Dono de umas das florestas mais competitivas do mundo, o Paraná vem dando novo impulso à atividade florestal, embalado pelos novos investimentos industriais e a alta produtividade no plantio de pinus e eucalipto. Além de grandes projetos das indústrias de madeira, papel e celulose, as cooperativas agropecuárias começam a apostar nesse segmento. 

O setor de papel e celulose, que está crescendo e vive momento favorável com os bons preços internacionais, e as cooperativas, que usam a madeira na secagem de grãos e geração de biomassa, devem puxar a produção florestal no curto prazo, diz o secretário da Agricultura do Abastecimento, Norberto Ortigara. 

O consumo de madeira, que atualmente está em 51 milhões de metros cúbicos, cresce 7% ao ano no Estado. Apesar de ser o maior produtor de pinus e o quarto maior de eucalipto do País, a produção florestal do Paraná ainda é insuficiente para atender a demanda. Para fazer frente a esse ritmo, o Paraná precisará ampliar a área em pelo menos 500 mil hectares e alcançar 2 milhões de hectares nos próximos anos, afirma Amauri Ferreira Pinto, coordenador estadual de Produção Florestal da Emater. 

O Paraná tem 1,4 milhão de hectares de florestas plantadas, de acordo com a Emater – 51% estão nas mãos de produtores rurais. Há quinze anos, 60% das florestas eram de grandes empresas. A situação se inverteu e os produtores dominam esse cultivo no Paraná, com um grande alcance social, diz. 

APOIO – De acordo com Norberto Ortigara, o cultivo florestal deve crescer principalmente na pequena e média propriedade. De acordo com ele, uma reunião agendada para 27 de outubro deve definir, juntamente com o secretario do Planejamento, Silvio Barros, e do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Ricardo Soavinski, a ampliação do apoio à atividade florestal no Estado, com recuperação de áreas degradadas e aproveitamento racional na madeira. 

No último ciclo de produção, a Emater prestou assistência técnica e capacitou cerca de 61 mil produtores florestais, que vêm apostando na integração entre a agropecuária e a floresta. A silvicultura gera, por ano, um Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de R$ 4 bilhões e tem efeito multiplicador nos pequenos municípios do Estado. A cadeia florestal envolve 700 empresas, que empregam diretamente 32 mil pessoas, de acordo com dados do Instituto de Florestas do Paraná, ligado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento. 

A maior parte da área plantada concentra-se nas regiões de Ponta Grossa, com 393 mil hectares plantados, e de Curitiba, incluindo os municípios do Vale do Ribeira e da Região Sul, com 200 mil hectares plantados. 

Do total da área plantada, cerca de 20% são áreas de 1 a 5 hectares, administradas por pequenos produtores. A expansão do setor se dará em pequenas áreas, diz o engenheiro agrônomo Flavio Augusto Ferreira do Nascimento, do Instituto de Florestas do Paraná. 

De acordo com o mapeamento realizado pelo Instituto, o Paraná tem uma área menor do que a computada pela Emater, com 1,065 milhão de hectares plantados, sendo 340 mil hectares de eucalipto e 653 mil hectares de pinus. O número da Emater inclui também pequenas propriedades. 

RENTABILIDADE – A atividade florestal já compete, em geração de renda, com grandes culturas, como a soja. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), no ano passado, o Valor Bruto da Produção (VBP) por hectare plantado com pinus e eucalipto no Paraná foi de R$ 3.600. Na mesma área, o VBP da soja por hectare foi de R$ 3.502,00. O plantio de pinus e eucalipto, embora de ciclos longos de produção, garantem uma renda muito próxima da soja, mas com área quatro vezes menor, diz Rosiane Dorneles, engenheira florestal do Instituto de Florestas do Paraná. A soja ocupa 24% da área total do Estado, enquanto, as florestas cobrem 5,4%. O investimento para iniciar a atividade é de R$ 6 mil por hectare. 

A madeira proveniente desses reflorestamentos é usada pelas indústrias para fabricação de pasta mecânica, celulose, madeira serrada, chapas e móveis. Além disso, as cooperativas agropecuárias aproveitam a madeira para produção de biomassa e energia para secagem de grãos, para alimentação de caldeiras e frigoríficos. 

Com o crescimento da demanda, os preços estão atraentes para o produtor, de acordo com Amauri Ferreira Pinto, coordenador estadual de Produção Florestal da Emater. Os preços pagos pela madeira estão em torno de US$ 20 por tonelada colocada no patio da empresa. A tendência é que os preços subam com o crescimento da procura, se equiparando aos preços internacionais. No exterior, o preço pago chega a US$ 40 por tonelada, diz. 

Cooperativas agropecuárias querem dobrar área florestal 

Com foco na geração de energia a partir da madeira, as cooperativas agropecuárias, que há alguns anos se concentravam na produção e no processamento de grãos e carne, agora investem também em ativos florestais. O objetivo é aproveitar a madeira para ganhos de eficiência energética na secagem de grãos e nas caldeiras. 

Segundo a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), as cooperativas paranaenses já têm 16 mil hectares de florestas plantadas no Estado e precisam ampliar para pelo menos 35 mil hectares nos próximos anos para atingir a autossuficiência energética. 

