RODRIGO VARGAS CUIABÁ, MT (FOLHAPRESS) – Confusão, empurra-empurra, “beijaço” e blindagem seletiva marcaram a participação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no evento Câmara Itinerante, realizado nesta sexta-feira (24) na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, em Cuiabá. Convocados por meio das redes sociais, dezenas de sindicalistas, representantes do movimento LGBT, feministas, sem-terra e estudantes tentaram sem sucesso entrar nas galerias do plenário para protestar contra o parlamentar. “Somos contra a terceirização, o racismo e a homofobia. Ele [Cunha] é a personificação de tudo o que abominamos. É o retrocesso em pessoa. Viemos aqui para que ele nos ouça”, bradou, com um tambor nas mãos, o manifestante Marcelo Santos, estudante da psicologia na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso). Mas Cunha não entrou pelo saguão principal. E a escadaria que dá acesso às galerias estava bloqueada por 11 policiais armados. Seis deles vestiam coletes à prova de balas. “As galerias serão abertas apenas para prefeitos e vereadores”, diziam os encarregados do cerimonial, em meio às vaias dos manifestantes. A restrição, porém, não valeu para integrantes do movimento liberal Muda Brasil -que defende, entre outras pautas, a renúncia da presidente Dilma Rousseff. Vestidos com a camiseta amarela do movimento, 20 manifestantes tiveram lugares reservados e puderam acompanhar, das galerias, o discurso de Cunha. Alguns lhe encaminharam perguntas por escrito. “Entramos em contato com uma semana de antecedência e pedimos a reserva. Esclarecemos que viríamos sem faixas e cartazes, apenas para ouvir. Se outros não fizeram o mesmo, não é nossa culpa. Não houve privilégio”, disse Lorena Lacerda, integrante do comitê estadual. No saguão de entrada, o momento mais tenso se deu quando manifestantes tentaram forçar o acesso às galerias. Em meio à confusão, o estudante Gabriel Carmo e Silva, vice-presidente da AME (Associação Mato-grossense dos Estudantes), escalou o parapeito da escada e foi contido pelos policiais. “Rasgaram minhas roupas e me empurraram escada abaixo. E tudo porque resolveram fazer uma audiência pública sem público”, reclamou. Para protestar contra a Polícia Militar, manifestantes do movimento gay promoveram um “beijaço” em frente aos policiais que integravam o bloqueio. Nas últimas semanas, Eduardo Cunha enfrentou protestos também em João Pessoa, São Paulo e Porto Alegre. Dentro do plenário, Cunha discursou com tranquilidade e foi aplaudido várias vezes. Defendeu a mudança no sistema eleitoral que, segundo ele, está “esgotado, fracassado”. “Um milhão de eleitores votam no Tiririca e, junto com ele, trazem um monte de tiririquinhas a Brasília. Ninguém entende isso”, disse. Sobre as críticas ao projeto de lei 4.330/04, que regulamenta a terceirização no mercado de trabalho e foi recentemente aprovado na Câmara, Cunha culpou “interesses sindicais” que “usam o trabalhador como escudo”. “Eu desafio qualquer pessoa a me apontar qual direito está sendo aviltado pelo projeto. Noventa por cento do seu conteúdo é defesa de direitos”, afirmou.