REYNALDO TUROLLO JR.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública sobre “As Mulheres nas Instituições Policiais”, divulgada nesta segunda (30), indica que 50% dos homens policiais exercem outra atividade remunerada – o chamado bico, que é ilegal -, enquanto 33,4% das mulheres policiais admitem fazer bico.
O estudo, que entrevistou 13.055 servidores das polícias Militar, Civil, Federal, Rodoviária Federal, Bombeiros e guardas municipais de todos os Estados do país, mostra também que a menor parte das mulheres (31,4%) é a favor de cotas para elas nas corporações. Entre os homens, 51,7% são a favor.
Outro dado da pesquisa é que 39,2% das mulheres policiais afirmaram já ter sofrido assédio moral ou sexual dentro das corporações. Esse índice cai para 20,1% entre os homens. O assédio, na maior parte das vezes (em 74,1% dos casos), é praticado por superiores hierárquicos.
A pesquisa foi feita em parceria com a FGV (Fundação Getúlio Vargas), a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), ligada ao Ministério da Justiça, e a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
BICOS
Segundo o vice-presidente do fórum e professor da FGV, Renato Sérgio de Lima, o estudo sugere que as mulheres fazem menos bicos que os homens porque estão estudando mais e porque executam mais tarefas domésticas durante o horário de folga.
Enquanto 41,7% dos homens disseram sempre fazer tarefas domésticas, 75,7% das mulheres responderam que as fazem sempre. Por outro lado, destaca Lima, elas estão “mais autônomas em relação à casa” do que os homens: a maioria é solteira ou divorciada e não tem filhos.
Quanto à escolaridade, 76,8% das mulheres disseram ter ensino superior completo ou pós-graduação. Entre os homens, são 56,7%.
“Olhando para os dados de uma mulher mais autônoma, eu poderia dizer que a mulher está se escolarizando mais, aproveitando esse tempo [livre] para fazer cursos, faculdade”, afirma Lima.
“Acho que isso é um perfil da própria sociedade. As mulheres em geral estão com escolaridade maior do que os homens”, analisa.
COTAS
A maioria das policiais é contra as cotas – como as que existem em Estados como Bahia e Santa Catarina, que destinam de 7% a 10% das vagas a mulheres – porque elas restringem a entrada feminina.
“Se, por um lado, as cotas garantem a participação, por outro, limitam a quantidade de vagas. Engessam a corporação para serem predominantemente masculinas”, diz o pesquisador. “Ainda tem Estados em que, se houver um capitão e uma capitã em um local, é ela que vai ter de servir café ao coronel.”
ASSÉDIO
De acordo com Lima, o percentual de mulheres que já sofreu assédio nas polícias é “compatível” com estudos feitos em empresas e outros setores da sociedade – cerca de 40%.
O problema, afirma o pesquisador, é que o estudo revela “a não existência de canais formais de denúncia e processamento desse tipo de ocorrência” dentro das corporações.
“A polícia existe para garantir direitos, mas os próprios policiais têm seus direitos desrespeitados. Se nós quisermos ser uma sociedade democrática e moderna, temos que ter a coragem de enfrentar esses tabus”, diz Lima.