FERNANDA PERRIN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro das Relações Exteriores, José Serra, disse que o Brasil deve flexibilizar a tarifa externa comum do Mercosul. “Ficamos excessivamente amarrados à cláusula da união alfandegária do Mercosul. Isso também serviu de pretexto para o Brasil ficar na retranca, porque em toda negociação o Brasil tinha que levar o Mercosul”, afirmou o chanceler em reunião com empresários nesta segunda-feira (20) na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
A ideia não é acabar com a taxa, um dos pontos fundamentais da união entre os países, mas “analisar dados” e “flexibiliza-la” de modo que o Brasil possa iniciar negociações unilateralmente, trazendo os parceiros sul-americanos em um segundo momento.
Atualmente, toda negociação precisa ser feita em conjunto pelos países para que as tarifas de comércio sejam as mesmas para todo o Mercosul. Essa obrigação atrasaria o avanço de negociações com novos parceiros, na visão do ministro.
Exemplos do fracasso dessa abordagem seriam os únicos três acordos que o Brasil firmou no âmbito do Mercosul: com Israel e, “para não ser chamado de pró-semita”, com Egito e Palestina.
Serra também atacou a prática de concessões unilaterais pelo Brasil, quando o país reduz tarifas a produtos estrangeiros sem que o parceiro adote a mesma medida em relação aos produtos nacionais.
“Há uma linha masoquista no Brasil de achar que devemos fazer concessões unilaterais”, afirmou, em referência ao governo Dilma Rousseff, que teria adotado a prática.
O chanceler voltou a mencionar a Argentina como parceiro prioritário do Brasil na região. Ele também citou a China como prioridade, e defendeu a criação de uma área especial do Itamaraty dedicada apenas ao país.
O status da China como economia de mercado deve ser analisado este ano pela OMC (Organização Mundial do Comércio). Nessa matéria, Serra afirmou que o Brasil deve atuar como “observador” e seguir a “média mundial”.
Para analistas, o reconhecimento oficial do gigante asiático como economia de mercado deve dificultar a condenação do país por práticas de dumping, o que cria resistência por parte dos Estados Unidos e da União Europeia.
O ministro atacou políticas protecionistas de países desenvolvidos, que seriam um entrave às negociações multilaterais.
“Sempre fui cético com a rodada Doha pela realidade que se tinha no comércio internacional. Os países mais protecionistas do mundo são os desenvolvidos. É brincadeira infantil o que o Brasil tem na área agrícola perto desses países, como Noruega e Estados Unidos”, disse.
O ministro também comentou mudanças na estrutura de promoção das exportações brasileiras. A Camex (Câmara de Comércio Exterior), que estava no Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio e ocupada pelo “terceiro escalão”, nas palavras de Serra, foi transferida para a órbita da Presidência da República, onde será chefiada por Michel Temer.
A Apex (Agência de Promoção às Exportações), que também estava ligada ao ministério, integrou-se ao Itamaraty, onde será comandado pelo embaixador Jaguaribe, ex-representante brasileiro na China.
Participaram da reunião o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o economista Delfim Neto, os embaixadores Rubens Barbosa e Sérgio Amaral, entre outros.
Skaf defendeu as mudanças no ministério adotadas por Serra e pediu ainda que o Brasil priorize acordos para evitar a dupla tributação no comércio internacional, sobretudo com os Estados Unidos.
Ele também defendeu um retorno do Mercosul “às origens”, com foco em compra e venda entre os países.
Na ocasião, Serra e Skaf assinaram um memorando de colaboração entre as instituições para comércio exterior.