DIOGO BERCITO, ENVIADO ESPECIAL
GORKHA, NEPAL (FOLHAPRESS) – No pequeno vilarejo de Purandi, no interior montanhoso do Nepal, os moradores conhecem melhor os tremores de terra do que os funcionários do governo local.
Quando a reportagem visitou esse povoado, uma semana depois do violento terremoto do dia 25, eles já tinham desistido de contar o número de réplicas. A região de Gorkha, epicentro do tremor, é uma das mais afetadas neste país.
Na própria manhã de sábado (2) a terra sacudiu outra vez, destruindo parte do que a população tinha reconstruído sozinha. No meio-tempo, dizem os moradores, a presença do Estado ali foi nula.
Cerca de 200 pessoas vivem em Purandi. Eles levam a reportagem por uma espécie de tour da destruição. Pelos caminhos de pedra, em meio ao barro, mostram que somente uma das 30 casas não foi danificada ali. Aterrorizados pela ideia de um novo tremor, dormem do lado de fora, em tendas de lona.
“Hoje mais coisas foram destruídas. Tenho muito medo. Tenho medo até mesmo de estar sentada aqui”, diz Gita Panta, 37, de cócoras do lado de fora de sua barraca.
A crise enfrentada pelos moradores de Purandi está, em parte, relacionada a seu isolamento em relação ao governo central. São cerca de 150 quilômetros até ali desde a capital, Katmandu, mas em uma estrada tão acidentada e curvada que a viagem leva cinco horas. Não há mercados, hospitais ou escolas.
Tampouco há muita informação. Os habitantes dizem, por exemplo, que não faziam ideia que houvesse chance de um forte terremoto no país – apesar de o governo, em tese, conhecer a probabilidade. “Ouvíamos as histórias do outro terremoto [de 1934] como se fossem uma lenda”, diz Kishor Babu, 40.
De pé nos destroços de uma casa, construída com pedras irregulares e barro, Baburum Sedhai, 60, diz que também nunca foi avisado de que o material não era adequado para resistir a um tremor. “Agora, preferimos dormir no relento do que reconstruir do mesmo jeito.”
DESIGUAL
O terremoto do dia 25 afetou o Nepal de maneira desigual. No caminho entre Katmandu e Purandi, por exemplo, os relatos de destruição seriam impensáveis – ali, casebres construídos em penhascos resistiram como se nada tivesse acontecido.
O último trecho do trajeto, em especial, é marcado pelo idílico dos cartões-postais do país: montanhas altas, rios caudalosos, o canto das cigarras e bananeiras crescendo pela estrada. Por ali, moradores atravessam vales em pontes móveis, com uma plataforma de madeira que é movida puxando uma corda.
Mas regiões como a província de Gorkha, onde está o vilarejo, e o vale de Katmandu, onde está a capital, foram especialmente impactados. Há inúmeras histórias de povoados que foram desfeitos em poucos segundos. O número de mortos já excede 7 mil, e o governo estima que vá superar os 10 mil.
Há intenso trabalho de ajuda humanitária no país, mas atrasado por dificuldades logísticas, como as dimensões do aeroporto de Katmandu. Em Purandi, algumas tendas e alimento foram entregues, mas os moradores dizem que vão precisar de muito mais. “Se ninguém nos ajudar, vamos morrer assim”, diz Ram Acharya, 58.