Ex-diretor da Petrobrás, preso pela Operação Lava Jato, vai falar tudo o que sabe de corrupção na estatal
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, decidiu fazer delação premiada. Acuado, na iminência de sofrer uma sucessão de condenações como réu da Operação Lava Jato, Costa considera que não tem a menor chance de sair da prisão tão cedo. Ele quer preservar seus familiares, que também se tornaram alvos da Lava Jato.

Paulo Roberto Costa não fez ainda nenhum depoimento. Nem o acordo foi assinado. Mas ele já adiantou que se falar o que sabe muitos políticos poderão ser incriminados. No período em que dirigiu a área de Abastecimento da Petrobrás, Costa manteve contatos muito próximos com parlamentares, autoridades e também com o doleiro Alberto Youssef, mentor da Lava Jato, segundo a Polícia Federal.

Paulo Roberto reuniu-se nesta sexta feira, 22, com a advogada criminalista Beatriz Catta Preta, na Superintendência Regional da Polícia Federal no Paraná. Beatriz Catta Preta, na advocacia desde 1997, é especialista na condução de delações premiadas. De pelo menos oito procedimentos de delação ela já participou, com êxito – em troca de informações à Justiça, os acusados por ela defendidos alcançaram o perdão
O caso mais célebre foi o da delação do investidor Lúcio Bolonha Funaro, nos autos da ação penal 470 (Mensalão do PT).

Em nota, divulgada nesta sexta feira, 22, a criminalista observou. Assumi o caso (de Paulo Roberto) hoje. O acordo é um dos caminhos possíveis por ser meio de defesa previsto em lei. Vou me inteirar do caso e analisar todas as possibilidades. O acordo de delação do ex-diretor da Petrobrás ainda precisa ser submetido ao crivo do Ministério Público Federal e homologado pela Justiça Federal. No âmbito do Ministério Público Federal, a Lava Jato é conduzida por uma força tarefa composta de seis procuradores da República, todos eles com ampla experiência em investigações sobre crimes financeiros e tributários. Os procuradores vão avaliar se a munição do ex-diretor da Petrobrás justifica concessões. O acordo traz todas as condições, inclusive o benefício que o acusado poderá receber. Celebrado o termo, o juiz homologa e aí começa a fase dos depoimentos, efetivamente.

Seu defensor era o criminalista Nélio Machado, estabelecido no Rio. Nélio não aceita que clientes seus façam delação. Eu não trabalho com esse expediente, diz o advogado. Paulo Roberto Costa é réu em duas ações criminais conduzidas pelo juiz Sérgio Fernando Moro, da Justiça Federal no Paraná. Ele é acusado por lavagem de dinheiro desviado da Petrobrás e por suposta destruição e ocultação de documentos. Outras ações deverão ser abertas contra o engenheiro. É muito remota a chance de o juiz Sérgio Moro coloca-lo em liberdade. Moro tem uma carreira marcada pelo rigor com que conduz as ações.

Há algum tempo, Paulo Roberto Costa vinha avaliando a possibilidade de fazer delação. Mas ainda apostava em uma possível virada de jogo no Supremo Tribunal Federal (STF) onde foi protocolada uma Reclamação.
Por meio da Reclamação, os antigos defensores do ex-diretor da Petrobrás sustentam que a competência para o caso Lava Jato é da Justiça Federal em São Paulo, e na da Justiça Federal no Paraná. O argumento é que as empresas supostamente envolvidas no esquema de lavagem de dinheiro ficam sediadas em São Paulo.
A chance de uma vitória dessa tese é remotíssima. Especialistas anotam que a pretensão é absurda pois ao Supremo só cabe decidir se houve ou não usurpação da competência da Corte máxima.

Pesou na decisão do ex-diretor de aceitar fazer delação sua grande preocupação com a família e, também, o fato de ter contra si uma longa sucessão de denúncias. Pessoas próximas o alertaram que poderá passar mais tempo atrás das grades que o operador do Mensalão do PT, Marcos Valério, condenado a 40 anos e 4 meses de prisão. Sem perspectivas, diante do que sua família avalia situação insustentável, Paulo Roberto Costa se convenceu de que sua única chance é a delação premiada.