Documentos apreendidos pela Polícia Federal, divulgados por Fernando Rodrigues, do Uol, listam possíveis repasses da Odebrecht para mais de 200 políticos de 18 partidos políticos. Os dados podem os mais preciosos já obtidos pela Operação Lava Jato, por aparentarem ser a movimentação paralela da construtora. A  descoberta e revelada ontem (22) pela força-tarefa a Operação Lava Jato.  As planilhas são repletas dedetalhes, mas não podem ser automaticamente considerados como prova de que houve dinheiro de caixa 2 da empreiteira para os políticos, porque repasses paralelos podem estar misturados com regularizados nas listas.

Os três pré-candidatos a prefeito de Curitiba, o atual prefeito Gustavo Fruet (PDT), Ratinho Junor (PSD) e o deputado Luciano Ducci (PSB) aparecem nas listas. A deputado federal Marcia Lopes (PT), o diretor da Itaipu Jorge Samek — ambos candidatos à prefeitura de Foz  — e o governador Beto Richa, além de do deputado federal Ricardo Barros (PP) também são citados nos documentos. O PT do Paraná também aparece como beneficiado.

A assessoria da Prefeitura de Curitiba afirma que não recebeu doações da Odebrecht na campanha de 2012. A assessoria também enfatiza que a construtora não tem contratos com a Prefeitura de Curitiba nesta gestão.

Ducci divulgou nota negando ter recebido recursos da empreiteira Odebrecht, como supostamente indica planilha apreendida pela Operação Lava Jato. Na minha campanha à reeleição, em 2012, não recebi recursos da Odebrechet. Todas as doações de minha campanha estão com origem declarada na minha prestação de contas, seja pessoa física ou jurídica, aprovada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), alega Ducci na nota. Sobre os recursos recebidos do diretório do PSB, em 2012, não tínhamos controle sobre sua origem. Vale destacar que a Prefeitura de Curitiba não mantinha contratos com a Odebrechet, afirmou o ex-prefeito.

O secretário de Estado do Desenvolvimento Urbano, Ratinho Júnior (PSD) divulgou nota nesta quarta-feira em que nega ter recebido doações de campanha da Odebrecht. O nome de Ratinho Jr aparece nas planilhas apreendidas pela Operação Lava Jato, que citam mais de 200 políticos e 18 partidos.

“Com relação ao veiculado nos meios de comunicação no dia de hoje, o deputado licenciado Ratinho Junior informa que todas as doações recebidas em suas campanhas, inclusive as oriundas do Diretório Nacional do PSC, foram devidamente declaradas à Justiça Eleitoral, cujas prestações de contas foram aprovadas pelo TRE-PR”, afirma ele no testo.

O deputado diz ainda estar “de acordo” e apoiar “incondicionalmente as investigações da Polícia Federal, Ministério Público Federal e da Justiça”. E garante ser “a favor que sejam julgados e punidos todos os partidos e candidatos que, eventualmente, tenham recebido doações ilegais”.

Beto Richa aparece como beneficiário de R$ 160 mil em 24 de setembro de 2010.

Os deputados federais Ricardo Barros (PP), Luiz Carlos Hauly (PSDB), a senadora Gleisi Hoffmann (PT) e seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo (PT) também são citados nas planilhas da Odebrecht apreendidas pela operação Lava Jato. Em referência ao deputado do PP há uma referência a um suposto repasse de R$ 100 mil para a campanha eleitoral de Maringá, com a anotação “indicação Ricardo Barros”.

Barros divulgou nota em que afirma que “em relação a planilha da página 21 que aponta a indicação de recursos no valor de R$ 100 mil para a campanha eleitoral de Maringá em 2012”, ele “esclarece que a campanha do prefeito Roberto Pupin não recebeu doação direta de empresas do Grupo Odebrecht”.

Ainda segundo a nota, “todas as doações foram legais e a prestação de contas foi aprovada pela Justiça”. Barros afirma ainda que está verificando nas prestações de contas se a suposta doação foi realizada aos diretórios estadual e nacional do Partido Progressista.

O diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek, divulgou nota em que repudia com veemência o envolvimento de seu nome na lista de centenas de políticos que teriam recebido possíveis doações eleitorais da Odebrecht, conforme consta numa das planilhas que teriam sido apreendidas pela Polícia Federal na 23ª fase da operação Lava Jato.

