DIÓGENES CAMPANHA, ENVIADO ESPECIAL
SÃO LUÍS, MA – Alvo de uma averiguação da Polícia Federal na madrugada da última quinta-feira (25), por suspeita de crime eleitoral, o candidato do PMDB ao governo do Maranhão, Edison Lobão Filho, diz que a ação visou “humilhá-lo” e causar danos políticos à candidatura.
Na ocasião, agentes da PF apareceram no aeroporto de Imperatriz (MA) e revistaram o avião que levaria o filho do ministro Edison Lobão (Minas e Energia) e aliados, após uma denúncia anônima sobre dinheiro transportado irregularmente na aeronave. Nada foi encontrado. A operação foi comandada pelo delegado da corporação em Imperatriz, Paulo de Tarso Cruz Viana Junior.
“Queriam me constranger, me humilhar no meio do processo eleitoral. Não acho nem que o objetivo principal seria achar dinheiro no avião, mas criar um fato político”, disse o candidato à reportagem, após um encontro com evangélicos em São Luís, na noite desta segunda-feira (29).
Lobão Filho afirma que o delegado é filho de um “ex-prefeito do PSDB que é cabo eleitoral ativo” de Flávio Dino (PC do B), seu principal adversário na campanha. Paulo Cruz, que governou a cidade de Sítio Novo, na região de Imperatriz, por dois mandatos, declarou apoio ao candidato em julho passado.
A assessoria da Polícia Federal no Maranhão informou que Viana Junior não irá se pronunciar sobre o caso.
O candidato do PMDB, que é senador, afirmou não ter presenciado a abordagem da PF. Afirmou que jantava em uma antessala do aeroporto, após uma agenda de campanha, quando o delegado, segurando a arma no coldre, se aproximou e o informou da operação. “Ele disse que havia recebido uma denúncia de um amigo policial civil, cujo nome não poderia declinar”, afirmou.
Lobão Filho disse considerar “mais grave” o fato de a denúncia supostamente ter partido de uma autoridade, “porque um policial deveria estar respaldado em provas robustas” para justificar a operação. Questionou, entre outros pontos, a ausência de mandado judicial e o fato de a abordagem não ter sido acompanhada pelo Ministério Público.
O peemedebista não chegou a ser revistado, mas disse que os nove policiais, que se dividiram entre inspecionar o avião e os carros da comitiva, abriram até os manuais de operação da aeronave e objetos pessoais de integrantes de sua equipe para ver se não havia nada escondido.
O episódio ganhou repercussão após manifestações da cúpula do PMDB. O vice-presidente, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, acusaram a Polícia Federal de tentar intimidar Lobão Filho e agir com fins eleitoreiros. A PF abriu uma sindicância para apurar as circunstâncias da operação.
Lobão Filho disse ter recebido do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a informação de que um delegado especial de fora do Maranhão foi enviado para conduzir a investigação.
APOIO EVANGÉLICO
Na noite desta segunda (29), o candidato se reuniu por uma hora e meia com cerca de 50 pastores e bispos evangélicos, em um hotel em São Luís. Os religiosos oraram “pelo nosso candidato” e pediram que ele seja “guardado do mal, da armadilha, da calúnia” na reta final de campanha.
O candidato disse contar com os pastores para solucionar a crise da penitenciária de Pedrinhas, palco de mais de 70 mortes de detentos desde 2013. “Aquilo é uma jaula, com verdadeiros animais, que estão ficando cada vez mais animais pelo meio em que vivem. Só tem uma forma de tirar eles dali: é pela fé”, discursou.
O estudante Misael Mendes da Rocha Júnior, 22, filho de um pastor da Assembleia de Deus do Calhau, atacou Flávio Dino dizendo que “em terra em que o comunismo pisou não nasce mais grama.”
Desde o início da corrida eleitoral, a campanha de Lobão Filho vem acusando o rival de querer implantar o comunismo no Maranhão, em referência ao nome de seu partido, e de ameaçar a liberdade religiosa no Estado. Dino, que se declara católico, também iniciou uma ofensiva pelo voto evangélico. Nesta segunda (30), por exemplo, participou de um café da manhã com pastores.
Lobão Filho evitou pedir votos explicitamente e tentou se diferenciar do governo de Roseana Sarney (PMDB), cujo grupo político o apoia. “Eu oro todo dia para que o Maranhão tenha o destino correto nas mãos da pessoa certa, para que a gente tire o Estado desse caminho que vem há tanto tempo, que não é um caminho bom para o nosso povo.”
À reportagem ele disse não negar o apoio do grupo de Roseana e do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB), que vem defendendo em comícios, mas declarou não ter sido “sócio, construtor nem conselheiro” da atual gestão. Cobrou ainda “respeito” dos rivais à governadora. “O Maranhão não é miserável como nossos adversários propagam.”