DIANA BRITO
RIO DE JANEIRO, RJ – O presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous, afirmou nesta segunda-feira (24) que pretende se reunir com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) até o fim do ano para insistir na transformação do antigo prédio do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), na região central do Rio, em um centro de memória em homenagem aos presos políticos da ditadura militar (1964-1985).
Damous diz ser “inaceitável” dividir o espaço –localizado na rua da Relação– com a Polícia Civil, responsável pela administração do imóvel tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional). Segundo o assessor de Relações Institucionais da polícia, delegado Gilbert Stivanello, o prédio vai abrigar o museu da corporação, mas parte do espaço pode ser usado para o centro de memória dos presos políticos.
“É de difícil entendimento compartilhar um centro de memória de perseguidos políticos com os perseguidores. Aqui, basicamente naquele período da década de 30 até início de 70, era o Dops –onde os presos ficavam para prestar depoimentos”, destacou Wadih Damous, após visitar com ex-presos às celas em diligência no final da manhã desta segunda.
A ideia da comissão é que o espaço também seja usado para sediar um conselho de defesa aos direitos humanos. O presidente da comissão lembra que passaram pelo Dops presos emblemáticos como Olga Benário, Mário Lago, Luiz Carlos Prestes e Carlos Marighella.
Damous diz que há muitos relatos de mortes e torturas no prédio da década de 30 até início de 70. Entre os ex-presos que visitavam o Dops, apenas a jornalista e tradutora Maria Helena Guimarães Pereira, 69, afirmou ter sido torturada no local em 1972.
“Não foi só tortura psicológica não. Fui agredida aqui e perdi um filho de quatro meses”, disse chorando ao relembrar que na ocasião foi presa grávida. “E depois que saí perdi outro filho”, lamentou, se referindo às sequelas da tortura.
Outros ex-presos contam que nunca viram nenhuma tortura no Dops. Eles dizem que iam “do inferno para o purgatório” quando eram transferidos do DOI-Codi [centro de repressão do Exército], na Tijuca (zona norte) para o Dops. “Tinha uma solitária medieval no último andar, as celas e as salas para colher depoimentos, mas nunca vi ninguém sendo agredido aqui”, recorda Newton Leão Duarte, 65, ex-torturado, que ficou cinco meses preso na década de 70.
Na visita da Comissão da Verdade o clima ficou tenso com uma discussão entre o delegado Stivanello e a ex-presa Maria Helena Pereira. “Ele foi desrespeitoso quando disse que foi só tortura psicológica”, afirmou a jornalista. No final do encontro, o delegado se retratou com Helena alegando que foi mal interpretado.
“Esse prédio pertence à Polícia Civil. O que foi do Dops será preservado. Mas pedimos compreensão porque as pessoas que estão na Polícia Civil não são as mesmas daquela época. As salas reconhecidas serão preservadas e restauradas. Não queremos apagar isso”, disse Stivanello.