MARCEL RIZZO, ENVIADO ESPECIAL VITÓRIA, ES (FOLHAPRESS) – Maicon tem 22 anos, e desde os 15 vive na Itália para jogar futebol. Rodrigo Ely tem 21, e também aos 15 anos deixou o Brasil para ir à Itália tentar a carreira de jogador. A dupla faz parte do projeto da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) de identificar jovens atletas com potencial e com dupla nacionalidade que podem, um dia, optar por defender outro país que não o Brasil, como o atacante Diego Costa, que preferiu a Espanha. “Já fui convocado para a seleção italiana, disputei campeonatos com o time sub-19. Mas quando fui chamado para a seleção olímpica, o coração falou mais alto”, disse Ely, gaúcho que defende o Avellino, clube da segunda divisão italiana. O zagueiro teve experiência nas categorias de base do Grêmio, mas logo cedo viajou para a Itália para fazer teste no poderoso Milan. Ficou, mas foi emprestado para dois times menores (Reggina e Verona), até chegar ao Avellino em 2014, onde se firmou e chamou a atenção do departamento de base da seleção italiana. Sua primeira convocação para a seleção brasileira foi em novembro do ano passado, para um torneio amistoso na China com a seleção olímpica (sub-23). Foi quando seu nome apareceu no noticiário brasileiro. “É importante estar na seleção também um pouco por isso, para ser reconhecido no meu país”, disse Ely, que apesar do tempo vivendo na Itália fala um português sem sotaque, diferentemente de Maicon. O lateral-direito já troca algumas palavras, fala o português com sotaque e admitiu que precisa de alguns dias para conseguir entender perfeitamente o que os companheiros de seleção estão falando. “É complicado porque falo muito pouco português na Itália. Mas devagarinho vamos nos acostumando”, disse Maicon, também gaúcho. Ele não teve experiência na seleção italiana, mas foi sondado depois de aparecer na lista de Gallo para o torneio amistoso de novembro. Agradeceu, e disse que vai tentar a sorte na seleção brasileira por enquanto -pelas regras da Fifa, um atleta só não pode jogar por outro país caso participe de uma competição oficial. “Atualmente a tecnologia permite você acompanhar o jogador mesmo estando distante, tem as estatísticas também. Mas ainda existe esse assédio [de seleções de outros países por brasileiros]. O Eder [atacante da Sampdoria] é meu amigo, estava se destacando, não foi chamado pela seleção brasileira, recebeu o convite e optou por defender a Itália”, disse Maicon. Para Maicon, a opção de Éder, catarinense de 28 anos que está há dez na Itália, é provavelmente por estar mais velho, e ter menos expectativa de ter oportunidade na seleção principal com Dunga. Em seu primeiro jogo pela seleção italiana, ele marcou um gol no empate contra a Bulgária, no sábado. O tempo fora do Brasil fez Maicon aprender uma diferença entre treinadores brasileiros e estrangeiros, o que pode ajudá-lo a permanecer na seleção brasileira. “No Brasil, o treinador te fala que você tem qualidade, você vai para o campo e joga. Na Europa é diferente. Você precisa respeitar tática, atacante corre atrás de lateral e se não cumprir não joga. São modos diferentes de jogar”, disse Maicon.