Acusado de laranja pelos adversários e visto como opositor ferrenho à administração petista, o advogado, professor de Educação Física e apresentador de TV, Ogier Buchi (PRP) é dos candidatos de pequenos partidos ao governo do Estado o que mais apareceu na mídia até agora. Buchi deu largada na campanha eleitoral tentando sem sucesso impugnar a candidatura do vice na chapa de Gleisi Hoffmann (PT), Haroldo Ferreira (PDT) pelo fato de o partido ter registrado o vice depois do prazo das convenções.

Depois da negativa do Tribunal Regional Eleitoral em impugnar a candidatura petista, quem perdeu o vice foi o próprio Buchi – Valfredo Dzazio – depois que ele renunciou por problemas em prestações de contas em eleições anteriores. Buchi também já foi demitido de um cargo de direção do Centro de Convenções de Curitiba e da Ecoparaná no governo Requião, em 2004. E neste ano, teria sido demitido do programa de TV na Rede Massa supostamente por criticar a gestão petista no governo federal e chamar de burro o eleitor do PT, mas foi readmitido logo em seguida. Em entrevista ao Bem Paraná, o candidato fala sobre essas e outras polêmicas e explica porque quer ser governador do Estado sem nunca ter sido eleito para outro cargo público.

Bem Paraná — Por que o senhor resolveu ser candidato?
Ogier Buchi — Porque acompanho política há muito e percebo que as coisas ao longo desse tempo não mudaram e porque tive oportunidade. Participo desse pleito porque percebo que ao longo desse tempo as coisas não mudaram, porque sou filiado ao partido e entendi que poderia, sendo do partido, propor situações que a forma de tocar a política pudesse ter algum tipo de contribuição.

BP — O PRP é um partido pequeno e o senhor é filiado há um ano e meio. O senhor acha que tem chance de ganhar a eleição?
Buchi — Se for do desejo do povo, tenho todas as chances. Eu queria mudar a forma de fazer política. Essa forma é ter um partido grande ou uma grande associação de partidos, o que espanca a ideia da legislação de que oferecer dois turnos. É sempre bom lembrar que um turno eleitoral custa uma fortuna para o povo. O investimento para fazer uma eleição geral como essa custa uma fábula de dinheiro. Se a legislação prevê dois turnos, o moral seria que todos os partidos oferecesse no primeiro turno a sua contribuição, o programa, a ideia. E não que o seu programa tivesse uma absorção dos partidos mais importantes, que são aqueles que mais recebem dinheiro público por parte dos outros, uma política de adesão e de nenhum compromisso ideológico. Por isso, se o povo entender que deve eleger alguém que esta comprometido com ideologia, aí o povo vota em um partido pequeno – no meu ou num outro qualquer que seja da simpatia do cidadão, aí não vota nos tradicionais políticos que têm as tradicionais propostas.

BP — Os partidos nanicos são vistos, muitas vezes, como partidos de aluguel ou laranjas a serviço de outros.
Buchi — Gosto muito da oportunidade. A diferença entre mim e a candidata do PT (Gleisi Hoffmann), segundo o Datafolha, que é o mais confiável dos institutos, é menor do que a diferença dela para o Roberto Requião. Seria lícito eu imaginar que o PT é um partido de aluguel?
BP — Considerando a representatividade no Congresso Nacional, Câmara Federal e Presidência da República, não.
Buchi — Por que é um partido grande? Então quer dizer que os pequenos nunca vão ter chance? Toda vez que um pequeno se lança tem que sofrer a acusação desqualificada de que ele está a serviço de alguém? Quem chega ao poder esquece que um dia, pra chegar no poder, teve que mostrar seu programa de governo, percorrer uma longa caminhada. Vou lembrar só de grandes petistas que fizeram seu esforço histórico: Doutor Rosinha, Emmanuel Áppel, Jorge Samek Sobrinho, Ângelo Vanhoni. Todos os candidatos de um pequeno partido que um dia se transformou em um partido que detém o poder. Mesmo a diferença da candidata deles para o segundo lugar ser maior que a minha para ela, ela não sofre essa acusação porque está no poder. Para chegar ao poder tem que defender a ideologia do partido, que é o que estou fazendo. Não faço nenhum tipo de acusação desqualificada, imoral, covarde, indecente, que fazem em relação a mim. Desenvolvi esse raciocínio para demonstrar a ideia de que os partidos possam demonstrar suas candidatura. Fechando a argumentação: quem fala isso é porque não me conhece e fala isso sempre nas minhas costas, não na minha frente. Quero ver dizer que sou um candidato de aluguel perto de mim, olho no olho.


