ANDREA VIALLI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O caminho para a construção de um sistema nacional de educação de qualidade que atenda às demandas da população brasileira é colocar a escola no centro da política educacional. Essa foi uma das conclusões dos especialistas nacionais e internacionais que participaram do Seminário Internacional de Gestão Escolar, promovido pelo Instituto Unibanco e correalizado pela Folha de S.Paulo, que terminou nesta quinta (3), em São Paulo.
Assim como o Sistema Único de Saúde (SUS) colocou a Unidade Básica de Saúde (UBS) como peça central do seu modelo de atuação, uma abordagem parecida pode ser utilizada com a escola. “A narrativa no Brasil sempre foi no sentido de buscar a expansão da matrícula, o que é uma tarefa contínua, já que ainda existem no país 14 milhões de analfabetos acima de 15 anos de idade”, afirmou Daniel Cara, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Segundo ele, embora o SUS tenha problemas, colocar as unidades de saúde no centro do processo de gestão tem sido um acerto.
Até as décadas de 1980 e 1990, a universalização do ensino, e não sua qualidade, foram os motes de atuação dos governos. Com o Plano Nacional de Educação, a qualidade chega ao centro do debate, mas é preciso olhar também para temas-chave na redução das desigualdades sociais que afetam a educação no país, como a falta de infraestrutura das escolas, muitas vezes carentes até de banheiros, e as questões que envolvem remuneração e carreira dos professores.
Para Sérgio Roberto Gomes de Souza, diretor da Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino do Ministério da Educação, um dos caminhos para se avançar na implementação do Plano Nacional de Educação é desenvolver mecanismos mais efetivos de controle e participação social que aproximem a sociedade do que acontece nas escolas, inclusive nas questões ligadas aos custos da educação.
“A forma como está definido o financiamento da educação está caduca e ineficaz. A maior parte dos municípios nem sabem de onde vêm os recursos”, disse Souza.
As experiências internacionais de países como Austrália e Inglaterra, além da província canadense de Ontário, apresentadas ao longo do evento, têm em comum a análise sistemática dos dados gerados nas escolas, que chegam a um nível de detalhamento ímpar em alguns países. Na Austrália, por exemplo, onde 65% dos alunos estão em escolas públicas, qualquer cidadão pode consultar, por meio do site “My School”, o desempenho do aluno ao longo dos seus anos de estudo e realizar comparações entre escolas.
Para Mary Jean Gallagher, vice-ministra de Educação da província de Ontário, no Canadá, mais do que colocar o foco da gestão na escola, são os alunos que devem estar no centro das políticas públicas. “A continuidade do sistema democrático e da promoção da economia depende de que todas as crianças tenham acesso a uma educação de qualidade, então vamos pensar nelas como o eixo central do sistema”, disse Gallagher.
A estratégia da província inclui, por exemplo, designar mentores para apoiar diretores de escolas em suas tarefas e um processo colaborativo onde a comunidade pode opinar sobre as mudanças que querem no currículo escolar local – recentemente, foi incorporado o ensino de educação financeira como complementar à matemática. Essas ações têm gerado resultados positivos. A taxa de conclusão do Ensino Médio em Ontário cresceu de 68% em 2003 para 79% em 2015.