SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar renovou nesta sexta-feira (29) seu maior valor em dois meses, fechando a segunda semana consecutiva em alta, diante de expectativas de que o Banco Central deve continuar em junho com sua política de reduzir a intervenção no mercado de câmbio.
A avaliação de operadores é que a briga pela formação da ptax (taxa média do dólar calculada pelo Banco Central, que serve como referência para contratos no mercado financeiro) também influenciou a cotação da moeda americana.
“A taxa de câmbio deve se manter perto de R$ 3,20. É mais provável que continue nesse patamar do que voltar para R$ 3. Ainda há muita incerteza tanto no exterior como no Brasil, e o mercado sempre monta um cenário com base no caminho menos otimista. Lá na frente, é melhor ter uma surpresa positiva do que negativa”, disse Reginaldo Gelhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou o dia com valorização de 0,24% sobre o real, cotado em R$ 3,180. Na semana, houve alta de 3,59%. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 0,72% no dia e 2,97% na semana, para R$ 3,187. Ambos estão no maior nível desde 31 de março, quando o dólar à vista estava em R$ 3,203 e o comercial, R$ 3,192.
O Banco Central vem, há meses, estendendo diariamente o vencimento de contratos de swaps cambiais em leilões cujo efeito é o mesmo que uma venda futura de dólares. Em maio, a autoridade monetária reduziu a quantidade de “rolagens” desses papéis para 70%, e não mais de 100% dos contratos previstos para o mês seguinte, como estava fazendo anteriormente. Com isso, acaba restringindo a liquidez do mercado.
O cenário se agrava com a expectativa de que os juros nos Estados Unidos deverão ser aumentados ainda em 2015, o que deixaria os títulos do Tesouro americano -que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco- mais atraentes do que aplicações em mercados emergentes como o Brasil, provocando uma saída de recursos dessas economias.
Assim, a menor oferta de dólares, tanto pela menor intervenção do BC brasileiro quanto pelo retorno de recursos para os EUA, tenderia a pressionar ainda mais a cotação da moeda americana para cima.
ECONOMIA CONTRAI
O desempenho melhor que o esperado da economia brasileira no primeiro trimestre deste ano não foi suficiente para aliviar a pressão no mercado de câmbio nesta sexta-feira (29). O PIB (Produto Interno Bruto) caiu 0,2% no primeiro trimestre deste ano, frente aos últimos três meses de 2014, para R$ 1,408 trilhão.
“Na nossa visão, apesar de melhor que o esperado, o PIB do Brasil continua revelando um quadro negativo da economia brasileira (queda nos investimentos e enfraquecimento do consumo)”, disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho. “Mantemos nossa previsão de contração de 1,5% do PIB neste ano e continuamos esperando mais enfraquecimento da economia brasileira no segundo trimestre.”
Para Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora, o enfraquecimento da economia afeta principalmente a Bolsa. “Se a economia como um todo vai mal, isso significa que a receita das companhias vai continuar caindo e, portanto, suas ações devem ser afetadas negativamente, o que impacta o Ibovespa [principal índice de ações nacional]”, disse.
Nos Estados Unidos, o PIB caiu 0,7% entre janeiro e março -a primeira estimativa era de crescimento de 0,2%. Apesar mais fraco, o número ficou acima da expectativa do mercado financeiro, de queda de 1%.
AÇÕES EM QUEDA
O cenário negativo para a economia brasileira, segundo analistas, abriu brecha para os investidores venderem ações nesta sexta-feira (29). Com isso, o Ibovespa seguiu o mau humor internacional e fechou em baixa de 2,25%, para 52.760 pontos. No mês, o índice recuou 6,17%, o pior desempenho mensal desde janeiro, quando caiu 6,20%. Na semana, houve perda de 2,97%.
Os bancos, setor com maior peso dentro do Ibovespa, empurraram o índice para baixo. O Itaú recuou 2,47%, para R$ 34,33, enquanto o Bradesco cedeu 2,69%, para R$ 28,21. Já o Banco do Brasil teve baixa de 2,82%, para R$ 22,74.
O movimento ocorreu depois de medidas do CMN (Conselho Monetário Nacional), que elevou a alíquota do depósito compulsório que incide sobre depósitos a prazo de 20% para 25%, com remuneração integral pela taxa Selic. Com esta alteração, o BC estima recolher R$ 25 bilhões a mais do sistema bancário.
Petrobras e Vale também fecharam no vermelho, contribuindo para sustentar a queda da Bolsa. As ações preferenciais (sem direito a voto) dessas companhias tiveram perdas de, respectivamente, 2,68% e 2,56%, para R$ 12,33 e R$ 16,76.