Feiras internacionais existem para promover um olhar ao futuro. Procuram mostrar tecnologias de ponta e novos inventos. Foi assim na Filadealfia, em 1876, quando o mundo viu pela primeira vez o telefone e a engenhoca que sacolejava pelas ruas de Paris em 1990 , movida a óleo de amendoim. Era o automóvel que surgia.

Feiras internacionais também antecipam utopias sociais através de sonhos, aspirações e slogans temáticos, como o Paz através do Entendimento que orientou a New York World’s Fair, entre 1964 e 1965 ou o Alimentando o Planeta, Energia para a Vida, da Expo Milão deste 2015.

Muitos dos gadgets e aparelhinhos ultra modernos, acabam depois fazendo parte do dia a dia de todos. Já paz, entendimento e sinais de progresso social, permanecem no limite mais baixo. As feiras propriamente ditas, poucas vezes contribuem para o desenvolvimento da cidade sede. Ironicamente, o planejamento costuma ser mal pensado, há desvios de verbas, corrupção. E as obras são levadas a efeito para um resultado imediato, que depois causa pobreza e abandono nas cidades, quando as multidões de visitantes deixam de existir.

É muito difícil pensar a longo prazo, deixando uma herança mais perene. As feiras modernas costumam ser planejadas para a inauguração, mas ninguém se importa com os resultados finais. O legado fica ao acaso, com alguma cidade recebendo verdadeiros esforços de transformação. Mas é raro.

Fotos: Dayse Regina Ferreira

Barcelona foi a cidade que mais aproveitou as Olimpíadas ’82

Muito pouca coisa sobrou da Great Exhibition de 1851, realizada no Hyde Park de Londres e considerada a primeira grande feira internacional moderna. Talvez só o nome de uma equipe medíocre do time de futebol Crystal Palace. O original Crystal Palace era uma construção enorme de ferro e cristal, que abrigou a exposição. Embora contra a vontade do povo, a estrutura foi transportada para um bairro decadente do sul do Tâmisa, para perto de um campo onde o time treinava. O prédio foi destruído por um incêndio em 1936.

Melhor sorte teve outra relíquia do século 19, o arco de entrada da Exposição Universal em Paris, de 1889. Demonizada antes mesmo de ser construída, foi chamada de inútil e monstruosa por artistas da época, que consideravam a estrutura uma ridícula torre dominando Paris como uma gigantesca estaca queimada. Talvez tivessem razão, mas a estrutura foi mantida e hoje é o principal símbolo de Paris: a Tour Eiffel.

O planejamento das feiras costuma ser utópico e tem seu lado negro: não basta arrasar o que já existe. Porque repor locais melhores para o comércio e a comunidade, ou um melhor centro cívico, custa muito dinheiro. E os planos acabam ficando apenas no papel.

Foi o que houve em San Antonio em 1968, quando moradores foram deslocados para outros pontos da cidade, coisa que também aconteceu em Shangai em 2010. Alguns restos das feiras acaba tendo usos exóticos: Hollywood adquiriu partes da feira de Nova York de 1964-65, que tinham sido do Pavilhão de Nova York e representavam uma nave espacial de alien. A tralha toda apareceu na comédia Men in Black. Uma década depois, o local da feira em Queens serviu para outro Science-fiction, Iron Man 2.


Marinas, hotéis de luxo, novas praias, restaurantes: tudo foi criado em pról dos cidadãos de Barcelona, aproveitando o evento de 1982

A feira de Nova York teve perdas econômicas enormes, por causa das extravagancias e excessivas ambições dos organizadores. Uma cidade que se beneficiou do grande evento foi Seattle, porque foi tudo planejado para continuar uma renovação urbana e não apenas algo com data marcada para acabar. The Century 21 Expositionde Seattle deixou marcas profundas, como o Space Needle, o monorail que serpenteia pelo centro e o Space Age gothic, pavilhão dos Estados Unidos que foi convertido no Pacific Science Center.

A equipe organizadora aproveitou o evento para renovar o centro da cidade, reorganizando o sistema de vida e melhorando o uso dos espaços. Muitas cidades criam feiras internacionais com a intenção de demolir o lado velho e perigoso, mas esquecem de, depois de arrasar prédios e instalações antigas, refazer o local com edificações e uso melhor aproveitado pelos habitantes.

Olhando ainda mais longe no passado, em 1893 aconteceu a World’s Columbian Exposition em Chicago, que resultou em grande perda financeira. Mas sobrou uma bela Ferris Wheel, que salvou os organizadores da bancarrota.

