Para conhecer a Europa ou a Ásia, o Oriente Médio ou a antiga Pérsia (Irã) não é preciso se preocupar com euros, dólares, câmbios enlouquecidos, inflação ou longas distancias. O Brasil, país continente, recebe um número pífio de visitantes estrangeiros. Daí que até cérebros pensantes da capital federal estão pensando em acabar com o Ministério do Turismo. Já que não funciona mesmo…

Ironias à parte, é bem verdade que é possível viajar para diferentes países e diferentes culturas, sem sair das nossas fronteiras. Graças aos imigrantes. Comece por Santa Catarina ou São Paulo.

AÇORES – Santa Catarina teve ocupação de açorianos, alemães, austríacos, italianos, portugueses, poloneses. A mistura de nacionalidades começou no princípio do século XVI, quando os europeus procuravam uma passagem do Atlântico para o Pacífico e chegaram ao litoral Sul do Brasil. Em 1515 a expedição espanhola comandada por Juan Díaz Sólis chegou ao Rio da Prata. O navegador foi morto pelos indígenas e os sobreviventes, na tentativa de fuga, acabaram naufragando próximo à Ilha de Santa Catarina. Os onze exploradores que se salvaram acabaram como os primeiros europeus a habitar as terras onde hoje está o Estado de Santa Catarina.

Para facilitar o abastecimento das tropas, Portugal decidiu incentivar a imigração para o litoral sul do Brasil. Cerca de 4.500 habitantes do arquipélago dos Açores foram transferidos para o Brasil, iniciando a tradição portuguesa de Santa Catarina, criando gado, pescando baleia, fazendo renda de bilro e trabalhando o barro em cerâmicas artesanais, tradições mantidas até hoje. Menos a pesca da baleia, é claro. As influências açorianas continuam na arquitetura, na religiosidades, nas festas, na culinária de frutos do mar e até na maneira cantada de falar, como em Florianópolis. Os açorianos espalharam seus usos e costumes por 26 municípios do litoral catarinense e do interior.

BLUMENAU – Foi em 2 de setembro de 1750 que chegaram ao Vale do Itajaí os primeiros 17 imigrantes alemães liderados pelo químico-farmacêutico Hermann Bruno Otto Blumenau, de 31 anos. A área a ser ocupada era de duas léguas, doada pelo governo provincial para a criação de uma colônia agrícola com imigrantes europeus, dentro da política de colonização imperial da segunda metade do século XIX. Nos anos seguintes, veleiros europeus de companhias particulares, atravessaram o Atlântico, com agricultores e cultivadores a bordo. Na primeira década, até 1860, a colônia manteve-se propriedade particular. Com dificuldades financeiras, Otto Blumenau passou o empreendimento ao governo imperial, mas continuou na direção da colônia até que ela fosse elevada à categoria de município, em 1880, já com 15 mil habitantes. Toda a região é repositório de costumes e tradições da terra mãe, a Alemanha. Vila Itoupava, distante 25 quilômetros do centro de Blumenau, preserva tradições na arquitetura, culinária, folclore e no idioma—90% da população fala alemão ou dialetos. Oktoberfest em outubro é uma das grandes festas da cerveja do planeta e o ponto alto no calendário de eventos em Blumenau. São Pedro de Alcântara, Blumenau, Joinville, Pomerode, Jaraguá do Sul e Brusque foram os locais escolhidos pelos alemães em torno do vale do rio Itajaí, no norte do estado.

ITALIANOS – No fim do século chegaram os italianos a Santa Catarina, fixando residência nos vales dos rios Tijucas e Tubarão, onde começaram a cultivar vinhedos e a produzir vinhos, para acompanhar a gastronomia baseada em massas, embutidos e assados em Urussanga, Videira, Rio do Oeste e Nova Trento.

AUSTRÍACOS E POLONESES – Outros povos europeus aderiram ao programa brasileiro de incentivo à imigração, como os poloneses e austríacos que chegaram às terras catarinenses. Treze Tílias, no meio oeste do estado, cultiva as tradições austríacas e São Bento do Sul é o melhor exemplo da preservação da cultura polonesa no estado.

