DAIGO OLIVA, ENVIADO ESPECIAL
WASILLA, ALASCA (EUA) (FOLHAPRESS) – Em meio a caminhoneiros trogloditas que realizam entregas por estradas tenebrosas, uma loira chama a atenção. Diferentemente de seus companheiros de reality show, Lisa Kelly, 34, não remói os problemas da profissão nem conta vantagem sobre as perigosas viagens por estradas de gelo do sul do Canadá.
Tranquila, a norte-americana que leva uma vida pacata em Wasilla, no Alasca, onde vive com dois gatos, um cachorro e três cavalos – entre eles o pônei Rocky -, é o destaque de “Estradas Mortais”, série cuja oitava temporada estreia nesta quarta-feira (2), às 22h, no canal pago History.
No novo ano do programa, duas empresas de entrega disputam quem consegue transportar mercadorias até áreas remotas, onde só é possível chegar por meio de pistas glaciais. A concorrência entre os times é cheia de provocações e permeada de acidentes na estrada durante as jornadas.
A caminhoneira volta à série após uma pausa para descansar. “Estar em um reality significa muito tempo do seu ano com uma câmera por perto o tempo todo, o que é desgastante”, diz ela à reportagem. Nos anos anteriores e também no programa derivado da atração, “Caminhoneiros do Gelo”, a ex-motorista de ônibus escolar dirigiu em rodovias cheias de neve e em rotas perigosas em Índia, Bolívia e Peru, locais de onde guarda muitas recordações.
Nas prateleiras da sala, Lisa mantém pinturas de Machu Picchu e do Cristo Redentor – fruto de uma das visitas ao Brasil para divulgar a atração -, além de um quebra-cabeça do Taj Mahal. Sua lembrança mais viva, porém, é o cão Booger, que encontrou machucado no Peru. Sua paixão por animais está por toda parte na casa que divide com o marido, o atleta de motocross Travis Kelly. Próximo à pista de terra que o casal construiu para treinos – Lisa também se arrisca nos saltos com moto – há ainda um pequeno haras.
Nada de caminhões ou TVs – Lisa, em sua vida cotidiana, pouco reproduz o personagem que vive no reality. Embora o caminhão que utiliza no programa tenha 18 marchas, seu carro particular é automático. Nunca assiste à própria série que protagoniza – não tem televisor em casa, então são os vizinhos quem contam a ela como foram os episódios. Sem rodeios, Lisa expressa um certo distanciamento ao mundo que ela mesma exibe no reality show.
Pensa em uma vida no futuro que não envolva a atual profissão. Diz que engordou muito nos últimos anos por causa do tempo que passa sentada dirigindo. A pesada rotina de gravações para o programa, admite, tira um pouco do prazer que tem em guiar. Sempre sorrindo, Lisa brinca com a edição da série, que valoriza a tensão e dramaticidade. “Sério mesmo que as pessoas demoraram tanto tempo para perceber que é tudo entretenimento?”, diz Lisa.
“Talvez seja um pouco exagerado, as coisas parecem algo super complicado na tela, e para mim é o de sempre, por isso dá a impressão de que é falso. Mas tudo o que é falado foi falado e tudo o que é feito foi feito para valer”, justifica.
Única mulher no elenco atual da série, Lisa também diz se sentir um pouco cansada de ser tratada com surpresa por quem, num primeiro momento, não sabe que ela é uma caminhoneira. “Sempre penso: como você acha que eu deveria parecer? Sempre me vesti meio como um menino, sempre me
dei com garotos, mas há momentos em que você precisa ser feminina.”

O jornalista Daigo Oliva viajou a convite do History Channel