As cooperativas sempre compraram madeira no mercado, mas investir em florestas passou a ser importante para evitar a falta do produto e a grande oscilação de preços. A questão da geração de energia é estratégica atualmente e a produção florestal deve ganhar espaço, diz Silvio Krinski, engenheiro agrônomo da Gerência Técnica e Econômica da Ocepar. 

A cooperativa Agrária, de Guarapuava, no Centro-Sul do Estado, já tem 4,5 mil hectares próprios plantados com eucalipto, que atende 70% da demanda por biomassa da cooperativa. 

A estimativa é ampliar para algo próximo de 7 mil hectares até 2022, de acordo com o engenheiro florestal Claudinei Lopes, coordenador da unidade florestal. Esse aumento contempla os projetos de expansão da cooperativa nos próximos anos e também os investimentos em produtividade, diz. A Agrária vem testando 25 clones de eucalipto, com foco na ampliação do rendimento, que já é acima da média do Estado, com 50 metros cúbicos por hectare/ano. 

FOMENTO – A Castrolanda, de Castro, nos Campos Gerais, quer expandir sua área florestal por meio de fomento. A cooperativa tem 1,5 mil hectares de reflorestamento de eucalipto, dos quais 200 hectares por meio de fomento. 

Atualmente 25 produtores atuam no ramo, com assistência técnica e garantia de compra por parte da cooperativa, de acordo com Gilvan Plodowski, engenheiro florestal da cooperativa. A área de florestas se transformou em uma unidade de negócios própria, que hoje tem metas, balanço financeiro e tem que apresentar resultados. O objetivo é chegar a uma área próxima de 2 mil hectares. 

A expectativa é que a floresta ocupe áreas degradadas, como forma de diversificação do pequeno produtor, fazendo integração com a lavoura e a pecuária, acrescenta Krinski, da Ocepar. 

O início da operação, no próximo ano, da fábrica de celulose da Klabin em Ortigueira, nos Campos Gerais, gera expectativa entre produtores da Cooperativa dos Silvicultores dos Campos Gerais (Copergera), criada em 2014. Com 26 cooperados – a maioria fomentados da Klabin – a Copergera pretende vender no mercado subprodutos que não interessam à fabricante papel e celulose. 

Do total de florestas plantadas da Klabin, 107 mil hectares garantirão o abastecimento de madeira da nova fábrica, sem imediata necessidade de ampliação, de acordo com a empresa. O pinus ocupa cerca de 60% da área e o eucalipto os 40% restantes. 

A fábrica de celulose da Klabin, que vai produzir 1,5 milhão de toneladas por ano, vai absorver entre 4,5 milhões e 5 milhões de toneladas de madeira, principalmente fina, de acordo com Marcos Geraldo Speltz, presidente da cooperativa. 

A ideia da Copergera é vender outros tipos de madeira também para as indústrias de paineis e as próprias cooperativas, de acordo com Speltz. Atualmente a Copergera tem 5 mil hectares plantados – 58% de eucalipto e 42% de pinus. 

Paraná está no topo da produtividade do setor 

As florestas do Paraná estão entre as mais competitivas do mundo, graças a investimentos em pesquisa e melhoramento genético. O rendimento por hectare do pinus pode chegar a 50 metros cúbicos por hectare/ano, e, no caso do eucalipto, a 65 metros cúbicos por hectare/ano. Nos Estados Unidos e no Chile, por exemplo, a produtividade é bem menor, de 15 a 20 metros cúbicos por ano, lembra o diretor executivo da Associação Paranaense de Reflorestadores (Apre), Carlos Mendes. 

A vantagem competitiva do Paraná está nos investimentos intensivos em pesquisas para aprimorar o manejo florestal. Por meio dele, é possível gerar madeira com melhor aproveitamento, destinada a vários setores – da energia até a laminação de madeira. 

Os materiais genéticos obtidos por meio de melhoramento de espécies cultivadas também dão origem a árvores com maior taxa de crescimento e resistência a pragas e à geada e mais qualidade de fibras. Com o crescimento do setor, a expectativa é que o volume de mudas geradas passe de 75 milhões para 115 milhões entre 2016 e 2018. 

Câmbio favorável contribui para recuperação da indústria 

Depois de um período de baixa, a indústria da madeira processada do Paraná dá sinais de recuperação, puxada pelo mercado externo. O dólar favorável ainda tem efeito tímido para as exportações, mas gera expectativa de tempos melhores para o setor, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci) . 

O Paraná é o maior produtor e exportador de compensado de pinus do País. O produto é usado principalmente na construção civil. Com a crise mundial e a retração da economia norte-americana, as exportações para os Estados Unidos, que respondiam por mais da metade das compras, despencaram. 

Agora, com a retomada do mercado de construção civil americano, as vendas começam a reagir. O movimento ajuda a compensar, em parte, a desaceleração do mercado interno. De janeiro a agosto, o Paraná exportou 914,7 mil metros cúbicos de compensado de pinus, 13% mais do que no mesmo período do ano passado. Desse total, os EUA responderam por 15%, de acordo com levantamento da Abimci. 

Segundo Paulo Roberto Pupo, superintendente da entidade, as vendas estão melhores, mas ainda não é momento para euforia. Trata-se de uma recuperação gradativa do setor. O dólar ainda oscila muito, o que tem gerado impacto também na formação de preços, com os importadores pedindo descontos, diz.