ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, ENVIADA ESPECIAL RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Quem viu o show do guitarrista nova-iorquino Steve Vai, 55, na noite desta sexta (25), no Rock in Rio, consegue entender por que em 2013 o “Village Voice” o elegeu como um dos “10 guitarristas mais babacas de todos os tempos”. À primeira vista, até parece uma ofensa, mas está mais para tiração de sarro com o famoso virtuosismo do discípulo de Frank Zappa – ele tocou em sua banda no começo dos anos 1980. O problema é que Steve Vai faz tudo parecer fácil demais. Ou, nas palavras do famoso jornal da contracultura norte-americana, “você quase pode sentir quão insignificante ele pensa que você é a cada nota que toca”. Por isso, só restou à plateia do Rock in Rio reverenciar o show instrumental de Steve e sua “nova banda”, como ele apresentou a Camerata Florianópolis, um acompanhamento de luxo em sua apresentação. A montanha-russa ao lado do palco Sunset era tudo o que a fusão do guitarrista com a orquestra, sob regência do maestro Jeferson Della Rocca, não era: cheia de adrenalina e propícia para emoções passageiras. O público mal pulou e, fora uns momentos em que reagia com gritos de “ôôôôu” às provocações sonoras de Steve Vai, ficou de braços cruzados. Só faltava a posição clássica de pensador, balançando a cabeça em aprovação com o indicador estirado até a orelha e o polegar apoiando o queixo. No fim, restou a impressão do rock gourmet. Se à tarde você tirava selfie com um homem vestido de vaca de pelúcia para divulgar uma marca de biscoitos, ao menos a técnica sempre apurada e o conhecimento harmônico de Steve Vai alimentavam a fantasia de se estar consumindo uma experiência verdadeira, pura como uísque sem gelo. No palco, um telão exibia imagens que ora lembravam fundos de tela de computadores nos anos 1990, simulando o espaço sideral, ora remetiam à geometria do construtivismo russo. O show começou com um belo duelo entre a guitarra e as cordas da orquestra. Na sequência, várias músicas do repertório do discípulo de Zappa, como “Velorum”, “Racing the World”, “Kill the Guy with the Ball” e “For the Love of God”. Na plateia, três fãs de Slipknot, a banda mais espetaculosa da noite, que sobe no palco com máscaras monstruosas e macacões vermelhos, prometiam fundar a Escola de Samba Steve Vai-Vai. “Só que com marmanjo cabeludo em vez de passista gostosa”, brincou um dos “empreendedores”, o engenheiro Henrique Levi, 38. Herdeiros do espírito zombador da banda de rock experimental Zumbi do Mato, que nos anos 1990 já cantava em “Ah! Bem Suado Guitarrista!”: “Se as pedras da caminhada quiserem te atropelar/ Segura na mão de Deus e vai/ Mas se os carros na auto-estrada quiserem te apedrejar/ Segura na mão do Steve Vai”. Para quem queria rock de primeira, agora foi.