LEANDRO COLON LONDRES, REINO UNIDO – Na maior investigação desde os atentados de 2005, a polícia de Londres confirmou nesta quarta-feira (1) que encontrou o corpo de Alice Gross, 14, desaparecida desde 28 de agosto. Cerca de 600 oficiais, envolvendo detetives, peritos, entre outros especialistas, foram escalados para desvendar um caso que intriga a capital do Reino Unido. Até aviões da RAF (Força Aérea britânica) colaboraram. O corpo foi encontrado na noite de terça-feira (30) em um rio perto da área onde a jovem foi vista pela última vez

. Sua família declarou estar “devastada”. Às 16h26 (12h26 em Brasília) de 28 de agosto, câmeras registraram a adolescente cruzando uma pequena ponte ao lado do Parque Elthorne, numa região tranquila no oeste de Londres. Depois disso, nenhuma imagem dela foi captada. A polícia trabalha com um único suspeito, Arnis Zalkalns, 41, imigrante da Letônia. Ele aparece em uma imagem às 16h daquele dia de bicicleta em outra ponte, a Brentford Lock, cruzada por Alice 15 minutos antes. Zalkalns passou sete anos na prisão do seu país pelo assassinato da mulher em 1998, antes de se mudar para o Reino Unido, em 2007. Em Londres, vivia num quarto na Boston Road, a poucos minutos de onde a garota apareceu pela última vez. Zalkalns sumiu em 3 de setembro, deixando para trás o passaporte -mesmo assim, os investigadores não descartam sua fuga para a Letônia.

A polícia tem sido alvo de crítica da mídia britânica por tê-lo identificado como suspeito somente depois de 16 de setembro, o que teria possibilitado sua fuga. A reportagem esteve na terça (30) no percurso feito pela garota, incluindo a ponte Trumpers Way, onde ela foi vista pela última vez. “Estamos todos assustados. Eu atravesso a ponte diariamente com meus dois filhos, nunca imaginei que algo pudesse acontecer aqui”, diz a polonesa Magda Piklul, 30, que vive na área. Fitas amarelas haviam sido espalhadas pela região como símbolo da busca, com cartazes clamando por uma informação: “Encontre Alice.” O mistério se transformou na maior operação policial de Londres desde os atentados de 7 de julho de 2005, que deixaram 52 mortos no transporte público da cidade. Londres é uma espécie de “Big Brother” -estimativas indicam mais de um milhão de câmeras. Em todo o Reino Unido, a média é de uma câmera para cada 14 pessoas. A polícia estima que 95% dos crimes são desvendados com auxílio de uma CCTV. Ou seja, o mistério sobre o que aconteceu com Alice após a última imagem captada é um drama para sua família, que, ao mesmo tempo, coloca em dúvida a eficácia do sistema. ÚLTIMOS MOMENTOS As câmeras flagraram quatro vezes o percurso de Alice a partir das 13h de 28 de agosto de sua casa, onde mora com os pais, perto de uma estação de trem, até a última gravação, na ponte Trumpers Way. “Depois disso, nenhuma câmera captou mais sua imagem”, diz Carl Mehta, chefe da polícia. A mochila de Alice foi localizada em 2 de setembro, perto do rio e com os sapatos que usava naquele dia. O telefone celular deixou de funcionar às 17 horas, 34 minutos após a imagem registrada. Nos primeiros dias, a polícia chegou a adotar uma linha de investigação em torno de suposto ato de rebeldia de Alice, que sofreria de anorexia. Mas mudou de caminho após identificar o suspeito.