Vestindo casaca, usando longas barbas brancas, cara sempre amarrada, D. Pedro II não tinha gosto por governar o Brasil. Assumiu a função de segundo e último imperador depois de dom Pedro I e antes da princesa Isabel, patrocinou uma guerra violenta contra o Paraguai e ainda terminou tudo com o famoso baile da Ilha Fiscal, na entrega aos generais republicanos.

Abandonou o país durante um ano e meio para realizar uma viagem pelo Oriente Médio, passando por quatro continentes e visitando 100 cidades. Escreveu diários sobre a viagem ( os sobre o Líbano, Síria e Palestina viraram livro) e marcou para sempre sua personalidade de mochileiro, dormindo em hotéis classe turista da época ou em barracas, viveu aventuras perigosas enfrentando beduínos, cavalgou por horas e horas seguidas.

Durante 24 dias percorreu 500 quilômetros a cavalo, média de 20 quilômetros por dia. Sempre acompanhado por uma comitiva de 200 pessoas, gente que fazia companhia, providenciava bagagens, alimentos e segurança. Dom Pedro II já passava dos 50 anos. Além de sua vontade de conhecer outras terras e o interesse pela história do cristianismo,- que o levou para a Terra Santa -, queria mesmo era se afastar da situação do Brasil, uma exceção monarquista em um continente sem reis. Tudo piorava os problemas: o regime escravocrata, que mantinha a economia do império, estava esfacelando e o movimento abolicionista ganhava a cada dia mais espaço.

Dom Pedro II não titubeou: deixou o país nas mãos da princesa Isabel, influenciada pelo conde d’Eu,e conseguiu convencer a Câmara a deixa-lo partir com seus aparatos de fotografia, um hobby que encantava ao imperador. A câmera preferida de daguerreotipo, era de 1840. Como pretexto e boa desculpa, usou a visita oficial aos Estados Unidos, que comemoravam o centenário de independência e organizavam a Exposição Universal, a Grande Feira, que exibia as novidades tecnológicas de diferentes países. Um prato cheio para o imperador interessado por línguas mortas, novas invenções e fotografia.

Poucas vezes se queixou de cansaço. Tinha disposição para levantar cedo, caminhar por toda Jerusalém, subir o Monte das Oliveiras. Em Damasco visitou Abd-el –Kader, gostou do chá de hortelã pimenta oferecido e até foi convidado a visitar o harém, recusando a amabilidade do anfitrião árabe. Em Jerusalém foi ao Santo Sepulcro, assistiu missa, percorreu os passos da Via Dolorosa e subiu até a capela do Calvário. No Mar Morto, viu a ilha de Redjom-Luth e considerou a água amargosa picante e oleosa ao tato.

Os beduínos não se submetiam ao poder central dos turcos, que governavam a região. Este lugar é famoso pela tendência de seus habitantes a apropriar-se do alheio comentou sobre os nômades do deserto, que saqueavam os viajantes desprotegidos. Mas fez uso, durante parte da viagem, da segurança garantida pelos próprios beduínos.

Como todo turista que se preze, Dom Pedro II seguiu os protocolos de quem se aventura por outras culturas: comeu docinhos preparados por monges, catou pedrinhas nas calçadas de Damasco como souvenir, gravou seu nome em uma rocha perto de um templo, frequentou banhos turcos, se emocionou no Santo Sepulcro, que visitou três vezes, inclusive no dia em que completou 51 anos.

Ao invés de dirigir o Brasil, preferiu estudar hebraico traduzindo trechos bíblicos. Mesmo assim, foi o homem que governou o Brasil por mais tempo do que qualquer outra pessoa.

  Fotos: Divulgação
Bilhete para entrar no Baile da Ilha Fiscal: foram 3 mil convites emitidos e 5 mil participantes, incluindo os famosos penetras Dom Pedro II, o intelectual viajante, que percorreu o mundo por duas vezesForrado de seda, com as cores das bandeiras do Brasil e do Chile, o cardápio de uma imensa, e última, festa do Império
Dom Pedro II, o último imperador no BrasilDom Pedro II: depois dele, a República. Depois dele, só o rei Momo no CarnavalO prédio de inspiração em castelo da França, hoje é o museu e vale o passeio no Rio de Janeiro

O ÚLTIMO BAILE DO IMPÉRIO
Já que estamos comemorando 126 do Brasil republicano, convém lembrar que o império brasileiro acabou com uma grande festa. Foi no final do século 19 – dia 9 de novembro de 1889 – que o Visconde de Ouro Preto orquestrou o espalhafatoso baile no Palácio da Ilha Fiscal, no ambiente que é réplica de um castelo francês, na entrada da Baía da Guanabara.

