Medina deixou o Coritiba por não concordar com imediatismo e gastança

João Paulo Medina deixou no último sábado o cargo de CEO do Coritiba. Nessa quinta-feira (dia 21) divulgou uma carta explicando sua saída. O principal motivo, segundo o texto, foi o imediatismo e a tendência à gastança que tomaram conta do clube após a derrota para o Operário, na final do Campeonato Paranaense.

A finalidade traçada para este primeiro ano de gestão era formar uma equipe competitiva, porém com menos recursos financeiros. Por isso, fiquei surpreso com as reações internas do clube após as finais do Campeonato Paranaense. A convicção em relação aquilo que estávamos fazendo na implantação de um novo modelo de gestão técnica, se revelou mais frágil do que imaginava, escreveu. Ao longo da carta, Medina justifica que seu principal propósito no clube era um projeto de longo prazo.

Veja a carta na íntegra, publicada pelo site Coxanautas.com.br:

Esclarecimentos sobre minha saída do Coritiba como CEO de Futebol

Como é do conhecimento geral, apresentei no último sábado (16/05/2015), conjuntamente com o vice-presidente Ricardo Guerra, a carta de demissão do cargo de CEO do Futebol, ao presidente Rogério Bacellar, a quem sou agradecido pela confiança e oportunidade que me concedeu de voltar a atuar em um clube de destaque nacional, depois de alguns anos de dedicação exclusiva ao meu projeto da Universidade do Futebol.

Como a carta de demissão foi sucinta e provocou uma série de dúvidas e interpretações equivocadas (algumas até maldosas) sobre as reais razões do meu afastamento, achei necessário fazer alguns esclarecimentos, pelo menos àqueles que torciam para que a nossa participação pudesse contribuir para a profissionalização e modernização do Coritiba.

O que me motivou a encarar este desafio e aceitar as atribuições que me foram conferidas, em comum acordo com a atual direção do clube, foi a possibilidade que enxerguei de contribuir para elevar o Coritiba, nos próximos anos, à posição de vanguarda e liderança no desenvolvimento de um novo modelo de gestão técnica e administrativa para os clubes do futebol brasileiro. Minha expectativa era também de que pudéssemos todos juntos (executivos, dirigentes estatutários e toda a comunidade Coxa-Branca), levantar as bandeiras da transformação do futebol brasileiro, através deste clube centenário.

Sempre foi do conhecimento dos atuais dirigentes que não aceitei esta função importante e altamente estratégica para o futuro do clube pensando prioritariamente no curto prazo, embora reconheça a sua importância dentro da nossa cultura imediatista, mas que infelizmente tem provocado um círculo vicioso de trocas constantes de convicções e que, sem dúvida, tem contribuído para levar o futebol brasileiro à situação de crise que se encontra hoje. Sabemos que mudanças radicais e consistentes não ocorrem de uma hora para outra e exigem perseverança e confiança no que se está fazendo, principalmente daqueles que exercem o poder político na instituição. A construção de um trabalho coletivo com um mesmo propósito, deixando vaidades e interesses particulares de lado, é sempre uma tarefa grandiosa e lenta, mas absolutamente necessária para que estas mudanças ocorram, de fato.

Assim, sempre deixei claro, a todos os membros do G-5, que a implantação e implementação deste projeto e, portanto, de novos processos de gestão do futebol, só seriam possíveis se o CEO tivesse ampla autonomia e contasse com o firme apoio político e administrativo de seus dirigentes estatutários e conselhos competentes do clube.

