MÁRCIO FALCÃO BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Teori Zavascki determinou que um juiz auxiliar ouça o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró sobre seu acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, no qual narra detalhes do esquema de corrupção da Petrobras. O procedimento é adotado antes de o Supremo confirmar a colaboração. O objetivo é saber se o delator confirma que fez os depoimentos de forma espontânea ou se foi coagido a falar. Cabe ao ministro do Supremo avaliar se estão de acordo com a lei os termos da delação, que estabelece por exemplo, o tempo de prisão, sem entrar no mérito das declarações. O ex-diretor da área internacional da Petrobras fechou um acordo de delação premiada depois que sua defesa entregou evidências de que o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) tentou, em conluio com o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, fazer com que ele não firmasse colaboração com a Justiça. Delcídio e Esteves presos pela PF na semana passada. O acordo foi firmado entre advogados de Cerveró e a Procuradoria Geral da República na última quarta-feira (18). O filho de Cerveró, Bernardo, entregou aos investigadores áudios de Delcídio oferecendo vantagens a Cerveró para que ele não fizesse delação. O acordo foi firmado com a Procuradoria Geral da República por envolver políticos de foro privilegiado e também cita a presidente Dilma Rousseff ao afirmar que ela sabia dos esquemas envolvendo a Petrobras como integrante do conselho da estatal. Esta foi a terceira rodada de negociações entre Cerveró e os procuradores no sentido se firmar um acordo de delação. As primeiras conversas aconteceram por volta de agosto, quando ele falou sobre a compensação do contrato de um navio-sonda da Schaihin para quitar uma dívida de campanha com o PT. Cerveró também havia citado em um dos anexos que Delcídio ganhou propina na venda da refinaria de Pasadena. Na época, porém, os procuradora não consideravam o ex-diretor uma figura “confiável” e o viam como um “jogador”. A saúde emocional abalada, com oscilação de humor e visitas semanais de psiquiatra, com medicação, também levantou questionamento. Na minuta preliminar da sua delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou que a presidente Dilma Rousseff “sabia de tudo de Pasadena” e que ela “me cobrava diretamente”. A refinaria, comprada nos Estados Unidos, teve superfaturamento de US$ 792 milhões, na avaliação do TCU (Tribunal de Contas da União), e foi adquirida após encaminhamento favorável de Dilma, que na época era presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Delcídio leu para os participantes a minuta da delação de Cerveró à qual ele teve acesso -documento que era sigiloso. Segundo o senador, Cerveró relatou que Dilma “acompanhava tudo de perto” da refinaria de Pasadena e que fez várias reuniões com ela para tratar do assunto. A delação de Cerveró ainda não foi homologada pela Justiça. Nos seus depoimentos, ele também teria falado que a operação de Pasadena rendeu dinheiro para Delcídio.