SÃO PAULO, SP – O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira, saiu em defesa do sistema de segurança Detecta, que visa integrar os bancos de dados da polícia com imagens de câmera para identificar atividades suspeitas nas ruas do Estado. Embora admita que o sistema ainda requer “aprimoramento”, ele afirmou que a tecnologia está “completa” e já funciona.
Em entrevista convocada nesta quarta-feira (17), Grella negou que a propaganda eleitoral do governador Geraldo Alckmin (PSDB) na TV tenha se precipitado ao divulgar a iniciativa.
“Não houve precipitação [no uso eleitoral do Detecta na TV]. A ferramenta está em funcionamento e obedece a fases. Nesta fase nós já estamos cumprindo, o [telefone da PM] 190 já está integrado, está funcionando. Não foi precipitado. Nós estamos percorrendo fases. E nesta fase ele está completo. Mas nós podemos ter a implantação de tudo ao mesmo tempo”, afirmou.
Vitrine do candidato à reeleição, que na TV convidou os eleitores a conhecer a “a tecnologia que Geraldo Alckmin trouxe de Nova York para São Paulo”, o Detecta ainda produz pouco efeito prático para o combate ao crime no Estado. De acordo com relatório produzido pela própria pasta entre 2010 e 2011, existem “graves falhas” no principal banco de dados utilizado. Em nota, o PSDB afirmou que a tecnologia está em fase “inicial” de implantação.
Grella, entretanto, negou que haja falhas e afirmou que, embora o emprego da tecnologia para o combate à violência exija “aprimoramento” e “aperfeiçoamento” com o tempo, o sistema já cumpre o que se propõe a fazer.
“Não existem falhas. O que existe é um processo de implantação que obedece a fases. E essas fases vão exigindo providências e adequação”, insistiu.
“Não há um tempo certo [para que o sistema funcione conforme o divulgado pela campanha tucana], porque esse processo, na verdade, não tem prazo. Ele é sujeito a adaptações, aprimoramentos e aperfeiçoamentos”, disse.
‘HOT SPOTS’
De acordo com o major Marcelo Gonzales Marques, chefe do Copom (Centro de Operações da Polícia Militar), desde a implantação do sistema, há cerca de um mês, o Detecta gerou mais de 900 mil alertas de imagens de “atitudes suspeitas”, sendo que todas as gravações ocorreram a partir de câmeras da PM.
“Isso já funciona. A PM prendeu e identificou o suspeito de atear fogo ao ônibus no centro [da capital paulista] a partir do Detecta. Nós voltamos no tempo 15 minutos e identificamos e prendemos o suspeito com base nas imagens. Então já funciona”, defendeu o major, em referência ao veículo incendiado durante um protesto contra a reintegração de posse de um edifício no centro de São Paulo, nesta terça-feira (16).
Marques disse ainda que boa parte das falhas identificadas pelo relatório pela CAP (Coordenadoria de Análise e Planejamento da Segurança) já foram corrigidas, como o registro de “atitudes suspeitas” em números inexistentes de determinados endereços.
“A integração dos dados em termos de local geo referenciados da Polícia Militar e da Polícia Civil foram integrados em 2014, então esses problemas foram minimizados. Isso sempre vai acontecer. (…) Mas o que importa são os ‘hot spots’, ou seja, os pontos quentes próximos a ocorrência”, disse.
Segundo o relatório, pelos registros do sistema, por exemplo, 24% dos crimes ocorridos na avenida Paulista em fevereiro ocorreram no inexistente número zero.
A próxima etapa, diz o major, é que o Detecta incorpore, nos próximos meses, as imagens das câmeras de segurança de órgãos públicos e privados não ligados à Polícia Militar. A medida segue um decreto estadual, assinado por Alckmin em 27 de agosto, que dispõe sobre o compartilhamento dessas informações com a Secretaria de Segurança Pública.