Neste sentido, a primeira medida para adequação do projeto à realidade encontrada foi cortar praticamente pela metade o orçamento que sustentava um Departamento de Futebol inchado e pouco eficaz dos últimos tempos. Uma decisão dura, de austeridade, mas acertada no meu ponto de vista, mesmo sabendo que isso traria riscos e instabilidades temporárias, caso demorássemos em formar uma equipe mais competitiva, com bons jogadores, mesmo que nem todos ainda reconhecidos ou consagrados pelo mercado. Evidentemente que estes riscos só poderiam ser enfrentados se houvesse uma inabalável convicção da direção de que este seria o caminho correto para as mudanças estruturais capazes de garantir, no médio e longo prazos, um patamar mais seguro e de sustentabilidade da gestão administrativa e técnica do clube.

A finalidade traçada, portanto, para este primeiro ano de gestão era formar uma equipe competitiva, porém com menos recursos financeiros. Por isso, fiquei surpreso com as reações internas do clube após as finais do Campeonato Paranaense. A convicção em relação aquilo que estávamos fazendo na implantação de um novo modelo de gestão técnica, se revelou mais frágil do que imaginava.

Este fato me fez rever o meu papel estratégico no Departamento de Futebol do clube e o compromisso assumido com a diretoria eleita para o mandato 2015-17 para efetivarmos todas as mudanças internas necessárias, o que me levou, juntamente com o Ricardo Guerra, a ter uma conversa franca com o Presidente Rogério Bacellar. Nossa decisão pela saída ficou definida. Porém, como ouvimos do Presidente o firme propósito de dar continuidade ao Plano de Metas estabelecido desde a campanha de eleição no ano passado, e que tinha em minha pessoa a responsabilidade de conduzir este processo, me propus a apresentar um profissional que pudesse me substituir, exercendo as mesmas funções do CEO do futebol, mas com mais fôlego para dar conta das demandas que este cenário, ainda de indefinições, impõe ao Departamento de Futebol do clube.

Assim foi que indiquei Maurício Andrade, profissional do futebol plenamente qualificado para exercer as minhas funções e dar continuidade à construção do projeto técnico-desportivo. Ele já vinha trabalhando comigo, na função de consultor e, juntamente com outros profissionais, me deu neste período o suporte para as mudanças que estávamos promovendo.

Este projeto técnico-desportivo propôs um novo organograma (já aprovado pela direção e em fase de implantação), com novos centros de custos, inclusive para o seu Departamento de Futebol, e que inclui a criação do UNIFIC (Unidade de Informação, Formação e Inovação do Coritiba), setor altamente estratégico para o futuro do clube e que, no meu modo de ver, pode representar o ponto de partida para novos tempos na gestão técnica do futebol, estabelecendo critérios de avaliação de atletas e profissionais, qualificando e tornando mais transparentes as tomadas de decisão. Se tudo correr como planejamos, o UNIFIC será oficialmente inaugurado nas próximas semanas. Enquanto o clube não tiver este setor estruturado e consolidado, estaremos sujeitos a margem de erros muito grande nas contratações, dispensas e oportunidades de negociação dos atletas considerados patrimônio da instituição.

Tenho a esperança de que a semente que implantamos neste curto período em que trabalhei no clube, possa ser mantida e desenvolvida, uma vez que não faltam profissionais competentes para realizarem esta tarefa. Basta, entretanto, que contem com o apoio fundamental da direção e conselhos do clube para que possam trabalhar integral e integradamente, ajudando o Coritiba a ser tornar uma das grandes forças do futebol brasileiro em breve.

Torço para que as boas intenções e esforços do Presidente Rogério Bacellar em tentar dar transparência e efetividade às suas ações favoreça o imprescindível alinhamento político e administrativo necessários às mudanças mais consistentes e duradouras.

Por fim, agradeço a confiança que tive das pessoas que comigo conviveram neste período de maturidade e, talvez, com menos paciência, de minha vida profissional. Prefiro não nomina-los para não correr o risco de cometer alguma injustiça. Obrigado a todos que acreditaram e procuraram me ajudar e apoiar nesta missão, dentro e fora do clube. Reconheço e me regozijo em constatar que não foram poucos!

João Paulo Medina
Curitiba, 21 de maio de 2015