No encerramento da primeira capacitação dos profissionais que vão trabalhar na Casa da Mulher Brasileira de Curitiba, centro integrado dos serviços públicos voltados às mulheres em situação de violência na cidade, servidores da Prefeitura de Curitiba, dos demais órgãos públicos que funcionarão dentro da Casa e voluntários conheceram a experiência de um ano e dois meses de atendimento da unidade de Campo Grande, MS.

A coordenadora da Casa da Mulher Brasileira de Campo Grande, Eloísa Castro Berro, gestora pela Secretaria Nacional do Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, transmitiu informações sobre as diretrizes do projeto, o manual de procedimentos, o passo a passo de cada serviço e funcionamento do colegiado gestor. A Casa da Mulher de Campo Grande foi a primeira unidade do programa nacional Mulher Viver Sem Violência a ser criada no país.

Desde o dia 3 de fevereiro de 2015, quando foi inaugurada, já acolheu 13,5 mil mulheres em 65 mil atendimentos diferentes. Eloísa conta que a demanda é muito grande, uma vez que a Casa recebe em média 1,3 mil mulheres por mês em busca dos serviços e que boa parte delas necessita, quando denuncia a agressão, de abrigamento provisório para si e para os filhos no alojamento de passagem.

Esse exercício da prática é fundamental para compreender como será o dia a dia, o passo a passo do funcionamento da Casa, do momento em que a usuária chega na recepção até a forma como é encaminhada para os demais serviços, explicou a secretária da Mulher de Curitiba, Roseli Isidoro. É um projeto pioneiro, em que vários órgãos do poder público municipal, estadual, federal, do Judiciário, Ministério Público e Defensoria, trabalham juntos e compartilham o mesmo espaço. Por isso é importante saber de Campo Grande como superaram as dificuldades próprias dessa integração, lembrou Roseli.

Mudança cultural e agilidade

Eloísa apontou as dificuldades iniciais enfrentadas, mas também os avanços obtidos. A primeira diferença é sobre a integração dos serviços. Antes a mulher fazia uma verdadeira via sacra em busca de serviços e, muitas vezes, desistia pelo meio do caminho. Hoje ela chega ali e encontra tudo de que precisa num atendimento integrado, humanizado e ágil, que faz com que ela resolva rapidamente as questões, afirmou a palestrante.

Outra mudança está no perfil das agressões. Assim que a Casa abriu as portas, a maior parte do atendimento era referente à lesão corporal, à violência física. A maioria das vítimas sofria agressões há décadas, ao longo de 10, 20, 30 anos, sem fazer um boletim de ocorrência e foi encorajada com a abertura da unidade. Hoje, a lesão corporal está em 3º lugar no ranking das denúncias, perdendo para os crimes de ameaça, injúria e difamação. Já no momento da ameaça, as mulheres procuram os serviços da Casa, contou Eloísa.

Na avaliação de Eloísa, essa mudança de comportamento mostra um avanço no enfrentamento da violência contra as mulheres, porque os conhecimentos que se tem a respeito do ciclo da violência mostram que as ameaças acabam de fato se materializando e tendem a se perpetuar pela relação de dependência emocional estabelecida entre vítima e agressor. 

Para ela, o principal benefício de agilizar o atendimento, inclusive nas emissões de medidas protetivas, é antecipar ao máximo o retorno das mulheres para a residência com seus filhos. Além disso, as vítimas também podem contar com uma resposta rápida na responsabilização dos agressores. Muitas vezes, a grande punição recai sobre as próprias mulheres que denunciam. São elas que saem de casa com os filhos e que ficam em situação mais vulnerável. Porque o agressor continua na residência até que ele seja notificado e cumpra a medida protetiva, explicou.

Otimismo e empoderamento

Eloísa observa que a Casa da Mulher Brasileira de Curitiba já conta com melhorias e com os ajustes que foram apontados como necessários pelas equipes de Campo Grande. Ela acredita  que em pouco tempo as duas unidades estarão trocando informações, conhecimentos e sugestões de inovações nos serviços.

Teresa Nascimento, assistente social da Cohab de Curitiba, é uma das profissionais animadas com a perspectiva de atuar na unidade curitibana. Esse espaço que integra as diversas ações de apoio às mulheres em situação de violência é uma conquista da sociedade. O nosso compromisso é fazer esse espaço de acolhida crescer e avançar, disse. A assistente social encara o desafio como uma oportunidade de desenvolvimento pessoal e profissional. Estou motivada porque é uma oportunidade de ser mais uma profissional nesse espaço a serviço da transformação da vida das mulheres em situação de violência na cidade de Curitiba, completou.

Segundo dados da Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, a criação da Casa da Mulher Brasileira de Campo Grande aumentou em 40% o atendimento nos serviços voltados à mulher. A expectativa é de que o mesmo aconteça em Curitiba. É um projeto-piloto de visibilidade mundial, uma vez que somos o único país no mundo que tem essa integração de todos os serviços funcionando, de maneira eficiente e com resultados muito promissores, informou a assessora da Secretaria Nacional, Patrícia de Souza.

Patrícia acredita na ampliação dos serviços, na capilarização cada vez maior da rede de proteção, no desafogamento dos processos na Justiça, no sistema de saúde e nas melhorias para a família. A tendência é de que essa política pública avance. Que as mulheres se apropriem dela e cobrem mais unidades, além das capitais, para o interior, disse. 

A capacitação dos profissionais da Casa da Mulher Brasileira é uma formação continuada, informou a secretária da Mulher, Roseli Isidoro. A próxima etapa se dará com os trabalhadores que estão sendo contratados para serviços de recepção, telefonia, limpeza e conservação e também para atuar na central de transportes da unidade.