São Paulo, 04 (AE) – Dê uma olhada pelas geladeiras das lanchonetes. Perceba o grande número de refrigerantes e bebidas que levam a marca “zero” junto ao nome para indicar baixos teores de calorias e açúcares. Essa moda agora transcendeu os limites da indústria de alimentos e chegou ao poderoso mercado fonográfico, no qual grandes e pequenas gravadoras têm visto cada vez mais seu negócio ser ameaçado pela pirataria de CDs e o download ilegal de músicas pela Internet. A nova investida da gigante SonyBMG contra esses inimigos chama-se CD Zero, uma espécie de reedição do formato que há muito não aparecia por essas terras: o EP, ou um disco que vem com apenas algumas faixas e, portanto, chega com um preço mais baixo para o consumidor. O ” zero” do nome desse CD mais “light” que os tradicionais é uma referência direta às bebidas dietéticas encontradas nas lanchonetes do País.

A primeira experiência da Sony com o CD Zero aconteceu há poucas semanas, com a cantora mato-grossense Vanessa da Mata, que acaba de lançar o álbum “Sim”, que traz 13 faixas. Paralelamente a esse lançamento, desembarcou no mercado o CD Zero de Vanessa, que traz apenas cinco canções extraídas do álbum original e está sendo vendido pelo preço sugerido pela gravadora: R$ 9,99.

O pai dessa volta do EP é o gerente geral da SonyBMG no Brasil, Alexandre Schiavo. A idéia surgiu há cerca de quatro anos, quando a empresa fez uma parceria com a Coca-Cola para lançar promocionalmente discos de tamanho menor que o tradicional. “Achei que a gente poderia atingir um público que não comprava o produto legal por uma questão de poder aquisitivo. Além disso, achei que o formato era excitante.”

O entusiasmo de Schiavo, no entanto, esbarrou nos altos custos das embalagens dos disquinhos, que precisavam ser importadas, o que impediria que os CDs chegassem a um preço acessível ao consumidor. Anos depois, o disquinho que Schiavo tanto almejava se transformou no CD Zero, que apesar de ter o formato de um CD comum, vem com menos músicas e um encarte mais simples. “Queremos estimular o público a conhecer o artista, trazer um novo consumidor. A idéia não é substituir o disco original. Quando a pessoa gostar de uma música na rádio, no lugar de comprar o disco inteiro, compra um de cinco faixas e experimenta”, explica Schiavo.

Mas assim não se corre o risco de caírem as vendas dos CDs “cheios”? “O fã vai sempre ter a obra inteira. Estamos também em uma discussão para que aqueles que apresentarem a nota de compra do CD Zero tenham desconto na compra do original.”

Assim que o CD Zero de Vanessa da Mata foi lançado, chegou a ser divulgado que os próximos a terem trabalhos no formato seriam Lobão e Capital Inicial. Mas Schiavo conta que a nova estratégia é mais ampla. “A idéia é que todos os lançamentos do ano venham no formato CD Zero. Evidentemente, discos que cheguem mais baratos ao consumidor, na faixa de R$ 15, não valem a pena. Estou negociando para lançar os CDs internacionais também no formato”, diz Alexandre.

A grande questão é saber se o consumidor vai preferir comprar cinco músicas de Vanessa da Mata por R$ 9,99 quando o CD inteiro com 13 faixas, está sendo comercializado por R$ 19,90 em sites na Internet. O lançamento chega em um momento em que algumas redes de supermercados inglesas estão deixando de vender singles (CDs com até duas faixas) por causa das baixas vendagens. Schiavo se justifica: “Na Europa e nos Estados Unidos o single migrou para a música digital. Mas são lugares com uma forte inclusão digital. O Brasil ainda é baseado no mercado físico.”