ANDRÉ UZÊDA
FORTALEZA, CE – O governo Cid Gomes (Pros-CE) abriu processo administrativo contra 18 oficiais da Polícia Militar do Estado por envolvimento em “manifestações político-partidárias” nas eleições.
Na prática, os militares estão sendo processados –e podem ser expulsos da corporação– por terem manifestado apoio ao deputado estadual eleito Capitão Wagner Sousa (PR), desafeto de Cid.
A abertura dos processos foi publicada na última terça-feira (20) no “Diário Oficial” do Estado, Entre os “rebeldes” há cinco capitães, cinco tenentes, cinco majores do Corpo de Bombeiros, um major da PM e dois coronéis da PM (um da reserva e outro na ativa).
O grupo gravou um vídeo no primeiro turno em apoio a Sousa, eleito deputado estadual com votação recorde. O PM é rival de Cid desde a greve da corporação que liderou no Estado em 2011.
Sousa apoia neste ano o candidato opositor Eunício Oliveira (PMDB), adversário de Camilo Santana (PT), nome de Cid.
O processo foi aberto, segundo a publicação no “Diário Oficial”, por descumprimento de ponto do regimento interno da PM que proíbe a participação de oficiais em “manifestações político-partidárias”.
Os citados irão responder a inquérito militar na Controladoria Geral de Disciplina, órgão subordinado à Secretaria de Segurança Pública. Também foram exonerados de cargos de confiança que ocupavam na pasta.
Em última instância, caso condenados, poderão ser expulsos da corporação.
No vídeo em questão, que circulou na internet, os militares aparecem sem farda, mas se identificam como oficiais e pedem votos para Sousa.
‘PERSEGUIÇÃO’
Em entrevista nesta semana, Sousa classificou o caso como “perseguição política”. E disse que delegados e policiais que manifestaram apoio ao candidato de Cid não sofreram sanções.
O major do Copor de Bombeiros Luiz Onofre, 44, um dos oficiais que respondem a processo, disse se sentir perseguido pela gestão Cid.
“Não tenho um único registro contra minha conduta em 22 anos como oficial. Agora, só porque resolvi seguir uma orientação política diferente da do governador, estou sendo ameaçado de deixar a corporação. Isso é, sim, perseguição política”, afirmou ele, que disse ter sido transferido quatro vezes de seção nos últimos meses.
Procurada, a Controladoria Geral de Disciplina não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.
‘MILÍCIA’
No dia do primeiro turno, a PM fez 59 detenções por suspeitas de crimes eleitorais –48 supostamente praticados pela coligação de Camilo, e 11, pela de Eunício.
Um vereador da base de Cid foi detido em Sobral, reduto político dos irmãos Gomes. O governador foi à delegacia e bateu boca com policiais. Na saída, disse que a detenção era reflexo da “milícia que começa a tomar posse do aparelho de segurança do Ceará”.
Cid tem dito que a PM tem um “comando duplo” orquestrado para prejudicar Camilo, e policiais dizem que o governo dificulta a fiscalização de crimes eleitorais.
Em razão do clima de instabilidade envolvendo a polícia no Estado, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) liberou o envio de 2.500 homens da Força Nacional para reforçar o patrulhamento em cinco cidades da região metropolitana de Fortaleza no segundo turno das eleições.
Nesta quinta-feira (23), a Justiça Eleitoral no Estado fez um novo pedido, para incluir também outras 11 cidades do interior do Estado.