FERNANDA GODOY, ENVIADA ESPECIAL
ATENAS, GRÉCIA (FOLHAPRESS) – Sem que haja uma data para a reabertura dos bancos e sem saber até quando os caixas automáticos terão dinheiro, os gregos estão contendo ao máximo os gastos e acompanhando com ansiedade os desdobramentos da vitória do “não” no plebiscito de domingo (5).
O dinheiro disponível vai para comida, remédios, cigarro e gasolina. A maioria dos postos não está mais aceitando cartões.
“Ninguém está pagando contas de luz, gás, aluguel. O dinheiro vai só para os gastos diários, essenciais. Minha mãe gasta metade da pensão dela com remédios”, conta o policial Dimitris Chatzis, 47, depois de esperar na fila para sacar 50 euros de um caixa automático.
A cota de 60 euros diários que cada grego tem direito a sacar desde a segunda-feira passada foi reduzida, na prática, a 50, porque as notas de 20 se esgotaram.
As lojas do Centro de Atenas e de shopping centers como o Metrol Mall, na zona norte de Atenas, com clientela de classe média baixa, estão vazias. O tráfego em Atenas nesta segunda-feira (6) parece o de um feriado.
“Estou tentando poupar ao máximo, porque a situação está muito difícil e imprevisível. Precisamos do máximo de cautela”, disse a professora Cristina Vlami, 35, que foi ao shopping tomar café com uma amiga e saiu de mãos vazias.
Nas longas filas que se formaram hoje diante dos caixas eletrônicos na capital, muitos já parecem conformados com a ideia de que a crise vai durar.
“Acho que podemos contar com pelo menos mais duas semanas nessa situação, porque o governo vai precisar de tempo para negociar um acordo com os credores”, disse a artista plástica Katerina Zacharopoulou, em uma fila do Banco Nacional no Centro de Atenas, a poucos metros do gabinete do ministro das Finanças que até a manhã desta segunda era ocupado por Yanis Varoufakis.
“Acho que ele (Varoufakis) fez bem em renunciar. Com seu temperamento, ele havia se tornado um problema”, completou Zacharapoulou, que disse acreditar que a Grécia permanecerá na zona do euro.
Além da falta de dinheiro na mão, o que preocupa os gregos são os rumores de confisco. Segundo o jornal britânico “Financial Times”, uma das alternativas estudadas para a bancarrota dos bancos é a de que parte dos depósitos bancários superiores a 8.000 euros seja confiscada.
Com o controle de remessa de capitais ao exterior implementado na semana passada, os gregos não têm mais a possibilidade de mandar dinheiro para contas em outro países.
O controle de capitais também deverá dificultar a importação de produtos como medicamentos. No centro de Atenas, algumas farmácias visitadas pela reportagem informaram que ainda têm estoques, mas a incerteza é geral.
Outro problema para o comércio é a falta de troco. Mesmo que o cliente tenha dinheiro vivo para pagar, as gavetas de muitos caixas estão vazias, e só é possível aceitar a quantia exata ou pagamento em cartão.
Nos supermercados, os produtos com maior saída são os não-perecíveis. Os gregos estão estocando macarrão, comida enlatada, cereais, leite em caixas. O temor é o de que uma saída abrupta do euro provoque o caos e o desabastecimento.