PEDRO SOARES RIO DE JANEIRO, RJ – Apesar da inflação em baixa em julho e agosto, o IPCA tende a fechar 2014 muito próximo do teto da meta do governo (6,5%) e, nas projeções, a economia caminha para fechar o ano com um crescimento entre 0,6% e 0,8%, segundo analistas. Se confirmada, será a menor marca desde 2009, auge da crise global, quando o PIB brasileiro caiu 0,3%.

Para especialistas, o IPCA de julho de 0,01% foi apenas um “soluço” e calcado na forte deflação de alimentos. A prévia do índice oficial de inflação (o IPCA-15) já mostrou desaceleração e ficou em 0,14% em agosto. Em 12 meses, a taxa de 6,49% flerta com o topo da meta -em junho, era de 6,51%, um pouco acima do limite máximo. Nesse contexto, analistas dizem que as taxas mais baixas em julho e agosto não mudam o cenário de inflação elevada e crescimento muito baixo.

É esperada uma queda do PIB na faixa de 0,5% do PIB no segundo trimestre frente aos primeiros três meses do ano. Analistas esperam para o terceiro trimestre, a partir de dados preliminares, uma ligeira reação e um crescimento em torno de 0,5%, que só faz compensar a perda dos três meses anteriores. “O efeito Copa [menos dias úteis afetando comércio e indústria] foi bem forte no segundo trimestre e isso tende a diminuir bem agora [no terceiro trimestre]. Mesmo assim, temos a impressão de que é uma retomada ainda frágil. Ou seja, mantém a impressão de economia estagnada que vemos desde o terceiro trimestre do ano passado”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

Vale se refere à alternância, desde então, de altas pouco expressivas com retrações do PIB. No terceiro trimestre de 2013, houve queda de 0,3%. No quarto, alta de 0,4%. Nos três primeiros meses deste ano, expansão de apenas 0,2%. Para o segundo trimestre, é consenso uma contração da ordem de 0,5%. Na visão de Vale, o recuo estimado para o segundo trimestre deste ano confirma um quadro de estagnação da economia, ainda com inflação elevada.

O economista prevê alta do IPCA em torno de 6,5% neste ano e aceleração das taxas com mais intensidade a partir de setembro. É que a deflação dos alimentos (queda de 0,32% no IPCA de agosto) perderá força no IPCA fechado de agosto (que pega a segunda quinzena deste mês) e os preços tendem a voltar a subir mais perto do final deste semestre. Além dos alimentos -que compensaram a alta da energia elétrica (4,25%)-, viu-se na prévia de agosto o fim da pressão de preços que subiram por conta da Copa do Mundo. Um exemplo é a forte retração de 23,54% de hotéis.

SERVIÇOS

Para Adriana Molinari, economista da Tendências Consultoria, a desaceleração dos preços de serviços –com menor pressão da alimentação fora de casa, de hotéis, passagens aéreas, entre outros -já indica que as famílias reduziram o consumo diante do esfriamento da economia.

Com a menor demanda e sem a movimento extra gerado pela Copa do Mundo para alguns ramos (alojamento, bares, restaurantes, pacotes de turismo e outros), os prestadores de serviços tiveram menos espaço para subir suas tabelas. Os serviços, no IPCA-15, subiram 0,97% em junho. A taxa baixou para 0,50% em julho. Cedeu ainda mais em agosto: 0,23%.

“Esse é um dado que chama muito a atenção. Já observamos algum arrefecimento dos serviços, o que já reflete demanda mais fraca e a piora do nível de atividade da economia”, diz Molinari. Tal deterioração do ritmo da economia aparece nos números mais recentes das pesquisas de comércio, indústria e serviços, que desaceleraram com força ou recuaram.

A economista também prevê uma aceleração da inflação nos próximos meses e uma taxa de 6,3% neste ano. Analistas não descartam totalmente o estouro do teto da meta e o maior risco são os reajustes de energia que não foram ainda autorizados pela Aneel.