Lembro-me até hoje. Era 8 de março de 2008. O Iron Maiden faria um show “no quintal” de casa, a Pedreira Paulo Leminski (há 13 anos moro em frente à Pedreira), e eu, ainda adolescente, estava inconsolável. Toda a minha família veria Bruce Dickinson e companhia, menos eu – aquele, aliás, foi um dos últimos shows antes da Justiça mandar fechar o espaço para shows.

Na tentativa de me consolar, minha mãe prometeu me ajudar ir a um show que aconteceria menos de um mês depois, em São Paulo. Era o show de Ozzy Osbourne, “O Príncipe das Trevas”. O palco foi o antigo Palestra Itália, estádio do Palmeiras. Black Label Society e Korn abririam a noite de rock na capital paulista.

Para poder realizar um dos meus sonhos juvenis (o outro, que eu imaginava ser impossível de se realizar, era poder assistir ao vivo o Black Sabbath com o Ozzy), tive de me desfazer da minha coleção de CDs e também arranjei alguns “bicos”. Valia a pena. Ainda mais porque eu acreditava que aquela seria a única oportunidade de ver o “Príncipe das Trevas” ao vivo.

Acabei me enganando. Mas também fiquei ainda mais viciado em Ozzy e Black Sabbath após viver uma das melhores noites da minha vida no show da turnê de “Black Rain” – a galera incendiou com Zakk Wylde, que tocou com o Black Label e depois com o Ozzy, e não parou de pular e cantar um minuto sequer. Três anos depois acompanhei também a turnê Scream. O show não foi dos melhores – a abertura do Sepultura foi impecável, mas o Ozzy deu sinais de cansaço, errando o tempo de algumas músicas. Os fãs acabaram salvando e cantaram pelo ídolo.

Em 2013, fiquei surpreso ao ver novamente o Ozzy (dessa vez com o Sabbath) mostrando o mesmo fôlego de cinco anos antes. Novamente, assim como nas duas vezes anteriores, delírio entre os fãs – tinha até gente chorando por conseguir, finalmente, assistir os precursores do Heavy Metal com sua formação original (quase, na verdade, já que Bill Ward ficou de fora e foi substituído por Tommy Clufetos).

Mas nunca imaginei que teria a oportunidade de assistir meu ídolo no “quintal de casa”. Por isso, as expectativas eram bem grandes para o show desta terça-feira (29), no Monsters Tour. Era a vez de Curitiba delirar, enlouquecer com o Príncipe das Trevas. E não bastasse, ainda teríamos Motörhead e Judas Priest, outras duas lendas do hard rock/ heavy metal.Não tinha como não ser perfeito…

Os shows foram lindos, até acima do esperado (tendo em vista a idade de alguns protagonistas e também o problema de saúde que afetou recentemente Lemmy Kilmister). Mas a verdade é que a noite acabou deixando a desejar. 

O Motörhead, primeiro a subir ao palco, por volta das 18h30, se saiu bem. Mesmo com Lemmy Kilmister debilitado – a banda chegou até a cancelar a apresentação que faria em São Paulo no último final de semana – tocou por cerca de uma hora e dez minutos e chegou a empolgar os fãs – muitos, porém, pegaram apenas parte do show (caso da minha namorada e de um amigo meu, por exemplo, que escutaram apenas “Overkill”, a última música que os caras tocaram). Uma pena que a apresentação tenha acontecido tão cedo, quando muitos ainda saíam de se deslocavam para a Pedreira após mais um dia de trabalho e/ou estudos.

Quando o Judas Priest entrou no palco, duas horas depois do Motörhead, a Pedreira já estava lotada. E Rob Halford, Ian Hill, Glenn Tipton, Scott Travis e Richie Faulkner acabaram sendo os protagonistas da noite. Levantaram os fãs com a voz afiada de Halfor e clássicos como “Breaking the Law” e “Painkiller”. Ainda teve tempo para o vocalista aparecer em uma Harley Davidson.

Tudo parecia ir muito bem, mas talvez a chuva que começou a cair no final da apresentação do Judas Priest tenha feito o ânimo de muita gente esfriar.

Quando Ozzy foi cantar sua primeira música, “Bark at the Moon”, pela primeira vez o som da Pedreira falhou. Ainda assim, o baile seguiu. E com o público incendiado, cantando junto, pulando, ficando “extra, extra crazy”, como pedia o “Príncipe das Trevas”.

Mas a euforia e a agitação duraram pouco e logo veio a apatia. Em vez de mãos balançando no ar, o que se via eram celulares – um verdadeiro mar de celulares. Poucos cantavam junto, enlouqueciam, e outros tantos começaram a ir embora cedo. Até mesmo o próprio Ozzy não interagia tanto quanto em outros shows (talvez fosse o cansaço).

Após “I Don’t Wanna Change the World”, o cantor, como em todos os seus show, afirmou que cantaria mais uma música e que, se todos ficassem “muito loucos”, ele poderiam cantar outra. O “Príncipe das Trevas”, então, tentou agitar o público. Por três vezes. “Let’s get extra, extra, extra fucking crazy”.  Não conseguiu.

Ozzy ainda cantou as clássicas “Crazy Train” e “Paranoid” antes de se despedir de Curitiba, sua noite fria e seu público, que em alguns momentos foi igualmente frio.