SÃO PAULO, SP – Organizações israelitas do Brasil emitiram nesta terça (12) uma nota de “repúdio” a partidos políticos de esquerda que, segundo elas, agiram de “forma discriminatória” em relação aos judeus sobre o conflito que ocorre na Faixa de Gaza.
Segundo a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), integrantes ou partidários do PSTU, do PC do B e do PSOL tiveram uma conduta “desonrosa em relação à comunidade judaica” em ato realizado em São Paulo, no dia 19 de julho, em solidariedade aos árabes da Faixa de Gaza.
A nota informa que, ao colocar em cartazes a suástica (símbolo nazista) ao lado da estrela de David (símbolo do judaísmo), manifestantes desses partidos incitaram na sociedade brasileira o ódio, o preconceito e a discriminação em relação aos judeus, provocando um acirramento dos ânimos entre brasileiros que sempre conviveram em paz.

“A Conib e a Fisesp, fiéis aos princípios pelos quais sempre lutaram, vêm a público emitir nota de repúdio ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) e ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), por sua conduta caracterizada por manifestações de cunho discriminatório e desonroso em relação à comunidade judaica.
Em 19 de julho foi realizado em São Paulo ato em solidariedade aos árabes de Gaza, tendo por objetivo principal protestar contra o posicionamento do Estado de Israel nos recentes conflitos no Oriente Médio. Com ampla divulgação pelos meios de comunicação, a manifestação contou com a participação, entre outras entidades, dos partidos políticos acima indicados, os quais expuseram suas bandeiras em trios elétricos, nas mãos de manifestantes, e emprestaram seus emblemas para a confecção de cartazes.
É certo que, em meio às manifestações, foi possível verificar, inúmeras condutas discriminatórias, com alto grau de antissemitismo e o intuito nítido e incontestável de estabelecer discriminação e preconceito em relação aos judeus. Podem ser citados os numerosos cartazes ostentando uma equação representada com símbolos, que correspondem, em palavras, à expressão “Estrela de David = suástica”.
Como é sabido, a Estrela de David sempre foi utilizada para identificar os judeus. A despeito de estar na bandeira do Estado de Israel, nos cartazes exibidos na manifestação ela simboliza o judaísmo. A suástica, por outro lado, constitui símbolo representativo do nazismo, responsável pelo extermínio de milhões de judeus e de milhares de não judeus, que tal ideologia considerava indignos de viver, seja por motivos raciais, posições políticas, crenças religiosas, orientação sexual.
Estes cartazes, ao sugerirem que judeus comportam-se iguais aos nazistas, geram não apenas um sentimento ofensivo à honra de qualquer judeu, como também trazem à tona um episódio histórico que ainda guarda profundas marcas na comunidade judaica. Em última instância, as figuras representadas nos cartazes servem apenas para incitar, na sociedade brasileira, o ódio, o preconceito e a discriminação em relação aos judeus, provocando um acirramento dos ânimos entre brasileiros que sempre conviveram em paz.
Justamente pelo seu significado histórico, o uso da suástica em símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda constitui, na legislação em vigor, crime apenado de 2 (dois) a 5 (cinco) anos de reclusão, por força do art. 20, § 1º, da Lei 7.716/89.
Ressalte-se que não se tem a pretensão de coibir – ou mesmo diminuir – a liberdade de expressão, constitucionalmente assegurada, e de fundamental importância em um Estado Democrático de Direito. Partidos políticos mantêm – e é bom que assim seja – ideologias próprias, e são livres para defender e expor seus ideais pelos meios legítimos.
Contudo, não há como aceitar que, a pretexto de respeitar a liberdade de expressão, esses mesmos partidos políticos sejam coniventes com práticas manifestamente preconceituosas e discriminatórias em atos populares aos quais prestam aberto apoio. Espera-se dos partidos, entidades de relevo para uma sólida democracia, uma conduta de integração da sociedade e respeito às diferentes culturas, e não de avalizadores de atos revestidos de pensamentos inquestionavelmente racistas.
A Confederação Israelita do Brasil e a Federação Israelita do Estado de São Paulo defendem e sempre defenderão o direito dos cidadãos a manifestações públicas pacíficas, pois isso faz parte da democracia. No entanto, estarão sempre vigilantes contra atos que, a pretexto de demonstrar solidariedade a países, grupos ou pessoas, em nada contribuem para a paz entre os povos, gerando, ao contrário, problemas graves no tocante ao relacionamento entre concidadãos, incitando sentimentos de ódio, de preconceito e de discriminação relativamente a um grupo determinado.”