EDUARDO CUCOLO
BRASÍLIA, DF – A liberação de novos financiamentos para compra de veículos por pessoas físicas alcançou em dezembro do ano passado o maior valor desde dezembro de 2010. A concessão de R$ 10,1 bilhões foi influenciada, segundo o Banco Central, pelo fim do benefício do IPI reduzido.
Em dezembro, as concessões subiram 24% em relação a novembro. No ano, no entanto, o avanço foi de apenas 2,6%.
O estoque de financiamentos para veículos caiu 4,4% no ano. Segundo o BC, o dado reflete a antecipação da compra desses bens em anos anteriores. Em 2010, por exemplo, essa carteira avançou 49%. Em 2011, 27%. Desde 2013, entretanto, o saldo tem recuado.
Segundo o BC, a tendência é que a antecipação de compras para aproveitar o benefício (que ainda é oferecido por algumas montadoras) leve novamente a uma queda nas concessões nos próximos meses.
IMÓVEIS
Outro segmento que mostrou perda de ritmo em 2014 foi o crédito imobiliário, que cresceu 27%, ante 34% em 2013. “Essa tendência de moderação deve seguir em 2015”, afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
Ele disse que, apesar do aumento das taxas de juros nessa modalidade pela Caixa, há outro fator que serve de incentivo para as concessões, que é a desaceleração no aumento do preço dos imóveis.
“Talvez o mais importante nesse segmento seja o preço do imóvel em si. A tendência nos últimos anos é um crescimento cada vez menor do preço dos imóveis.”
Maciel também destacou a queda de 0,5% nas concessões do BNDES (banco estatal de investimento) em 2014. Em 2013, houve aumento de 23%.
IOF
Para o BC, o aumento do IOF (imposto sobre operações financeiras) no crédito às pessoas físicas que começou a valer na semana passada deve ter impacto “modesto” sobre o comportamento do crédito neste ano.
Maciel afirmou que o aumento de 1,5% para 3,0% no tributo pesa mais para os empréstimos de curto prazo, uma vez que a cobrança se dá nos 12 primeiros meses da operação. “Isso fica mais diluído em concessões acima de 12 meses”, afirmou.
O BC prevê expansão de 12% no crédito total em 2015, acima dos 11,3% verificados em 2014. Embora a pesquisa atual de crédito da instituição considere o saldo a partir de 2007, Maciel afirmou que é possível comparar os dados com a pesquisa antiga. Nesse caso, é possível dizer que o crescimento do ano passado foi o menor desde 2003, quando o estoque de dívidas avançou 8,8%.
Segundo o BC, em 2014, o crédito registrou desaceleração, em linha com o arrefecimento do ritmo de atividade econômica, que afetou, principalmente, a demanda por operações com recursos livres pelas empresas e famílias.
O crédito direcionado, por outro lado, também apresentou menor expansão, mas com desempenho ainda expressivo, impulsionado pela oferta de recursos para investimentos das pessoas jurídicas e pela sustentação do crédito imobiliário.
“Nos últimos anos, o crédito tem mostrado moderação, e essa evolução é até certo ponto desejada, no sentido de que dá sustentabilidade para a continuidade de expansão do crédito”, afirmou Maciel.
BANCOS PÚBLICOS
Maciel afirmou que o crescimento do crédito nos bancos públicos tem sido maior nos últimos anos por causa da participação deles nas modalidades com melhor desempenho, como o financiamento imobiliário e o crédito para investimento do BNDES.
Isso deve se repetir em 2015, segundo o BC. O crédito nos bancos públicos deve avançar 14% neste ano, pouco abaixo dos 16,5% de 2014.
Nos bancos privados nacionais, o ritmo deve passar de 6,4% para 9%. Nos estrangeiros que atuam no país, o BC prevê aceleração de 4,5% para 7%.
Se esse cenário se confirmar, os bancos públicos continuarão a ganhar mercado em 2015. Eles encerraram o ano passado com uma fatia de 53,4% de participação no crédito.