SAMY ADGHIRNI CARACAS, VENEZUELA – O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta sexta-feira (24) a demissão do seu ministro da Justiça, Interior e Paz, acusado de abuso numa recente operação policial que matou cinco paramilitares governistas. Miguel Rodriguez Torres, no cargo havia 19 meses, será substituído pela almirante Carmen Meléndez, até então ministra da Defesa. Meléndez é a primeira mulher a comandar tanto a pasta de Defesa como a da Justiça, Interior e Paz, que inclui o controle do aparato policial. O novo ministro da Defesa é o general Vladimir Padrino Lopez. A saída de Rodríguez Torres era exigida por alguns “coletivos”, como são chamadas as organizações, misto de missões sociais e grupos armados, que atuam nas comunidades com respaldo do governo. A crise atual estourou em 7 de outubro, quando agentes da polícia científica CICPC invadiram um prédio de Caracas que abriga um “coletivo”. Cinco integrantes foram mortos, numa ação qualificada de execução sumária por testemunhas. Entre as vítimas estava José Odreman, líder do coletivo 5 de Março. Rodríguez Torres alegou que os mortos eram delinquentes e assassinos, mas não foram apresentadas provas de envolvimento com o crime. Amigos de Odreman questionaram o fato de ele ser chamado de criminoso e, ao mesmo tempo, ter sido enterrado no “cemitério dos mártires”, onde ficam tumbas de ilustres simpatizantes do governo. O enterro de Odreman foi custeado pelo governo. Redes sociais estão cheias de fotos mostrando Odreman ao lado de ministros e até de Maduro. Membros do 5 de Março apoiados por outros “coletivos” ensaiaram protestos de rua e exigiram explicações de Maduro, gerando temores de escalada armada com a polícia. A queda do ministro foi comemorada por aliados de Odreman. “É um gesto de confiança em direção aos ‘coletivos’ e uma resposta do governo mostrando que a ação do CICPC foi mesmo um homicídio”, disse à Folha um dos chefes do 5 de Março. A mudança de ministro, porém, não elimina risco de novos atritos, já que a morte de Odreman expôs divergências entre “coletivos” mais críticos do governo, como o 5 de Março, e outros, mais alinhados. “Coletivos” em sua forma atual foram criados após o fracassado golpe de 2002 contra o então presidente Hugo Chávez, que os chamou de “braço armado da revolução.” Segundo analistas, a ideia era que Chávez pudesse contar com uma força armada enraizada nas comunidades para se contrapor aos militares, vistos como pouco confiáveis. Críticos dizem que alguns “coletivos” hoje são bandos criminosos que fugiram do controle oficial.