SAMANTHA LIMA RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Mais de 2 milhões de consumidores, industriais e residenciais sofreram, nos últimos 14 meses, aumento de 23% no custo do gás natural canalizado com a decisão da Petrobras de cortar descontos no preço do produto, calcula a Abegás (Associação Brasileira de Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado). Os descontos, da ordem de 35%, estavam em vigor desde 2011, e começaram a ser cortados em abril do ano passado, de acordo com a instituição. O objetivo do preço menor era preservar a competitividade do insumo, diante dos preços de óleo combustível. Depois de um reajuste em maio deste ano, haverá outro agora em junho, de acordo com a Abegás. É resultado de mais um corte nos descontos, comunicado pela Petrobras no começo da semana, diz Augusto Salomon, presidente da Associação. Desta vez, a alta no preço será de quase 8%. Conforme indicou a Petrobras, os descontos serão zerados até o fim do ano. Os cortes acabaram descolando o produto das cotações internacionais, uma vez que o preço do barril de petróleo caiu de um patamar acima de US$ 110, em meados de 2014, para cerca de US$ 60, atualmente, diz Salomon. Segundo o representante da associação, os reajustes não têm respeitado a prática de revisão trimestral dos preços, e, na prática, as últimas altas foram mensais. A estatal informou, por nota, “que não houve mudança na política de preços de gás natural”. Os “eventuais descontos não afetam a fórmula do preço do gás prevista nos contratos, mantendo-se, portanto, inalterados todos os instrumentos contratuais existentes”, diz a empresa. A Petrobras afirma, ainda, que a medida foi tomada para “restabelecer o alinhamento dos preços relativos dos energéticos, preservando, contudo, a competitividade do gás natural no mercado”. Salomon disse ter enviado uma carta à Petrobras e também à ANP para criticar a medida. “Precisamos manter a competitividade do gás. A indústria perde com isso. A Petrobras faz o papel dela para recuperar o caixa, mas o governo brasileiro precisa avaliar até que ponto vai querer reduzir a indústria brasileira. Vai haver sobra de gás”, disse. “O setor precisa ser bem regulado e ter transparência”.