AGUIRRE TALENTO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O conselheiro de administração da Petrobras Mauro Cunha -que havia desistido de concorrer à reeleição do cargo- sinalizou nesta terça-feira (28) à CPI da Petrobras que foram negadas solicitações de reuniões extraordinárias do órgão ao longo de 2014 para tratar dos fatos investigados na Operação Lava Jato.
Segundo ele, as reuniões extraordinárias só passaram a ocorrer a partir de novembro de 2014, quando as denúncias de irregularidades já estavam em nível avançado.
“Ao longo de 2014 houve solicitações minhas e do conselheiro José Monforte para realização de reuniões extraordinárias que foram negadas. Elas começaram a acontecer com velocidade grande a partir de novembro de 2014, mas a partir desse momento nós estávamos de fato apagando incêndio”, afirmou.
Ele criticou a atuação do conselho, afirmando que não funcionava bem, e disse que também a ouvidoria-geral não tinha funcionamento adequado para receber denúncias.
“Eu acho que alguns dos canais que o conselho tinha para identificar eventuais mal-feitos não estavam funcionando adequadamente. Foi identificado durante o ano de 2014 que, em todo esse período, a ouvidoria-geral da Petrobras não havia recebido uma só denúncia com relação a atos de corrupção da natureza investigada pela Lava Jato”, disse.
O conselheiro havia anunciado no fim de março que não concorreria mais ao cargo, o qual deixará formalmente nesta semana, e na ocasião fez críticas à estatal. Em carta, o executivo disse que tomou a decisão diante da “incapacidade do acionista controlador [a União] em agir com o devido grau de urgência para reverter os inúmeros problemas que trouxeram a Petrobras à situação atual” e frente aos “abusos cometidos contra a companhia”.
GASOLINA
À CPI, Mauro Cunha também criticou a política de preços para a gasolina praticada pela estatal e os critérios usados para a divulgação do balanço da estatal.
Para ele, o cálculo dos prejuízos causados pela corrupção não foi feito corretamente.
“Como foi dito pela própria Petrobras na defesa que protocolou na semana passada nas ações nos Estados Unidos, a empresa não pagou propina pra ninguém aparentemente. Nesse sentido, o lançamento do valor de 3% [de propina] calculado sobre os contratos me parece inoportuno e inadequado. Eu entendo que eventual fraude, se constatada e transitada em julgado, deveria ser lançada naquele momento, e não neste. Eu temo muito que este número será utilizado como base para ressarcimento ou acordo de leniência”, afirmou.
Para ele, o prejuízo à estatal deve ser maior que os 3% dos contratos.
Seu depoimento à CPI da Petrobras foi voltado especificamente para a sub-relatoria que investiga irregularidades na construção de refinarias, comandada pelo sub-relator Altineu Côrtes (PR-RJ).