SÃO PAULO, SP – Em uma cooperação sem precedentes entre dois antigos inimigos da Guerra Fria, Estados Unidos e Cuba participam, a partir desta quarta-feira (29), de uma reunião técnica para elaborar medidas contra a propagação do vírus ebola nas Américas.
O encontro de dois dias acontece em Havana e reúne, além de Cuba e EUA, o Canadá e 29 nações da América Latina e do Caribe.
Os EUA enviaram um funcionário do serviço de saúde para a reunião.
Convocada há nove dias pelos líderes dos países da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), bloco formado por nove países –entre eles Bolívia, Cuba, Venezuela e Equador–, a conferência tem também representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo Roberto Morales, ministro da Saúde de Cuba, o objetivo do encontro é o intercâmbio de critérios para enfrentar a doença.
“Cada país tem de estar preparado para dar uma resposta [se surgirem casos]. Não teremos tempo para chegar a uma resposta internacional”, afirmou Morales na abertura do encontro.
Cuba já enviou 256 médicos e enfermeiros aos países africanos mais afetados pelo vírus.
O representante dos EUA na reunião, Nelson Arboleda, disse que seu país “está disposto a cooperar com todos os atores que trabalham na região para garantir que tenhamos uma resposta global eficaz contra este vírus”.
Diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, Arboleda afirmou que, “por meio da Organização Pan-Americana da Saúde, estamos garantindo que todas as nossas atividades sejam coordenadas de forma adequada e eficiente”.
Rompendo uma tradição de relacionamentos problemáticos e recriminações mútuas que começou há meio século, durante a Guerra Fria, EUA e Cuba têm usado palavras amáveis na luta contra o ebola
Os esforços da ilha comunista já renderam elogios incomuns do secretário de Estado dos EUA, John Kerry.
Tanto o presidente cubano, Raúl Castro, como seu irmão Fidel, que deixou o poder em 2006, têm declarado a vontade de cooperar com os EUA no combate ao ebola.
Para especialistas, tais declarações são sinais de esperança de aproximação, embora ainda seja muito cedo para vislumbrar uma aproximação iminente entre os dois países, que não têm relações diplomáticas formais desde 1961.
Desde 1962, os mandatários americanos e cubanos só se encontram na Assembleia-Geral da ONU, e normalmente não se cumprimentam.
Em dezembro do ano passado, Barack Obama e Raúl Castro se cumprimentaram com um aperto de mãos em uma cerimônia religiosa em memória ao ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela.
Em 2000, Bill Clinton e Fidel apertaram-se as mãos durante a crise provocada pela disputa entre os pais do menino cubano Elián González.
A conferência para organizar o combate ao ebola está sendo realizada no Palácio das Convenções de Havana, onde também ocorrem as negociações de paz entre o governo colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).