ROTEIROS DOS COLONIZADORES – Há cerca de vinte circuitos turísticos baseados nas cidades de culturas germânica, açoriana, italiana, austríaca, polonesa, passando por Florianópolis (capital), litoral, roteiros de neve, programas de turismo rural, águas termais, turismo ferroviário, religioso, ecológico. Além de turismo de esportes, de festas, passeios náuticos, de eventos e negócios. Santa Catarina tem 561 quilômetros de litoral. O calendário de eventos do estado garante programas turísticos durante o ano todo, inverno ou verão, primavera ou outono.

UCRANIANOS – Os primeiros imigrantes da Ucrânia chegaram ao Paraná em 1891. Prudentópolis é a cidade símbolo do povo e da cultura, onde todas as tradições culturais são mantidas até hoje. Foi o presidente Prudente de Morais ( daí o nome de Prudentópolis) que organizou, no final do século dezenove, a vinda de cinco mil famílias de agricultores para desbravar e colonizar a região central do Paraná. Hoje há mais de 400 mil imigrantes e descendentes de ucranianos no Brasil, dos quais 80% permanecem no Paraná. Depois de 1891 outras cinco mil famílias se reuniram aos pioneiros, mas os grupos maiores foram os de 1895 e 1914, provenientes da Galícia oriental, maior e também a mais pobre das províncias do antigo império austro-húngaro.

Os imigrantes desembarcaram nos portos de Santos e Paranaguá, muitos deles procurando Curitiba e arredores, para depois seguirem ao Sul do Estado. Na época Prudentópolis era São João do Capanema, um povoado abandonado e pobre. Foram os imigrantes que abriram clareiras na mata, plantaram linho para confeccionar suas próprias roupas, um costume ucraniano, plantaram centeio, trigo e milho, criaram abelhas para o mel e a cera. Trabalharam duro, transformaram a região em local aprazível, aproveitando ao máximo a natureza generosa. As tradições milenares continuam lá: casas de madeira de telhado assimétrico, folclore, arte, religião, artesanato. A igreja de São Josapaht com suas cúpulas bizantinas, o museu dos imigrantes, as festas tradicionais, os pratos típicos ( perohê, cracóvia, kubassát) fazem a atração para visitantes.Os bordados típicos em ponto de cruz e os ovos pintados, pêssanka, verdadeiras obras de arte, podem ser admirados e adquiridos junto do Museu do Imigrante. Prudentópolis é região de serras, passagem entre o segundo e terceiro planaltos do Paraná, acima de 800 metros de altitude. Um lugar onde ainda sobrevivem os pinheiros araucária, no meio da mata primária. Muitos rios descem dos morros, formando quedas d’água e canyons, algunas cascatas com mais de 100 metros. Tanta beleza ainda é natural. E dista apenas 200 quilômetros de Curitiba. Só no município ficam 50 cachoeiras, todas acima de 25 metros de altura. Trilhas levam a locais deslumbrantes, preferidos pelos que curtem off-road, adrenalina das emoções fortes. Os canyons são resultado do movimento da terra há milhões de anos e passam de 200 metros de altura. Pelas fendas, muita água, calmas ou corredeiras, que permitem esportes radicais. São Sebastião é o maior salto da região e um dos maiores do Paraná. Forma extenso vale com fauna e flora que guardam lembranças das origens do estado. Os 196 metros da cachoeira pulverizam as águas do rio São Francisco em nuvens e gotículas que repetem as cores do arco-íris.

HOLANDESES – Carambeí, distante 20 quilômetros de Ponta Grossa, foi colonizada por holandeses em 1913. Agropecuária é a força da região. As tradições trazidas da Holanda originaram a Casa da Memória, onde ficam expostas fotografias, publicações de época, pinturas, documentos de construções antigas, máquinas de trabalho doméstico e rural das décadas de 20 e 30. A Koffiehuis repete a tradição dos Cafés na Holanda, com doces e tortas cheias de cremes, frutas em conserva e natas.