Legislativo

Vou negociar direto com o cidadão

Bem Paraná — Como partido pequeno, o PRP tem poucos candidatos concorrendo e provavelmente um eventual governo teria poucos representantes na Assembleia. Como o senhor pretende governar tendo que negociar com tantos partidos?
Ogier Buchi — Não vou negociar com eles, vou negociar com você, vou negociar com o cidadão. Eles é que vão ter negociar comigo porque tem que acabar a história do ‘mensalão’. Chega de sofrer chantagem do Poder Legislativo. Deputado não tem que negociar, tem que legislar e fiscaliza a aplicação do Executivo para ver se estou gastando bem. Ele é o cidadão na Assembleia Legislativa. Se resolverem fazer comigo o que se faz habitualmente – no mensalão do PT, do PSDB, do DEM e nos mensalões que nem sabemos que existem – não vão conseguir. Mas não é uma crítica aos partidos. É uma crítica à relação do Legislativo com o Executivo. Por exemplo, o Requião tinha dois projetos muito bons: o Leite das Crianças e o Luz Fraterna. Comigo no governo eles serão mantidos.

BP — O candidato ao governo pelo PSOL já disse ao Bem Paraná que o partido não vai apoiar nenhum candidato no segundo turno. O partido do senhor vai apoiar algum outro candidato em um eventual segundo turno?
Buchi — Não quero discutir essa hipótese já porque isso seria admitir que não vou ao segundo turno. E eu vou ao segundo turno. Se eu não for, me comprometo a te dizer o que o meu partido vai decidir. Quero esclarecer que eu não decido sozinho. Meu partido é pequeno, mas é. Eu tenho 62 anos e não tenho cargo público. Aproveito para encadear que a única participação que tive na esfera pública foi no governo Requião e eu não me dei bem.

BP — Por que o senhor foi demitido do governo Requião? Foi por telefone como noticiado na época?
Buchi — Na verdade, o Requião foi vítima, ao me demitir por telefone, de uma daquelas circunstâncias que atingem os políticos. Daquela coisa que existe na Corte. Mas não importa. O Requião me demitiu sim, em uma mesa de restaurante em Nova Iorque. Ele não me demitiu por telefone. Ele estava acompanhado do dono de um jornal que publicou isso e ele me demitiu no dia seguinte. A demissão foi porque discordei de como algumas verbas do governo Requião eram tornadas disponíveis. Isso desagradou pessoas. Eu poderia ter dado explicações, mas eu entendi que disso se formou ações na Jsutiça que me envolveram, envolver o Airton Pisseti e o governador. A ação foi ganha por quem tinha que ganhar, no caso eu.

BP — O PT já acusou o senhor de ter dois filhos em cargos comissionados dependentes do atual governo. O senhor ainda tem parentes no governo?
Buchi — Meu filho é funcionário do governo do Estado do Paraná. Ele, diferente da candidata do PT, que não passa muito tempo no mesmo lugar, trabalha há 12 anos no mesmo lugar. O meu filho começou a trabalhar no Estado no governo do senhor Roberto Requião em 2003 e permanece no mesmo lugar por ter tipo ascensões funcionais. Ele é administrador de empresas, advogado e pós-graduado em administração pública. Em 12 anos ele ascendeu profissionalmente. Já a minha filha que é jornalista trabalhou nove meses no governo e já saiu do cargo. Ela tinha um cargo de R$ 2 mil por mês. Ela é formada em Ciência Política, Jornalismo, pós-graduada.


Programa

Também já fiz críticas ao governo Beto Richa

Bem Paraná — Se considerarmos as diferenças ideológicas dos partidos, o senhor está mais próximo, ideologicamente, do governador Beto Richa (PSDB), até porque as críticas da sua campanha são mais direcionadas à candidata do PT, principalmente, e ao candidato do PMDB, Roberto Requião. O senhor identifica um alinhamento com o PSDB?
Ogier Buchi — Quando as pessoas afirmam que a minha campanha está alinhada ao PSDB, fico me perguntando se o meu programa de governo está mal escrito ou as pessoas que não leram. As dez primeiras propostas do meu partido representam críticas à atual forma de governar. Critico as relações com o pedágio, critico o inchaço do Estado, critico o nepotismo, e ninguém consegue ler que estou criticando o exercício da administração atual. Não sei de onde se constrói um silogismo com uma premissa de ‘pé quebrado’. Tenho 44 propostas, das quais dez criticam o governo atual. Não me lembro de ter criticado a Gleisi. Ainda não. Eu critico a gestão petista. Mas já fiz críticas ao senhor Beto Richa e já critiquei também o senhor Roberto Requião. Com relação à Gleisi, eu entendi que havia um erro na questão jurídica da coligação dela e impetrei uma ação no tribunal. O TRE julgou, entendeu que esse erro não existe, o processo está em grau de recurso. Se o Tribunal Superior entender que não havia o erro é uma questão jurídica suplantada.

