FELIPE BÄCHTOLD PORTO ALEGRE, RS – O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), classificou como “autoritária” a ideia da presidenciável Marina Silva (PSB) de valorizar a participação de “pessoas” em um governo em detrimento dos vínculos com partidos. Temer disse que tais “teses” desqualificam as instituições brasileiras e abrem caminho para o “personalismo” na política.

“Certas pregações dizem que os partidos não valem nada, as instituições de nada servem, o que vale são as pessoas. Tenho uma preocupação enorme com isso. Demoramos muito tempo no Brasil para conseguir o fortalecimento das nossas instituições. Sempre tivemos crises e mais crises”, disse Temer, em evento em Porto Alegre nesta sexta-feira (29).

O peemedebista afirmou então que não são “pessoas que comandam o poder público”. “O que vale são as instituições. As pessoas não podem ser colocadas acima. [Senão] nós vamos para o autoritarismo. A ideia da personalidade, do personalismo, gera o autoritarismo. Temos exemplos dramáticos no mundo. Não quero nem mencioná-los.”

Sem citar o nome de Marina, citou um discurso frequente da adversária: “Vejo pessoas hoje dizendo: ‘quero governar com a pessoa A, com pessoa B e C porque a política atual é desgastada’. Nós todos não prestamos, prefeitos, vereadores, partidos, instituições. Isso é um perigo extraordinário. Aparentemente é uma tese nova, mas é uma tese do personalismo, da centralização, é a tese do autoritarismo.”

Temer disse que é preciso “combater essas teses” e aproveitar a campanha eleitoral para isso. Ao fazer afirmação semelhante a jornalistas, Temer foi questionado se estava se referindo diretamente a Marina. Ele respondeu: “Vou aproveitar e vou fazer uma sugestão. Preserve as instituições, enalteça as instituições”.

Disse ainda que não é possível governar trazendo pessoas específicas de variados partidos, como já defendeu a presidenciável. “Você, no fundo, está combatendo a estrutura político-partidária. Assim você não governa. Você abala as instituições”.

PESQUISAS

Ao ser questionado sobre o bom desempenho de Marina nas pesquisas, Temer citou um levantamento do Datafolha feito no primeiro semestre, que simulou a candidata no lugar do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. Naquela época, disse o vice-presidente, ela tinha 27% das intenções de voto. “Talvez [hoje] sejam 27% mais dois [pontos percentuais] de emoção”, respondeu, se referindo à morte de Campos. Temer participou de um evento na capital gaúcha com peemedebistas que apoiam Dilma.

Em discurso, disse que é uma “injustiça” o setor do agronegócio não apoiar a petista porque o governo o beneficiou nos últimos anos. O PMDB gaúcho é formalmente coligado com o PSB no Estado. Mas ruralistas ligados à sigla são resistentes a apoiar Marina pela militância ambientalista da ex-ministra do Meio Ambiente. Expoentes do PMDB gaúcho, como o candidato ao governo José Ivo Sartori e o senador Pedro Simon, não foram ao evento de Temer. Eles apoiam Marina. Apesar disso, o vice-presidente pediu votos para os dois ausentes.