SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Patricio Aylwin, o primeiro presidente eleito no Chile após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), morreu nesta terça-feira, aos 97 anos. A informação foi confirmada pela família do político democrata cristão. Aylwin era advogado e foi eleito presidente para suceder Pinochet a partir de 11 de março de 1990. Ele morreu ao lado dos parentes, em casa, após algumas semanas em estado grave. “O Chile perdeu um grande democrata”, afirmou a presidente chilena Michelle Bachelet ao tomar conhecimento da morte do líder político, ativo até há poucas semanas. O governo decretou três dias de luto oficial em homenagem ao ex-presidente.

 

RESTAURAÇÃO DEMOCRÁTICA

Eleito presidente para restaurar a democracia no Chile após a violenta ditadura de Pinochet, Patricio Aylwin foi um negociador que, com moderação, comandou a transição no Chile. Ele foi ainda reconhecido por ter conseguido combinar forte crescimento econômico com o restabelecimento da democracia, ajudando a consolidar o Chile como um dos países mais estáveis da América Latina.

Primeiro chefe de Estado eleito por voto popular após o fim do regime liderado por Pinochet, que deixou mais de 3.000 mortos, o líder da Democracia Cristã pediu perdão ao país pelas vítimas da ditadura um ano depois de restaurada a democracia, em 11 de março de 1990. Com a voz emocionada, ao entregar as conclusões da Comissão Nacional da Verdade e Reconciliação, presidida pelo advogado e ex-parlamentar Raúl Rettig, apresentou uma mensagem solene ao país. “Me atrevo, na minha qualidade de presidente da República, a assumir a representação da nação inteira para, em seu nome, pedir perdão aos familiares das vítimas”, disse Aylwin.

 

JUSTIÇA POSSÍVEL

Nos quatro anos do seu governo, Pinochet permaneceu no comando do exército, fazendo valer ainda o seu poder e influência. No fim de 1990, Aylwin teve que enfrentar o denominado “exercício de enlace” ordenado por Pinochet e que incluiu uma movimentação de tropas durante oito horas para pressionar pelo fim de uma investigação judicial por fraude ao fisco que incluía seu filho.

Apesar da pressão, Aylwin tentou manter com o ex-ditador uma relação próxima, enquanto com as vítimas instaurou uma política que chamou de “justiça na medida do possível”. “Percebi que, tendo uma relação próxima com ele, corria menos riscos do que com um militar que não conhecia. Com ele, cheguei a ter uma boa relação humana, mas não de amizade nem de confiança”, disse. Na área econômica, ele adotou a estratégia de abertura comercial que levou o país a um grande avanço, ao mesmo tempo que trabalhou para democratizar as instituições e reinserir o Chile internacionalmente como país democrático.

 

SOB CRÍTICAS

Apesar da sua importância histórica, Alwyn chegou a ser acusado por ter feito um governo que deu mais atenção à estabilidade de que à reforma política. Ele foi criticado por não ter tido uma postura mais forte contra os abusos de direitos humanos durante a ditadura. A atuação da Democracia Cristã durante o governo do socialista Salvador Allende (1970-1973) ainda é objeto de revisão. Apesar de o partido ter oferecido apoio no Congresso para que pudesse assumir como presidente (ao não obter maioria absoluta nas urnas), vários de seus dirigentes dirigentes deram suporte ao golpe de Estado que levou Pinochet no poder.

Na ditadura, Aylwin negociou com Pinochet a adoção em 1980 de reformas a uma nova Constituição que incluíam um calendário para a restauração da democracia a partir de um plebiscito em 1988, que o ditador perdeu para uma coalizão de partidos de esquerda que incluía a Democracia Cristã e que levou à vitória da opção ‘Não’ à continuidade do regime, com 56% dos votos.

Após a surpreendente derrota, como estava previsto na Constituição, Pinochet teve que convocar eleições um ano mais tarde. Aylwin foi designado candidato único pela coalizão de esquerda que havia triunfado no plebiscito e venceu nas urnas o aspirante do regime militar e da direita, o economista e ex-ministro de Pinochet Hernán Büchi.