A situação econômica atual do País está tendo um peso emocional e comportamental no padrão de consumo dos brasileiros com 30 anos — que enfrentam pela primeira vez uma crise econômica. O momento é particularmente delicado e os trintões sentem que o poder aquisitivo caiu: 85% têm a sensação de que o poder de compra está reduzido; 64% abriram mão de algum item por conta da crise; 50% sentiram no bolso, mas ainda conseguem levar a vida sem grandes esforços; 42% trocaram as marcas que costumavam usar por outras mais baratas; e 29% têm evitado fazer dívidas por receio de perder o emprego.
Essas são algumas das conclusões da segunda etapa do Projeto 30 — A crise e o padrão de consumo entre as diferentes tribos de 30 anos – desenvolvido pela Pesquiseria e coordenado pela Giacometti Comunicação. Segundo Dennis Giacometti, coordenador do estudo, os 30 anos são simbólicos na vida de muitas pessoas por trazerem, efetivamente, a dimensão do mundo adulto e por abrirem a possibilidade de reflexão sobre o passado e questionamento sobre o futuro.
O dinheiro é a principal questão na vida por materializar o desejo da estabilidade – e do sonho da liberdade. A estabilidade financeira é, aliás, a grande busca da maioria dos entrevistados e a vida profissional, um atalho para conseguir dinheiro. Para 86%, a busca por estabilidade financeira é a principal questão da vida.
Salvo raras exceções, a maioria afirma que o maior problema é a falta de dinheiro: 70% dos entrevistados têm baixa realização financeira, 23% média e 7% alta. Segundo Giacometti, entre as principais frustrações financeiras estão não conseguir pagar as contas em dia e deixar cair o padrão de vida da família.
A maioria dos entrevistados não se julgou capaz de juntar dinheiro ou manter uma poupança. Em função disso, emerge a cultura do agora, das pequenas indulgências. Já que não conseguiram juntar, preferem gastar um pouco mais para viverem momentos felizes. Permitem-se pequenos luxos e as compras proporcionam pequenas alegrias, afirma Giacometti.

Os perfis detectados pela pesquisa

28% dos entrevistados classificam-se em Recomeço
Estão gastando menos por medo de se perderem novamente. Em fase de reestruturação, após reflexão na chegada aos 30 anos, resolveram dar um basta à trajetória atual e mudar o status quo. Uma reação a um padrão que não funcionava mais: seja mudança de profissão, emprego, promoção, mudança de cidade, casamento e separação.

21% Frustrado
Estão frustrados por não terem se planejado e, ao fazerem 30 anos, olham para a própria trajetória e comparam com os demais; neste processo sobra a sensação de que ficaram para trás. Apesar da insatisfação não estão planejando mudanças e não veem saídas concretas. As carreiras são menos estabilizadas; têm menor ambição profissional, mas têm esperança de uma vida mais tranquila com carro e casa própria. São supervoltados para a família, pois dela advém a inspiração.

15% em Carreirista
Esse é o que mais se planejou e o que tem um foco mais definido: carreira e sucesso profissional. Trabalhar com o que gosta é o que o mantém na estrada da realização; fez faculdade e cursos de extensão; são batalhadores e racionais. Desejam construir capital, serem reconhecidos e associam a carreira a um investimento para uma vida futura tranquila. Evitam correr riscos e abrem mão da vida pessoal: são os que mais sentem falta de tempo para si – e são os que sabem lidar com a individualidade e têm um grau de realização pessoal relativamente alto.

11% Família Precoce
A maioria dos integrantes deste perfil é formada por mulheres e chefes de família, pessoas que tiveram filhos muito cedo e, consequentemente, tiveram que frear o destino que tinham em mente para cuidar da nova família. Trabalham duro por senso de responsabilidade e se prepararam menos; sentem a falta de oportunidade no mercado e se sentem mais vulneráveis. Há um baixo nível de satisfação profissional, porém, a família tornou-se o centro da vida – mais do que a ligação encontrada em qualquer uma das tribos. Hoje, lutam pela casa própria e procuram uma saída para melhorar a realidade financeira.

8% Zen
Embora sejam menos ligados em dinheiro são mais racionais com os gastos; por conta da crise estão evitando parcelamentos e economizando mais. De olho na estabilidade, correm atrás da casa própria, têm foco na qualidade de vida e o lazer é prioridade. Preferem vivenciar experiências a comprar coisas materiais. Apesar de terem organizado as despesas, os zens têm grande esperança de que as coisas ficarão melhores

7% Realizado
O maior sonho desta tribo é construir uma vida segura e estável com carro e casa própria para gozar da tranquilidade, viver mais experiências como viagens e passeios. Estão pensando em voltar a estudar para conseguir melhor colocação profissional e alcançar esses objetivos.

6% Independente
Mais ousados, os Independentes coroam a individualidade tendo os livros como maior fonte de inspiração. Muitos vieram de famílias desestruturadas e pleitearam a independência como forma de sobrevivência. São pessoas em busca de autoconhecimento e que planejam mudanças na própria vida – sobretudo do ponto de vista profissional, pois tiveram que correr atrás da autonomia financeira muito cedo. O amadurecimento precoce mostra graus de realização baixos. Os maiores sonhos estão relacionados à vivência – é a tribo que mais gosta de viajar e experimentar coisas novas; são mais criativos do que os outros.

4% Deixa a vida me levar
Esse grupo é formado pela maioria de homens. Por serem mais tranquilos e otimistas, possuem uma realização pessoal relativamente alta e têm a família como forma de canalização desta realização. No âmbito profissional, acreditam que o mercado tem poucas oportunidades; têm planos de mudanças, mas poucos são concretos. São acomodados e, embora queiram um recomeço profissional não sabem qual o caminho seguir para a realização. Valorizam a vida tranquila, e almejam ter estabilidade financeira.