O pretexto para a folia foi homenagear oficiais do encouraçado chileno Almirante Cochrane, ancorado no Rio de Janeiro. Cerca de cinco mil pessoas aproveitaram a festa, embora só tenham sido distribuídos três mil convites. Todos vestindo casacas, fardões de gala, mulheres de longos vestidos de cintura espartilhada e jóias coruscantes. Foi uma verdadeira hecatombe de comida, servida no bufê e ceia à francesa. Pavões com caudas em leque, caça, peixes, bolos em formato de castelos, doces de todos os tipos e sabores foram servidos por 150 copeiros e 60 trinchadores.

40 cozinheiros e 50 ajudantes prepararam 18 pavões, 25 cabeças de porco, 30 presuntos,50 peixes, 64 faisões, 80 perus, 100 línguas de boi, 300 galinhas, 350 frangos, 500 perus, 800 quilos de camarão, 800 latas de trufas, mil peças de caça, 1.200 latas de aspargos.

E mais 10 mil sanduíches, 12 mil sorvetes, 10 mil litros de cerveja, 258 caixas de vinhos e champanhe– 39 tipos de vinhos –, servidos em nove copos de diferentes tamanhos. No cardápio forrado de cetim, com as cores da bandeira brasileira e chilena os pratos ganharam nomes franceses, o que é sempre muito chique: filet de merlan farcis; croquembouche aux roses, dindon aux marrons, jacutinga et pigeons sauvages à Guanabara, gelées macédonie aux fruits. Já naquela época o pixuleco era corrente: nobres e aristocratas subornaram copeiros para receberem os melhores e mais fartos pratos. Um convidado passou mal depois de devorar uma travessa de caranguejos e lagostas em maionese. Mas não foi o único. Houve quem enfrentasse a fila várias vezes, sempre com cara de paisagem. Comendadores comedores, pelo visto.

Mas o que causou espanto à turma da limpeza, no dia seguinte, foi o que sobrou esparramado pela ilha: três coletes de damas, oito corpetes e 17 cintas ligas. A maior festa dada pela monarquia acabou funcionando como uma amarga despedida. Ao invés de mostrar a força do império, terminou seis dias depois, com a prisão do Visconde do Ouro Preto, feita pelo marechal Deodoro Fonseca, extinguindo o sistema monárquico representativo, depondo a dinastia imperial.O que resultou na proclamação da República. Rei e imperadores, somente o Momo e as figuras dos desfiles das escolas de samba, no Carnaval. Afinal somos padrão Fifa há séculos.


DESTAQUE

VÁ VER PINGUINS
Você tem 7.900 dólares sobrando? É o necessário para ir ver os pinguins no sul da América do Sul. O programa com o navio Sea Spirit tem saídas marcadas para o dia 19 de dezembro (retorno no dia 29), 28 de dezembro ( final no dia 7 de janeiro de 2016). A tarifa que começa em 7.900 dólares por pessoa, em cabine dupla, inclui, além dos pinguins, uma noite em Ushuaia (Argentina), transfer para embarque e desembarque, viagem no Sea Spirit, passeios em terra, refeições, jaquetas e botas impermeáveis, coquetéis de boas vindas e de despedida além das taxas do porto.

Não estão incluídos os bilhetes da parte aérea, as bebidas, as taxas de serviço. O roteiro começa em Ushuaia, segue para a passagem de Drake, as Ilhas Shetland do Sul , Península Antártica, retornando a Ushuaia no 12º dia do programa. Vai dar para encarar? Bom, sempre dá para tentar a mega sena.

IMIGRANTES E INDIGENTES
800 mil imigrantes na Alemanha são notícia diariamente, em todo o planeta. Quase o mesmo número – 774 mil conforme dados da Unimed Paulistana -, terão que migrar sabe Deus para onde, agora a Unimed Paulistana faliu. Por causa de anormalidades assistênciais e administrativas graves nas justificativas da Agência Nacional de Saúde, que monitorou a operadora desde 2009.

Serão perto de 800 mil brasileiros que pagaram verdades fortunas mensalmente, tiveram seus planos de seguro saúde com tarifas aumentadas constantemente há 15, 20 ou mais anos, e agora serão os novos migrantes de mais um escândalo no Brasil padrão Fifa.

O conselho de advogados especializados em Direito à Saúde é que o infeliz beneficiário da Unimed Paulista procure a Justiça, caso os problemas não se resolvam em 30 dias. Procurar o Judiciário? A mulher grávida prestes a dar à luz, o aidético que depende dos tratamentos, o canceroso que conta os dias que ainda restam de vida, o doente de mais de 90 anos? Quem terá tempo para esperar o que seria de direito sabendo os lentos passos da nossa Justiça? O outro conselho, além de procurar o Judiciário: continue pagando mensalmente. O buraco é mais um dos que não têm fundo.

800 mil brasileiros – somente em São Paulo – estarão caindo mais fundo e mais rápido no poço, do que Alice no País das Maravilhas. Ou País das Marolinhas?