Dinheiro não foi o problema da Great Exhibition de 1851. O Bureau International des Expositions, organização que controla as exposições internacionais, aponta: a exposição de Londres custou 336.000 libras . Mas resultou em 522.000 libras. Um cálculo difícil o de apresentar custos reais, porque o dinheiro normalmente é usado para melhoramentos cívicos que não fazem parte realmente da feira, mas ocorrem paralelamente.


Modernidade e tradição fazem a base do Turismo extraordinário de Barcelona

Grandes eventos proporcionam uma bela desculpa para melhorar o transporte urbano, sistema de eletricidade, sistemas de comunicação. Servem também para a construção de parques, museus e facilidades culturais. Ou para desvio de verbas monumentais que acabam em bancos do Caribe ou na Suíça. Já vimos – e continuaremos a ver – esse filme.

Atualmente a Expo Milão 2015 está sendo o elemento catalizador para um crescimento urbano em torno da velha cidade. O que vai produzir melhorias na economia e na vida social. Uma via expressa foi construída entre o centro da cidade e a Expo, ocupando o espaço que antes era de uma zona industrial deteriorada, cerca de 15 quilômetros a nordeste de Milão.

Uma nova linha de metro está ligando bairros com a linha principal, que vai até o local da feira. No total, foi estimada a criação de 60 mil empregos diretos ou indiretos só por causa do evento. Na opinião dos organizadores, o Expo dá uma idéia do que será Milão daqui cinquenta ou cem anos. O que já é uma herança e tanto.

E a Copa do Mundo de 2014, heim? E os Jogos Olímpicos, que não conseguiram provocar nem mesmo a limpeza daquele horror que é a Baia de Guanabara? Será também uma herança e tanto, pode acreditar. Especialistas afirmam: a limpeza daquele esgoto que se transformou uma das mais belas paisagens cariocas, só lá por 2035… Problemas de pixulecos e outras misérias nossas.


Design foi o forte na renovação de Barcelona

OLIMPÍADAS 2016
Quando há anos o mundo árabe decidiu diversificar suas atividades, sabendo que o petróleo está em vias de acabar ( dizem os entendidos que há apenas 20 anos de consumo à nossa frente), uma das saídas dos Emirados foi oferecer benefícios fiscais para atrair multinacionais.

Outro ponto em destaque foi o Turismo, essa coisa esquecida no Brasil. Dubai é bom exemplo, sendo um dos destinos preferidos de europeus em férias, utilizando os vários campos de golfe e o luxo oriental de seus hotéis de cinco ( até seis) estrelas. A iniciativa deu certo e entre 1996 e 2002 a ocupação hoteleira já tinha duplicado, graças também à Emirates Airlines, companhia que se encarregou de fazer voos diretos entre Dubai e as principais capitais e cidades do planeta.

Claro que as feiras e os eventos esportivos passaram a ser prioridade. Dubai recebe anualmente a elite do golfe e do tênis, Doha, no vizinho Qatar, faz parte do calendário da Associação dos Tenistas Profissionais e o Bahrein, distante 45 minutos de voo, abrigou o primeiro GP do Oriente Médio.

Em 2003 os Emirados Árabes organizaram o Mundial sub-20 de futebol, quando o Brasil foi campeão. Mas nada disso é comparável a uma Olimpíada. Daí que Dubai concorreu para sediar os Jogos de 2016, junto com Roterdã (Holanda), Santiago do Chile, Bruxelas (Bélgica), Busan (Coréia do Sul) e Minneapolis (USA). Mas quem ganhou foi o Brasil.


Conservando espaços públicos já existentes, construindo hotéis e reformulando estruturas, a capital da Catalunha é uma das mais procuradas cidades européias

Dubai tinha se preparado para o evento. Usou 2 bilhões de dólares para transformar uma área equivalente a quatro Ibirapueras, distante 20 quilômetros da cidade, na primeira cidade esportiva do planeta, uma espécie de Disneylândia do esporte. O sonho de qualquer atleta ou equipe.

O objetivo: receber a primeira Olimpíada do Oriente Médio nos dois estádios para 25 mil pessoas, com possibilidade de ampliação; um estádio indoor para 10 mil espectadores e um ginásio para mais de 8 mil pessoas. E mais: um complexo de piscinas, um campo de golfe e um campo de críquete, um dos esportes mais populares do país.

E mais: um clube de tênis, um velódromo, academias de boxe, ginástica, artes marciais, luta greco-romana, espaços para beisebol, handebol e vôlei, ao todo 20 modalidades. No meio do complexo esportivo, conjuntos residenciais e hotéis. Para 60 mil pessoas.

