MARCELO TOLEDO
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – O agronegócio, setor que vem contribuindo para evitar um PIB (Produto Interno Bruto) ainda pior, deve sofrer estagnação neste ano. Essa é a projeção do mercado ao avaliar perspectivas de negócios da Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), considerada um “termômetro” da agropecuária brasileira.
O evento começa nesta segunda-feira (27) e termina na sexta (1º), em Ribeirão Preto.
A previsão é que os negócios alcancem R$ 2,7 bilhões, mesmo valor do ano passado. Se a expectativa se confirmar, será a primeira vez na década atual que uma edição da feira não supera o volume de vendas da anterior.
Taxa de juros, dólar alto e escassez de recursos de produtores são apontados como os vilões, e empresas como Massey Ferguson e Valtra projetam queda nos negócios para este ano.
“No primeiro trimestre do ano, tivemos queda de 15% nas vendas de tratores. Em colheitadeiras, foi de 42% em relação ao mesmo período de 2014”, disse Carlito Eckert, diretor comercial da Massey.
Segundo ele, os cenários macroeconômico e político prejudicaram o setor, que teve boa demanda nos últimos cinco anos.
Em 2010, o faturamento da Agrishow alcançou R$ 1,15 bilhão, montante que subiu para R$ 1,4 bilhão no ano seguinte. Em 2012, saltou para R$ 2 bilhões e, em 2013, para R$ 2,6 bilhões.
Para Márcio Leão, diretor comercial das indústrias Dria e TMA, fabricante de máquinas para lavouras de cana, a feira já “será um sucesso” se repetir o desempenho do ano passado.
“Principalmente devido à crise do setor sucroenergético. As taxas do Finame e do Moderfrota [linhas de financiamentos] subiram e estamos com um pé no chão.”
Apesar do pessimismo, a Agrishow é vista como esperança para o setor.
“Estamos prevendo queda neste ano, mas o importante vai ser a Agrishow. Ela mostrará como vai se comportar a indústria ao longo do ano”, disse Jak Torretta, diretor de produtos da multinacional AGCO, em referência à marca Valtra, de máquinas para colheita de cana.
Com 800 expositores e previsão de receber 160 mil visitantes, a feira não terá neste ano um setor voltado a caminhões, devido à concorrência com um evento setorial e às condições de financiamento, que sofreram mudanças, segundo José Danghesi, diretor da feira agrícola.
Vice-presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) -uma das organizadoras-, Francisco Matturro disse temer cortes em linhas de financiamento num momento em que as compras de insumos já ficarão mais caras. “O dólar preocupa, pois 78% dos insumos são importados”, afirmou.
Em meio ao ceticismo, Marco Antonio Martins, superintendente da KBM Equipamentos Agrícolas, projeta crescimento para 2015.
“[A alta dos juros] É preocupante, pois 85% das nossas vendas são viabilizadas por financiamentos. Mesmo com incertezas, esperamos vender 30% a mais na Agrishow”, disse.