SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As medidas que serão adotadas para promover o ajuste fiscal no Brasil e o impacto que elas terão sobre a camada mais rica da população ajudarão a traçar o futuro da desigualdade no país. A avaliação é do economista Marcelo Medeiros, sociólogo, economista e pesquisador do Ipea.
Durante seminário realizado pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e pela Folha de S.Paulo nesta segunda (2), na série Diálogos, Medeiros ressaltou que prever o comportamento da desigualdade é muito difícil, mas afirmou que o ajuste fiscal pode ajudar a aumentar ou diminuir as diferenças de renda, dependendo da forma que ele será feito.
“Se o ajuste for mais pesado para os ricos, haverá uma queda na desigualdade. Se o ajuste não for pesado para o 1% mais rico da população, não haverá queda”, disse. Para ele, é preciso olhar mais atentamente para o topo da pirâmide para entender melhor as diferenças de renda entre os brasileiros.
“Como 1% da população detém um quarto da renda no país, o comportamento deste pequeno grupo é muito importante para determinar a desigualdade brasileira.”
O pesquisador participou de um trabalho no Ipea para medir a desigualdade combinando resultados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios, do IBGE) com dados do IRPF (Imposto de Renda Pessoa Física).
A conclusão deste trabalho é diferente da apresentada por estudos que utilizam o índice de Gini (índice que mede a desigualdade) ou dados sobre renda domiciliar para estudar o tema: de 2006 a 2012, a desigualdade manteve-se estável no Brasil.
Segundo Medeiros, as pesquisas domiciliares subestimam a desigualdade da renda, pois desconsideram informações relevantes para formular o perfil dos mais ricos, como ganho de capital e resultado de aplicações financeiras. “Com as informações do IRPF, percebemos que a concentração de renda é muito maior do que vínhamos estimando”, afirmou.
Estudos que consideram apenas dados da Pnad revelam queda da desigualdade nos últimos anos, movimento impulsionado principalmente pela política de reajuste do salário mínimo. É o caso do trabalho de Rodolfo Hoffmann, doutor em economia agrária pela USP.
Também presente ao seminário, Hoffmann defendeu que houve decréscimo da desigualdade entre 1995 e 2014, período de seu estudo, mas ressaltou que o índice de Gini permite uma visão mais global da desigualdade e, por isso, deve ser acompanhado de outras informações para que haja uma interpretação mais abrangente do tema.
Ambos concordam, no entanto, que para enfrentar o problema é preciso inserir a desigualdade em todo o debate macroeconômico. “O ajuste fiscal é de quem e para quem? É preciso colocar a política redistributiva em tudo o que fazemos”, disse Medeiros.