O governo grego gastou 4,8 bilhões de dólares em infra-estrutura para as suas Olimpíadas. E afundou. Hoje tudo o que chegou a ser construído, está enferrujando, no abandono de sempre. Sydney, que sediou a Olimpíada de 2000, gastou 4 bilhões de dólares. O Rio de Janeiro organizou o Pan gastando mais de 300 milhões de dólares. Para o próximo ano, nada ainda foi terminado, mas muitos projetos já foram abandonados. E ninguém ainda descobriu o tamanho do rombo na economia. O Turismo continua sendo escrito com t minúsculo.


Feiras internacionais deixaram marcos turísticos, aproveitados até hoje

COPACABANA – O BAIRRO ABENÇOADO POR NOSSA SENHORA
É em agosto que uma Nossa Senhora de olhos amendoados como as índias bolivianas, arrasta multidões na procissão de fiéis pela Avenida Nossa Senhora de Copacabana, até a paróquia da Hilário de Gouveia, voltando depois pela praia.

Foi a imagem que deu o nome de Copacabana ao bairro mais famoso do Basil. Em quetchua, língua dos antigos peruanos, quer dizer mirante do azul. A santa, venerada pelos na península de Copacabana, no Lago Titicaca, foi trazida pelos negociadores de prata do Peru e reverenciada em um albergue de pescadores na praia de Sacopenapã, como era então conhecida a região deserta, entre o final do século 16 e meados do século 17.

A santa levou devotos fervorosos ao areal distante do Posto 6, tendo uma vela na mão direita e o menino Jesus no braço esquerdo. Aos seus pés, um barquinho. A imagem é uma versão de Nossa Senhora da Luz, ou da Candelária, também invocada pelo índio Yupanqui ao esculpir em 1581 e célebre virgem do santuário de Titicaca. Com manto vermelho e azul, veste dourada, esculpida em madeira, é a mais antiga imagem de Nossa Senhora de Copacabana no Brasil.

A imagem histórica teria sido vista pela primeira vez em 1637, na Igreja de Bonsucesso, antes de chegar à praia de Sacopenapã. Noventa anos depois, reapareceu misteriosamente na paróquia de São Nicolau de Suruí (hoje Magé). Em 1722 já se tem notícias da imagem na primeira ermida de Copacabana, construída de frente para o mar, no promontório que foi ocupado pelo Forte de Copacabana.


O hotel Arts com seu peixe dourado assinado por Frank Ghery foi considerado um dos melhores do mundo, desde sua inauguração

Esteve mais tarde na igrejinha construída por frei Antonio do Desterro, sexto bispo do Rio, que acreditava ter sido salvo de um naufrágio na praia por um milagre da santa. Para pagar promessa, mandou erguer uma capelinha, em substituição à ermida em ruínas. Quando a igrejinha foi demolida para dar lugar ao Forte, em 1918, a imagem desapareceu. Foi reencontrada mais de 40 anos depois, no Castelo D. Manoel, em Itaipava, passando a ser venerada na Igreja da Ressurreição.

Em 1908, quando foi fundada a Paróquia de Nossa Senhora de Copacabana e Santa Rosa de Lima, numa antiga capelinha do Senhor do Bonfim, a santa desapareceu mais uma vez. E, durante anos, uma imagem de Nossa Senhora Auxiliadora foi cultuada como se fosse a de Copacabana. Isso durou até que duas senhoras bolivianas, visitando a paróquia, descobriram a substituição. Em 1953 a República da Bolívia presenteou a igreja com uma cópia fiel da imagem do Lago Titicaca. Desde então a escultura ocupa lugar de destaque na nave central da paróquia.

Essa segunda imagem de Nossa Senhora de Copacaba em nada se assemelha à imagem histórica da Igreja da Ressurreição. Tem feições de índia e peruca natural, tecida com os cabelos de uma embaixatriz boliviana. Mantém a vela na mão direita e o menino na esquerda, mas o barquinho foi substituído por uma meia lua prateada a seus pés. O manto de franjas e bordados dourados é trocado quatro vezes ao ano pelas Damas Bolivianas, uma associação que se dedica a cuidar da imagem.

A imagem nunca saiu da igreja, a não ser no dia 12 de julho de 1992, quando Copacabana completou seu primeiro século. Foi colocada na praça Serzedelo Correia, para a missa campal.

A terceira imagem de Nossa Senhora de Copacabana na cidade foi presente do Colégio Militar de Aviação, da Bolívia, ao Forte Copacabana, em 1972. Talhada em madeira, tem rosto e olhar voltados para baixo, porte altivo e vestes azuis, com bordados de pérolas e pedras. É considerada a mais bela imagem. Mesmo com três imagens santas, Copacabana – e todo Rio de Janeiro, de tantas belezas únicas – o bairro famoso e a cidade Maravilhosa, ainda não conseguiu se livrar dos perigos de todos os dias.