DIOGO BERCITO MADRI, ESPANHA – Quando em 2005 foram marcados os 60 anos da liberação do campo de concentração de Auschwitz (Polônia), um símbolo do horror do nazismo, 1.500 sobreviventes participaram dos eventos para recordar essa história. São entretanto esperados para esta terça-feira (27), quando se completam os 70 anos da data, apenas 300 deles. Em entrevista ao jornal americano “New York Times”, Andrzej Kacorzyk, vice-diretor do museu de Auschwitz-Birkenau, afirmou assim que 27 de janeiro de 2015 será “o último aniversário de década com presença visível de sobreviventes”.

A magnitude da tragédia continua a mesma, e enorme, mas com o tempo os sobreviventes têm envelhecido e morrido. Os que permanecem se preocupam, agora, em manter também viva a memória daqueles anos cruéis vividos em Auschwitz e em outros dos campos. “Eu luto para essa memória não ser esquecida”, diz à reportagem Henry Nekrycz, 90, nascido em Lodz (Polônia). Ele, que esteve em Auschwitz, ainda se lembra de quando foi libertado. “De manhã, avistamos de longe os tanques americanos.” Nekrycz pesava 28 quilos no dia do resgate. Tinha tuberculose, escorbuto e disenteria. “Não dormíamos devido à fome”, diz. Ele perdeu quase toda a família ali. Depois de um período em Israel, viajou ao Brasil em 1955, onde preside uma associação de sobreviventes. “A maior parte da nova geração não sabe nada sobre o Holocausto. Mas precisamos nos assegurar de que o que ocorreu ali nunca vai se repetir. Não importa se o aniversário é de 70 ou 700 anos. Não pode ser esquecido.” O historiador brasileiro Avraham Milgram, pesquisador no Yad Vashem –memorial do Holocausto em Jerusalém–, diz que “os sobreviventes são um elo importante” no processo de manutenção da memória, pois “eles personificam a história”. “Mas temos depoimentos em vídeo e, assim, eles estarão presentes mesmo quando não estiverem vivos.”

PRESENTE

O evento de terça-feira irá contar com a presença de chefes de Estado como os de França e Alemanha e com a ausência do presidente russo Vladimir Putin, que afirmou ter a agenda demasiado lotada para tal, além de não ter recebido um convite formal. Sua falta será interpretada como gesto político, pela crise ucraniana. A própria cerimônia terá uma carga política em si, já que ocorre no mesmo mês em que um homem armado atacou um mercado judaico em Paris. A comunidade judaica tem denunciado, nos anos recentes, crescimento no antissemitismo europeu.