FABIO BRISOLLA RIO DE JANEIRO, RJ – Uma bactéria resistente a antibióticos, chamada de KPC, foi detectada em uma das cinco raias demarcadas para os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Situada próximo à Praia do Flamengo, esta área de competição foi batizada como raia Pão de Açúcar no evento-teste de Vela organizado pelo comitê olímpico em agosto passado. O Instituto Estadual de Meio Ambiente (Inea) confirmou nesta terça-feira (16) a presença da KPC nas praias de Botafogo e do Flamengo, na zona sul carioca. Neste mesmo perímetro fica a raia de competição, que, aliás, é o ponto de provas mais próximo da Marina da Glória, a sede do torneio de vela olímpico. A contaminação pode resultar em infecções na corrente sanguínea, no sistema urinário e pneumonia. Por sua resistência a antibióticos, a KPC passou a ser chamada de superbactéria. “Essa notícia tem um impacto muito negativo na comunidade de vela internacional. Obviamente causa preocupação”, lamentou o campeão olímpico Torben Grael, atual treinador da seleção brasileira de vela, que compareceu na noite desta terça ao Prêmio Brasil Olímpico, no Teatro Municipal do Rio. Questionada pela reportagem, a presidente do Inea, Isaura Fraga, desaconselhou o treinamento na raia Pão de Açúcar, quando a água estiver classificada como imprópria pelo instituto. Desde o início do ano, o Inea passou a monitorar a qualidade da águas nas cinco raias olímpicas da Baía de Guanabara. Em cinco das 13 medições realizadas em 2014 na raia Pão de Açúcar, o nível de coliformes fecais estava acima do limite máximo. Durante a regata internacional promovida em agosto, o comitê organizador celebrou a qualidade da água nas raias, aprovada nos testes do Inea. Desde então, o mesmo instituto classificou a água como imprópria na raia Pão de Açúcar nos meses de setembro, outubro e dezembro. Em novembro, as condições foram consideradas adequadas. ORIGEM DA KPC Segundo Renata Picão, microbiologista da UFRJ, a KPC foi detectada dentro de hospitais e começou a ser conhecida em estudos internacionais publicados a partir de 2010. Ela minimiza, no entanto, o potencial da bactéria fora do ambiente hospitalar. “Esta não é uma bactéria agressiva ou, usando um termo técnico, uma bactéria virulenta. A KPC pode causar infecções somente em pessoas com sistema imunológico debilitado. Por isso, os casos de infecção já registrados ocorrem sempre dentro de hospitais”, disse a microbiologista. O Inea firmou uma parceria com a UFRJ, que monitora o KPC na cidade do Rio desde fevereiro de 2013. Os testes regulares realizados pelo Inea detectam apenas o nível de coliformes fecais, que concentram diversos tipos de bactéria. A identificação específica da KPC é realizada pela equipe da UFRJ. “Nós fizemos um cruzamento dos resultados dos testes do Inea com os da UFRJ. E ficou comprovado que, quando o Inea classifica a água como própria para banho, não há chances de haver a presença da bactéria KPC. Já quando a praia está imprópria, a bactéria pode aparecer”, explicou Isaura Fraga. “Não podemos tratar com alarmismo esta situação. Mas é preciso seguir as orientações de balneabilidade divulgadas pelo Inea.”