GABRIELA GUERREIRO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Comissão de Fiscalização e Controle do Senado aprovou nesta terça-feira (30) convite para o ministro Edinho Silva (Comunicação Social) prestar depoimento sobre a delação premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa, que disse ter doado R$ 7,5 milhões à campanha da presidente Dilma Rousseff por temer prejuízos em seus negócios com a Petrobras.
Silva foi tesoureiro da campanha de Dilma à reeleição, no ano passado. Por ser convite, o ministro não é obrigado a comparecer à comissão, mas os congressistas dizem esperar que ele atenda ao chamado do Senado.
Inicialmente, o convite tinha como objetivo esclarecer entrevista concedida pelo ministro em que ele falou sobre campanhas publicitárias de bancos estatais para combater um “sentimento de rejeição” ao PT. Com a delação de Pessoa, os senadores agora querem explicações sobre as doações da empresa à campanha de Dilma.
“O Senado vai trazer o ministro Edinho Silva para que seja dada a ele a oportunidade de se explicar. Se ele já admitiu ter estado com o delator por três vezes enquanto tesoureiro da campanha fraudulenta de Dilma Rousseff, que tipo de relação havia? Por que seu nome aparece como chantagista que cobrou caixa 2 citando contratos da Petrobras com aditivos?”, questionou o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO).
Segundo a delação de Ricardo Pessoa, porém, não houve pagamento em caixa 2 à campanha de Dilma; as doações foram legais, embora, segundo o empreiteiro, feitas sob pressão.
O governo não mobilizou seus aliados para impedir a aprovação do requerimento por se tratar de convite. Apenas nas convocações os ministros são obrigados a comparecer ao Senado. Autor do pedido, Caiado tinha proposto inicialmente convocar o ministro, mas foi convencido por governistas a transformar o chamado em convite.
“Sem fugir das obrigações de os nossos ministros virem aqui prestar contas, mas para haver mais maleabilidade na questão de agendas, tanto nossa quanto do ministro, poderíamos transformar em convite, sem fugir da responsabilidade de vir prestar contas ao Congresso”, disse o senador Paulo Rocha (PT-PA).
Um dos empreiteiros investigados pela Operação Lava Jato por causa de seu envolvimento com o esquema de corrupção descoberto na Petrobras, Pessoa fez acordo com a Procuradoria-Geral da República para colaborar com as investigações em troca de uma pena reduzida. O acordo foi homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na quinta (25).
CARDOZO
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse nesta terça (30) que delações premiadas como as de empreiteiros da Lava Jato servem apenas como “guia de investigação”, e que reações como a da presidente Dilma Rousseff são “legítimas”.
Dilma comparou nesta segunda-feira (29) a confissão do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, às delações obtidas sob tortura na ditadura militar.
“Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que é”, disse a presidente na segunda, em resposta às acusações de irregularidades no financiamento de sua campanha à reeleição. “Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas presas e garanto para vocês que resisti bravamente”, afirmou.
Para Cardozo, “um delator pode falar verdades, meias verdades ou mentiras, e tudo para conseguir benefícios”.
“É um guia para a investigação, não um guia de verdades”, afirmou o ministro, que saiu em defesa da presidente.
“Qualquer pessoa que tem a honestidade intrínseca que Dilma Rousseff tem reage com indignação”, disse. “É a reação legítima daqueles que são honestos e preservam sua honestidade”, completou.