Samek diz achar estranho ter seu nome nesta lista da Odebrecht, já que está à frente da Itaipu Binacional desde 2003 e não foi candidato a prefeito de Foz do Iguaçu na última eleição. O diretor-geral brasileiro de Itaipu anunciou que fará interpelação judicial do executivo da Odebrecht, que seria responsável pela lista, e que tomará outras medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis. O petista afirmou, ainda, que abre mão dos seus sigilos fiscal e bancário para provar a inveracidade da menção ao seu nome.

No caso de Hauly, há menção de um repasse de R$ 360 mil em 24 de setembro de 2010. Gleisi e Paulo Bernardo são citados em outra relação, com um repasse de R$ 1,5 milhão.

Os documentos relacionam nomes da oposição e do governo: são mencionados, por exemplo, Aécio Neves (PSDB-MG), Romero Jucá (PMDB-RR), Humberto Costa (PT-PE) e Eduardo Campos (PSB), morto em 2014, entre vários outros.

As planilhas estavam com Benedicto Barbosa Silva Júnior, presidente da Odebrecht Infraestrutura, e conhecido no mundo empresarial como BJ”. Foram apreendidas na 23ª fase da operação Lava Jato, batizada de Acarajé, realizada no dia 22.fev.2016.

Como eram de uma operação de 1 mês atrás e só foram divulgados públicos ontem (22) pelo juiz federal Sérgio Moro, os documentos acabaram não sendo mencionados no noticiário sobre a Lava Jato.

A maior parte do material é formada por tabelas com menções a políticos e a partidos. Várias dessas planilhas trazem nomes, cargos, partidos, valores recebidos e até apelidos atribuídos aos políticos. Algumas tabelas parecem fazer menção a doações de campanha registradas no TSE. Há CNPJs e números de contas usadas pelos partidos em 2010, por exemplo.

Parte significativa da contabilidade se refere à campanha eleitoral de 2012, quando foram eleitos prefeitos e vereadores. As informações declaradas no SPCE (Sistema de Prestação de Contas Eleitorais, do TSE) desse ano não correspondem às dispostas nas tabelas. Na planilha acima, por exemplo, as siglas OTP e FOZ aparecem assinaladas ao lado de diversos candidatos, mas nem Odebrecht TransPort nem Odebrecht Ambiental (Foz do Brasil) realizaram doações registradas naquela eleição. Em 2012, a Construtora Norberto Odebrecht doou R$ 25.490.000 para partidos e comitês de campanha e apenas R$50 mil para uma candidatura em particular –a de Luiz Marinho, candidato do PT à prefeitura de São Bernardo do Campo (SP).

Em 2014, a soma de doações da construtora foi de R$ 48.478.100, divididos entre candidaturas individuais e comitês dos partidos. Em 2010, o total foi de R$ 5,9 milhões, apenas para partidos e comitês de campanha.

As tabelas estão disponibilizadas no site Uol

Moro decreta sigilo

O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo julgamento das ações da operação Lava Jato, decretou hoje sigilo sobre as informações do inquérito da Polícia Federal que envolve uma planilha da Odebrecht com o registro de supostos repasses da empreiteira para mais de 200 políticos de 18 partidos. A lista foi apreendida na 23ª fase da Lava Jato, batizada de Acarajé, realizada no último dia 22 de fevereiro, na residência de Benedicto Barbosa Silva Júnior, presidente da Odebrecht Infraestrutura, conhecido como BJ”.

Segundo a assessoria da Justiça Federal, ao contrário do que foi divulgado pela imprensa nacional, a lista não foi tornada pública por Moro, mas pela própria PF, no pedido de prisão preventiva de Benedicto. Como verificou que na lista há políticos com foro privilegiado, o juiz levantou o sigilo sobre o inquérito e pediu parecer do Ministério Público Federal sobre a possibilidade de que o material seja remetido ao Supremo Tribunal Federal.  

“Prematura conclusão quanto à natureza desses pagamentos. Não se trata de apreensão no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht e o referido Grupo Odebrecht realizou, notoriamente, diversas doações eleitorais registradas nos últimos anos”, alegou o juiz.

“De todo modo, considerando o ocorrido, restabeleço sigilo neste feito e determino a intimação do Ministério Público Federal para se manifestar, com urgência, quanto à eventual remessa ao Egrégio Supremo Triunal Federal para continuidade da apuração em relação às autoridades com foro privilegiado”, afirmou Moro.