Entre as doenças que acometem o fígado, as mais comuns são: esteatose hepática, hepatites por vírus (A, B, C, D, E), doença hepática alcoólica, esquistossomose, hepatite autoimune e hepatite medicamentosa. Outras doenças menos frequentes incluem a hemocromatose (doença por acúmulo de ferro), doença de Wilson (doença por acúmulo de cobre no fígado), doenças das vias biliares intra-hepaticas, como a colangite esclerosante, a cirrose biliar primária e a colangite autoimune. Todas elas tem em comum o silêncio de sintomas.

A esteatose hepática é um acúmulo de gordura no fígado, geralmente causada por um distúrbio metabólico associado à obesidade, diabetes, elevação dos níveis de colesterol ou triglicérides. Também pode ser decorrente da ingestão abusiva de bebidas alcoólicas. Não causa sintomas, portanto somente é diagnosticada com exames de sangue ou ultrassonografia, seja de rotina ou solicitados por alguma suspeita clinica.

Sintomas como coceiras pelo corpo e sensação de fadiga ou, até mesmo, semelhantes à menopausa não costumam ser percebidos pelas pessoas como uma condição do fígado, mas podem estar relacionados a uma doença rara no órgão, a Cirrose Biliar Primaria (CBP), que é autoimune e sem causa conhecida. Os sinais iniciais são inespecíficos, fato semelhante em outras doenças do fígado. As pacientes se queixam de fadiga e mal estar por muitos anos antes de descobrir que têm a doença, que pode ter consequências graves, caso não seja tratada a tempo.

A patologia desperta menos atenção do que deveria e é mais frequente do que se considerava antes, pontua o Dr. Raymundo Paraná, médico hepatologista e professor da Universidade Federal da Bahia (UFB). A Cirrose Biliar Primária costuma atingir mulheres depois dos 45 anos e, por isso, tem seus sintomas confundidos com os da menopausa.

A CBP afeta os ductos biliares, caminhos responsáveis por levar a bile do fígado até o intestino. A bile é um fluido corporal produzido na vesícula biliar e tem a função de digerir gorduras, evitar a decomposição de alguns alimentos e absorver substâncias nutritivas da dieta no intestino. Quando os ductos biliares são agredidos, a bile formada no fígado tem dificuldade de passar e se acumula lá mesmo, agredindo o órgão. A pouca presença desse fluido no intestino dificulta a absorção das vitaminas A, D, E e K, explica o Dr. Paraná.

A consequência disso é que a paciente começa a acumular colesterol na pele, por conta da ausência da bile, o que gera as coceiras características da CBP. Em estágio avançado, podem aparecer sintomas de deficiência de vitaminas, colesterol alto e pele amarelada (Icterícia). Quando estes sintomas aparecem, a doença já está muito avançada, comenta o médico. Outro fator de risco para as portadoras de CBP, segundo ele, é a predisposição ao desenvolvimento da osteoporose.

HEPATITE B SE ESCONDE BEM
O vírus da hepatite B é mais comum e muito mais contagioso que o vírus HIV. Muitos brasileiros são portadores desse vírus, mas sequer desconfiam que convivem com ele. Na maioria das vezes, os portadores só o descobrem quando o fígado já está destruído, com diagnóstico de cirrose ou câncer do órgão. A hepatite B é transmitida por um vírus por meio de relações sexuais, da mãe para o feto ou através do sangue.

Na maioria das vezes, o vírus entra no corpo e é eliminado naturalmente. Somente 5% dos portadores do vírus desenvolve a doença que é absolutamente assintomática. Por não apresentar sintomas, é comum que o portador conviva com o vírus sem saber, o que leva a hepatite B a ser descoberta tarde demais, quando a única opção de tratamento é o transplante de fígado.

Como na maioria dos casos, a hepatite B é descoberta quando o fígado do portador já está comprometido, a única saída é o transplante do órgão. O problema é que não há fígados disponíveis para todos os pacientes. Por outro lado, nos casos em que a doença é diagnosticada mais cedo, o tratamento, caro e demorado, é feito com um antiviral.

A hepatite B pode ser evitada com a vacinação. Para alguns grupos, como médicos, enfermeiros, manicures, técnicos de laboratório, carcereiros e pacientes portadores de doenças crônicas com imunidade baixa; a vacina é gratuita, oferecida pelo SUS. Aqueles que não estiverem incluídos nesses grupos devem pagar pela vacina. De qualquer forma, é necessário tomar três doses, o que pode ser um complicador, já que muitas pessoas tomam a primeira dose, esquecem das outras e por isso não estão imunizadas.

EXAME DE SANGUE PODE AJUDAR
A Cirrose Biliar Primária é uma doença tratável. Diagnóstico e tratamento precoces podem evitar problemas sérios no fígado e, consequentemente, em todo o corpo. Já existem medicamentos que retardam o avanço e tratam a doença, além de regular o sistema imunológico, trazendo qualidade de vida ao paciente. A suspeita da doença costuma surgir após alterações em exames de sangue de rotina. Se os ductos biliares estão agredidos, há divergências nas enzimas no sangue, tais como a Fosfatase Alcalina e Gama GT. Diante da dúvida, a confirmação vem em um exame chamado ‘Anticorpo Anti-Mitocondria’.


ALGUMAS DOENÇAS DO FÍGADO

– Hepatite
– Hemocromatose
– Doença de Wilson
– Doenças da vias biliares intra-hepaticas
– Cirrose biliar primária
– Colangite Autoimune
– Esteatose hepática