BP — Ironicamente, o candidato a vice na chapa do senhor, registrado dentro do prazo, se viu obrigado a renunciar porque poderia ter problemas com a prestação de contas. Isso aconteceu depois da ação que o senhor moveu contra a candidatura petista por eles terem indicado o vice depois do prazo das convenções. O senhor não vê problemas em ter que indicar o vice um mês depois do prazo?
Buchi — Em primeiro lugar, o vice foi indicação do partido. É assim que ocorre na questão democrática. A diferença entre mim e os demais, é que no meu partido, o próprio vice – um vereador com sete mandatos na Câmara de Ponta Grossa –, na hora de promover a documentação, ele mesmo entendeu que a documentação dele não estava compatível com o seu registro e ele mesmo pediu a substituição. Não foi necessário que alguém denunciasse que houvesse a ‘judicialização’ da questão. Ele mesmo disse que não tinha as condições apesar de ser um homem de bem, um político fora da média, fora da curva porque ficou sete legislaturas na Câmara Municipal e não teve, jamais, nenhum problema no seu mandato. Ao contrário de inúmeros políticos que batem no peito e contam histórias. Quis a ‘ironia’, como diz você, que o meu partido mostrasse como se faz a lição de casa. Quando você tem problemas, você mesmo fala, não é preciso que os outros mostrem.


Gestão

Só vou gastar o que tiver no orçamento

Bem Paraná — Qual a sua relação com a gestão atual?
Ogier Buchi — Meu grande problema, não só com esse governo, mas com os antecedentes, é a forma de gerir o Estado: ‘eu quero, eu faço, eu decido’. A minha proposta é democrática. É administrar o Paraná do jeito que o paranaense quer que seja administrado. A Gleisi, o Requião, ou o próprio Beto, que tem outros apoios, ninguém questiona. Me questionam porque sou de um partido pequeno. E os grandes arranjos que os outros fazem? Essa sim é a grande ironia da campanha. Porque eu sou pequeno, mas sou grande porque todo mundo se preocupa comigo. De certa forma fico orgulhoso. Voltando à questão da crítica ao governo atual: o governo é uma sopa de letras, não é coeso, não tem unidade. Isso decorre dos grandes arranjos eleitorais. Como é que você imagina que o Requião possa fazer um grande arranjo eleitoral com o PV, por exemplo. O PMDB pensa uma coisa e o PV pensa outra. O PT faz uma associação com o PDT e o presidente do PDT foi tocado embora do governo do PT porque entenderam que ele era o ‘angorá do rabo bola’. Para concluir, a minha maior crítica é sobre o pedágio.

BP — Tem algum outro exemplo que não seja relacionado ao pedágio?
Buchi — A gestão da Saúde; a gestão da Segurança; as questões da gerência financeira do Estado que foram repetitivamente noticiadas. Por isso que eu falo que só vou gastar o dinheiro que eu tiver no orçamento. Se isso não for uma crítica, então já não sei mais o que é crítica. Posso ser acusado de não fazer observações grosseiras em relação ao Beto Richa. Não faço e não farei, assim com não fui grosseiro com o Beto Richa no debate da APP-Sindicato, nem com dona Gleisi Hoffmann, nem com o senhor Roberto Requião, nem com nenhum dos outros candidatos. A relação tem que ser educada e respeitosa. Se nós queremos mostrar ao povo alguma coisa, preliminarmente temos que demonstrar o comportamento.

BP — O senhor disse que não faria nenhum plano de gestão com o orçamento que já estaria comprometido, que já foi aprovado para 2015. Mas o que foi aprovado foi a LDO?
Buchi — Não é possível delimitar neste momento porque se eu for eleito governador será em outubro. Só depois disso é que vou poder gerenciar com a bancada, que for eleita, com a que permanece e tudo mais, o tripé básico do meu governo. O projeto passa por gasto com Saúde, Educação e Segurança Pública. Para isso, vou diminuir inúmeras secretarias de Estado – inúmeras não, vou diminuir 17 secretarias. Onde tem automóvel, secretária de secretário, tem que acabar e gastar menos. Vou qualificar o funcionário público e dando a possibilidade de os funcionários se qualificarem e chegarem a ser secretários de Estado.