SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Petrobras contrariou sua decisão do final do ano passado de não manter negócios com 23 empresas investigadas na Operação Lava Jato em razão do envolvimento delas em casos em que há suspeitas ou provas de propina.
A estatal encontrou um subterfúgio para repassar a dois estaleiros cerca de US$ 1 bilhão, o equivalente hoje a R$ 3,8 bilhões, segundo reportagem da revista “Época”.
Os repasses ocorreram a partir de maio deste ano. Todas as empresas investigadas na Lava Jato passam por dificuldades econômicas justamente porque foram proibidas de celebrar contratos com a Petrobras até que as suspeitas sobre pagamento de propina sejam esclarecidos.
Os beneficiados pela estatal são os estaleiros controlados pela Odebrecht, OAS e UTC (Enseada), pela Engevix, chamado Ecovix.
Um ex-vice presidente da Engevix, Gerson Almada, já confessara a investigadores da Operação Lava Jato e ao juiz Sergio Moro que pagara propina para fechar contratos de reforma de navios para a Petrobras.
O presidente da UTC, Ricardo Pessoa, foi preso, fez um acordo de delação e confessou uma série de crimes.
O presidente da Odebrecht, Marcelo Obebrecht, está preso desde julho, sob acusação de pagar propinas fora do país para fechar contratos com a estatal.
ALERTAS
O departamento jurídico da estatal era contrário à operação de ajuda para os estaleiros, de acordo com um documento obtido pela reportagem da revista.
“Não se pode ignorar o envolvimento das empresas controladoras das contratadas [as sócias dos estaleiros] nos atos ilícitos hoje investigados no âmbito da Operação Lava Jato”, afirma.
O juiz Sergio Moro recomendou mais de uma vez que as Petrobras não faça negócios com as empresas que estão sob investigação.
Os repasses foram feitos por meio de uma figura chamada “conta vinculante” -uma forma rápida de as empreiteiras receberem recursos da estatal. Por meio da conta vinculante, basta a empresa apresentar notas que comprovem seus gastos nas obras para receber.
Em condições normais, o pagamento é feito após a conferência de que o serviço foi de fato prestado, segundo os padrões estabelecidos em contrato, o que torna o processo muito mais demorado.
A Petrobras afirmou, em nota para a revista, que não há irregularidade nos repasses, baseados em “análises técnicas” e feitos para manter “projetos de acordo com o plano de negócio”. As empresas não quiseram se manifestar sobre as suspeitas.