SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após ser interditada para a Parada LGBT de São Paulo, a avenida Paulista foi liberada para a passagem de carros, nos dois sentidos, às 18h30 deste domingo (29). Com o tema “Lei de Identidade de Gênero Já – Todos Juntos contra a Transfobia”, a concentração da 20ª edição do evento começou às 10h em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo), na avenida Paulista. Porém, antes mesmo desse horário, as pessoas já se aglomeravam para acompanhar os 17 trios que desfilaram.

Após o término do cortejo, a festa irá continuar com um show no vale do Anhangabaú. Apresentam-se funkeiros como MC Tati Zaqui, DJs, performers e drag queens, capitaneadas por Sylvetti Montilla.

A festa foi marcada por cartazes e gritos contrários ao governo do presidente interino Michel Temer (PMDB) -apesar da orientação da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo de que os trios não deveriam levar faixas com mensagens contra políticos. No carro da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, algumas pessoas exibiram cartazes com os dizeres “Temer jamais” e “Marta traíra”.

O primeiro trio elétrico teve fala os deputados Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Orlando Silva (PC do B-SP), o vereador Nabil Bonduki (PT) e o ex-senador Eduardo Suplicy (PT). Todos criticaram o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff e disseram ser “contra o golpe”. O vereador Nabil Bonduki (PT) disse que é inevitável não haver protesto contra o presidente interino Michel Temer na Parada LGBT. “Não tem como não falar, né?”. Ele afirmou que a prefeitura exigiu um compromisso assinado pelos responsáveis por cada um dos três trios da prefeitura de não haver menções políticas nos carros. “Mas nos outros tudo bem. Cada um faz o que quer” diz.

O deputado federal Jean Wyllys disse que a Parada LGBT demorou para incluir na sua agenda o segmento “T” (transexuais, travestis e transgêneros) -é sobre eles que esta edição do evento se dedica. “Nessa sopa de letras, os homens e as mulheres trans são os que mais sofrem. Não existe armário para eles. Gays e lésbicas podem se esconder, mas trans, não. Eles estão muito mais expostos à violência e ao preconceito”, afirmou.

Felipe de Paula, secretário de Direitos Humanos e Cidadania (SDHC) da prefeitura de São Paulo, em entrevista à Folha de S.Paulo, previu um público maior para este ano em razão da conjuntura política atual do país -a Polícia Militar e a organização ainda não divulgaram a quantidade de pessoas presentes. “O momento político pede que as pessoas se manifestem mais. Não é possível aceitar retrocessos”, disse. “É um ciclo muito importante para a comunidade LGBT”, completou.

Em 2015, após a prefeitura cortar a verba do evento em 700 mil reais, de aproximadamente R$ 2 milhões para R$ 1,3 milhão, houve protestos da comunidade durante a passeata. Apesar disso, a prefeitura investiu valor próximo ao do ano passado, cerca de R$ 1,5 milhão, segundo o secretário. Esse montante compreende a Parada LGBT, a Caminhada Lésbica -ocorrida no sábado (28)- e o show de encerramento, transferido nesta edição para o vale do Anhangabaú por questões logísticas.

Indagado sobre a razão de a Parada LGBT somente ter entrado no calendário oficial da cidade neste ano, conforme decreto publicado pelo prefeito Fernando Haddad na última terça-feira (24), De Paula disse ter se surpreendido por esse fato. “Dá uma perenidade maior ao evento”, ressaltou. Felipe de Paula assumiu a pasta em abril, após Eduardo Suplicy (PT) deixar o cargo para disputar as eleições legislativas municipais 2016. O coletivo Ocupe a Democracia montou uma tenda na praça do Ciclista, no final da avenida Paulista. O grupo estendeu uma faixa contra Michel Temer e produziu camisetas com frases como “Amar sem Temer” e “Não pise na democracia”. “A gente estampou mais de 500 camisetas desde o começo da Parada”, diz Priscila Melo, 33, que faz parte do coletivo.

SENSE 8

O elenco da série “Sense8”, produzida e exibida pela Netflix, gravou por cerca de 40 minutos em um trio em frente ao shopping Cidade São Paulo. A gravação causou alvoroço no público na avenida Paulista. “Meu Deus, eles são reais”, grita Vinícius Barcellos, 15, ao ver o elenco da série sobre o trio elétrico. “Parece mentira”, diz Bruna Barbosa, 15, que assiste à série desde que ela foi lançada, em junho de 2015. Na cena, o personagem Lito (Miguel Ángel Silvestre) se declarou gay para o público da Parada da Gay e beijou Hernando (Alfonso Herrera). Estavam no trio Jamie Clayton, Alfonso Herrera, Brian J. Smith, Max Riemelt, Freema Agyeman, Miguel Ángel Silvestre e a diretora Lana Wachowsky.