticas dos governistas.
Em resposta, Wagner propôs projeto de lei, já aprovado no Legislativo, que cria a Entidade Metropolitana da Região Metropolitana de Salvador, órgão para deliberar sobre transporte público e saneamento na região.
ACM Neto classificou o pedido como “tentativa de ingerência” estadual no município, que está com licitação do sistema de ônibus em curso. Entrou com ação na Justiça contra a nova instituição.
E o vazamento à imprensa de um ofício do governador ao prefeito pedindo a suspensão dessa licitação de ônibus acirrou os ânimos. “Foi ele [Wagner] quem vazou. Poderia ter vazado muitas coisas, mas não faço, pois sou homem”, disse o prefeito. Wagner, por sua vez, afirmou que Neto fez do caso “um palanque”.
No ano passado, o tom era outro. Em diferentes solenidades, o prefeito elogiava o governador e Dilma. Em outubro, por exemplo, disse que a presidente “fez história na primeira capital do Brasil”. Wagner citou o “espírito público” do prefeito.
O clima atual de embate contaminou os aliados. Petistas agora criticam a “sanha arrecadatória” do prefeito com reajuste do IPTU e alienação de terrenos -o Estado entrou nessa última briga ao disputar na Justiça áreas que o município quer vender.
A prefeitura retrucou e interrompeu o funcionamento de postos de saúde que foram alvo de assaltantes. A violência é o principal calcanhar de Aquiles do governo Wagner.
Na última semana, após uma agência estadual negar um empréstimo para a prefeitura alegando falta de recursos, o prefeito foi ao Twitter apontar “insensibilidade do governo”. Wagner respondeu na mesma rede social: “Para cada mentira que inventarem sobre nós, contaremos duas verdades sobre eles”.